Niemeyer: 100 anos de um brasileiro apaixonado pelas curvas 15/12/2007
- Renata Granchi - G1
Arquiteto faz aniversário neste sábado (15) privilegiando o belo sobre o funcional. Mundialmente reconhecido, ele tem obras na Itália, França e Argélia.
O arquiteto Oscar Niemeyer, que completa cem anos neste sábado (15), é um apaixonado pelo Brasil. Conhecido por projetar obras de concreto armado, criou prédios que poderiam ser considerados esculturas, entre eles, os prédios da capital federal, Brasília.
Niemeyer é um apaixonado pelo trabalho e desenhar é a sua vida, de acordo com parentes e amigos próximos. As curvas das montanhas brasileiras e das ondas do mar são imagens que o inspiram. Certa vez, ele disse:¨Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito”.
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Ainda jovem, Niemeyer foi discípulo do arquiteto francês Le Corbusier, um dos mais importantes do ramo. Seu talento impressionou o mestre e, anos mais tarde, Niemeyer ganhou o mundo com projetos ousados e revolucionários. Itália, França, Argélia e até a Organização das Nações Unidas (ONU) conheceram os traços desse brasileiro.
Suas idéias revolucionaram a arquitetura e ainda hoje geram polêmica. Segundo Niemeyer, a arquitetura não tem que ser funcional, mas bela. E assim ele fez.
“Faço arquitetura que me agrada, uma arquitetura ligada às minhas raízes e ao meu país”, disse Niemeyer no livro de frases “Traço, palavra, forma”.
Ele começou a fazer nome em Minas Gerais. Projetou igrejas, prédios, escolas. Essa primeira série de obras começou a dar uma cara mais urbana e moderna ao Brasil e marcou, também, sua parceria com o amigo e então governador Juscelino Kubistchek.
A amizade se concretizou numa cidade inteira: Brasília. Com traços ousados, o filho do modernismo que adotou o concreto armado para criar a capital do país, criou o Itamaraty, o Alvorada, o Congresso, a Catedral, a Praça dos Três Poderes, entre outros prédios e monumentos. E fez história.
“Nós começávamos a imaginar quando é que Brasília iria surgir. De repente, aparecia uma mancha azul no horizonte. Ela ia crescendo. Depois apareciam os contornos e começávamos a dizer: ali é o Teatro, lá é o Congresso, a Torre. Brasília surgia como num passe de mágica, um milagre”, contou.
Comunismo
O reconhecimento mundial, no entanto, não fez Niemeyer ficar deslumbrado. Conhecido pela sua simplicidade, nem mesmo os anos 60 e a ditadura militar fizeram com que ele desistisse de suas convicções comunistas. Até hoje ele gosta de falar sobre o assunto.
A generosidade é outra característica do arquiteto. Numa ocasião, ao descobrir que o líder comunista Luis Carlos Prestes não tinha onde morar, comprou um apartamento para ele e cedeu seu próprio escritório para o amigo trabalhar. Com tudo dentro. É o jeito Niemeyer de ser: trabalhar para ganhar dinheiro e compartilhar tudo com amigos e familiares.
Apesar de tanto sucesso - recebeu todos os prêmios imagináveis, incluindo o prestigioso Pritzker em 1998 e a Ordem do Mérito Cultural este ano - Oscar Niemeyer é um homem modesto. Para os íntimos, ele confessa que não consegue entender a razão de tanta reverência. “Trabalhei muito, fiz meu trabalho na prancheta, como um homem comum...”, insiste.
Atualmente, o arquiteto se dedica integralmente ao projeto de um Centro Cultural na Espanha e vistoria as obras do caminho Niemeyer, em Niterói, região metropolitana do Rio. Depois ele pretende trabalhar no projeto de um outro centro cultural. Desta vez, no Chile.
Outras paixões
Mas não é somente a arquitetura que chama a atenção de Oscar. Futebol, mais especificamente o Fluminense, é tema de debates calorosos entre ele e seus amigos nos finais de tarde do seu escritório em Copacabana, na Zona Sul. O arquiteto chegou a jogar no time juvenil do clube de Laranjeiras.
A paixão do arquiteto pelas curvas é outro assunto que ele gosta de falar. Principalmente sobre seu sentimento e admiração pelas formas femininas. “Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos sentidos, nas nuvens do céu. No corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo”, explica o mestre.