Equador pode confirmar guinada antipopulista 24/02/2017
- O GLOBO
O Conselho Nacional Eleitoral do Equador anunciou que as eleições presidenciais do país terão segundo turno, em 2 de abril.
Lenín Moreno, de 63 anos, candidato da situação para suceder a Rafael Correa, no poder desde 2007, obteve 39,4% dos votos, ficando um pouco abaixo do limite de 40%, necessário para uma vitória em primeiro turno.
Ele disputará a segunda fase do pleito com o ex-banqueiro Guillermo Lasso, de 61 anos, que obteve 28,1%.
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O anúncio ocorreu após momentos de tensão causados por pressão do governo sobre o Conselho.
Pela primeira vez em muito tempo, o resultado do pleito não foi anunciado na mesma noite do dia de votação, o que levou Lasso e correligionários a suspeitarem de uma tentativa de fraude.
O segundo turno poderá confirmar uma tendência de mudança política na América Latina, após mais de uma década de governos populistas de esquerda.
Neste período, as economias de Brasil, Argentina, Venezuela e a do próprio Equador afundaram em crises distintas em seus efeitos, mas todas com a mesma raiz: o intervencionismo do Estado sobre a economia.
Para analistas e investidores, estas eleições representam a oportunidade de o país dar uma guinada, buscando corrigir os erros estruturais de uma economia dolarizada — o que limita drasticamente suas opções de política monetária —, com déficits insustentáveis e excessivamente dependente do petróleo — cuja cotação só agora começa a se recuperar, após despencar mais de 80%, a partir da crise global de 2008.
Só mesmo uma reforma completa poderá atrair investimentos externos — ausentes do país depois das nacionalizações de ativos estrangeiros feitas por Correa, além do calote de US$ 3,2 bilhões da dívida externa em 2008 — e estimular a produtividade, invertendo o aumento do desemprego e do endividamento público.
A economia do Equador encolheu 2,3% no ano passado, e analistas ouvidos pela Bloomberg preveem, no máximo, um avanço de 0,4% do PIB este ano.
Confrontado pela realidade da crise, até mesmo Moreno, ex-vice-presidente de Correa (2007-2013), e seu herdeiro político, se viu obrigado a reconhecer a necessidade de implementar reformas.
E esta é uma das vantagens da realização de eleições regulares: além de dar maior legitimidade, exige do governante a constante reavaliação das políticas públicas, sobretudo quando elas levam 16 milhões de pessoas à recessão e ao desemprego.
Lasso, por sua vez, prometeu manter alguns dos programas sociais de Correa, populares entre os segmentos mais pobres.
Ele também se comprometeu a combater a corrupção — outra praga do populismo latino-americano — e reduzir impostos em US$ 3 bilhões, como forma de estimular a criação de empregos e atrair investimentos estrangeiros.
Austera, sua plataforma representa a chance de o Equador desatar o nó dado pelo bolivarianista Correa.