Nada do coco é descartado e tudo é aproveitado 20/04/2018
- AGÊNCIA FRANCE PRESSE
Cerca de 200 quilômetros ao norte de Salvador, na Bahia, Frysk Industrial, uma subsidiária do grupo americano-brasileiro Aurantiaca, produz água e leite de coco, surfando no consumo crescente no Brasil e nos Estados Unidos.
Mas está fora de questão descartar as cascas na natureza: a empresa está comprometida com a reciclagem de 100% de sua matéria-prima.
O desafio é grande: em 2015, os 1,9 bilhão de cocos colhidos no Brasil geraram 2,7 milhões de toneladas de resíduos.
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Embora não existam estatísticas oficiais, a Embrapa, instituto público de pesquisa agrícola, estima que menos de 2% dos resíduos foram reciclados.
Abandonadas na natureza, as cascas da fruta demoram em média doze anos para se decompor.
“Nós conseguimos explorar toda a casca para produzir produtos naturais e biodegradáveis”, explicou à AFP Isomar Martins dos Santos, de 50 anos, gerente de Fibraztech, a marca de fibras de coco Aurantiaca.
Costuradas em uma rede fotodegradável, as fibras secas podem ser depositas nas margens de um rio e evitar a erosão do solo, ou serem aplicadas em encostas degradadas e facilitar o crescimento da vegetação.
“Depois das plantações, este tapete vegetal vai impedir que as sementes sejam levadas pela água da chuva. Também irá manter o solo úmido até a germinação. Em seguida, se decompõe e dá lugar à vegetação”, salienta.
Seco e reduzido a pó, o coco verde também pode ser usado como substrato agrícola ou fertilizante orgânico.
“A estrada ainda é longa porque muitas empresas desfibram apenas as cascas de seus cocos” sem reciclar e as estocam “até se decomporem”, admite Maria Urbana Corrêa Nunes, pesquisadora da Embrapa.
COQUEIROS COM CÓDIGO DE BARRAS
Entre os pioneiros da reciclagem, Aurantiaca que comercializa água de coco desde 2014, não tem dificuldade na aquisição de matéria-prima: Frysk Industrial compra coco de muitos pequenos produtores e se apoia nos coqueirais do grupo.
O grupo instalou-se em Conde, até então especializado na produção de coco seco a partir do qual é extraído o leite de coco. Adquiriu quase 7.200 hectares de terras, incluindo 2.100 ha de plantações.
No meio dos coqueiros que descem as encostas das colinas em direção à praia, dez quilômetros abaixo, Ronivon Ribeiro, de 33 anos, levanta o braço e corta com um facão um cacho carregado com uma dúzia de frutas.
Ele não escolheu este cacho aleatoriamente: cada coqueiro da plantação é dotado de um código de barras e uma sonda para determinar suas necessidades precisas em irrigação e fertilizantes.
“Cada trabalhador rural é responsável por uma área de 25 hectares. Tenho que limpar o solo, controlar a irrigação, garantir que não haja pragas e doenças, mas também colher a fruta madura”, diz Ronivon Ribeiro, originário da região.
Na aproximação do amadurecimento, frutos de referência são escolhidos de cada cacho para medir a concentração de açúcar da água, o que determinará o momento exato da colheita.
A concentração desejada é atingida em média seis meses após a floração.
“Na plantação, nosso objetivo é preparar a fruta para a produção industrial de água de coco. Optamos por não adicionar açúcar à água engarrafada e vender um produto natural. Devemos estar atentos e aguardar o amadurecimento ideal do coco”, explica Luis Carlos dos Santos Pereira, 45 anos, coordenador do coqueiral.
Quarto produtor brasileiro de água e leite de coco, Aurantiaca exporta atualmente 20% de sua produção e projeta exportar 75% até 2025.
Três cocos são necessários para produzir um litro de água de coco.
E o grupo planeja ir mais longe com a reciclagem.
“Nosso próximo projeto é implantar uma unidade de biomassa e utilizar as cascas de coco verde para produzir energia, para nos tornarmos autossuficientes e aliemntar a rede regional”, aponta Roberto Lessa, seu diretor-geral.