Falta de mão-de-obra qualificada vai custar R$ 5,1 bi à construção civil 16/12/2007
- Agnaldo Brito - O Estado de S.Paulo
Pesquisa da Escola Politécnica da USP mostra abismo entre a oferta e a demanda por profissionais capacitados
O preço que o Brasil terá de pagar para resolver a falta de mão-de-obra na construção civil de edificações chega a R$ 5,1 bilhões. Esse é o custo estimado para a geração de vagas em cursos de capacitação e na certificação de trabalhadores. A situação é considerada emergencial.
A retomada dos investimentos na construção civil, que este ano receberá mais de R$ 23 bilhões, se depara agora com um abismo entre a oferta de vagas e a necessidade real de formação.
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O Estado teve acesso, com exclusividade, a uma pesquisa feita pelo Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). O trabalho foi encomendado pela Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).
O trabalho levantou iniciativas privadas e públicas para formação (da mais simples à mais completa) e descobriu que o País precisa multiplicar por mais de 13 vezes a oferta.
O número de vagas disponíveis em cerca de 20 iniciativas públicas e privadas chegou a 617 mil matrículas nos últimos cinco anos. Segundo o estudo da Poli, a demanda atual - sem considerar a expansão do setor da construção - é de 8,4 milhões de matrículas, seja para garantir a alfabetização, seja para qualificação e certificação profissional.
“Nunca tivemos dúvidas de que os números eram ruins”, comenta Melvyn David Fox, presidente da Abramat. “Mas a realidade é ainda mais surpreendente. Os números são piores do que poderíamos imaginar.”
O levantamento também observou a estrutura nacional pública e privada para qualificar trabalhadores de todos os setores da economia e constatou que o investimento total é de R$ 18,7 bilhões por ano. Apenas uma fração desse dinheiro irriga a modesta estrutura de formação do setor da construção.
Segundo Fox, o segmento de edificações da construção representa 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. “Se o equivalente a essa participação fosse extraído dos R$ 18,7 bilhões e entregue ao setor, poderíamos criar uma estrutura para formação de trabalhadores”, afirma. “Resolveríamos nossa deficiência em sete anos.”
SISTEMA NACIONAL
O trabalho foi apresentado aos Ministérios das Cidades, do Desenvolvimento Social, do Trabalho e da Educação. A idéia é negociar com o governo federal a criação de um Sistema Nacional de Capacitação e Certificação Profissional. “O governo entendeu a necessidade de atacar esse problema”, revela o presidente da Abramat. “Acho que essa nova estrutura deverá ser anunciada em breve.”
A estrutura ficará ancorada no Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Hábitat (PBPQ-H), coordenado pelo Ministério das Cidades, e tem como objetivo organizar os recursos e os esforços para capacitar, qualificar e certificar trabalhadores. Será a primeira iniciativa do tipo no setor.
Segundo a pesquisadora do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli, Mercia Semensato de Barros, a iniciativa pode melhorar a situação profissional de 2,3 milhões de trabalhadores, a maior parte informais.
O plano inclui a criação de critérios para certificar um profissional, desde o nível mais básico até o mais avançado. “É um modelo inclusivo, que pode estimular muitos trabalhadores a buscar a formação básica ou a qualificação profissional”, afirma Mercia.