Setor de proteína aninal só tem como tratar aves e porcos até amanhá, quinta 30/05/2018
- O Estado de S.Paulo
Em reunião encerrada na tarde de ontem com o setor de proteína animal, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, comunicou que a cadeia produtiva tem condições de tratar os plantéis de aves e suínos apenas até amanhã, quinta, caso a paralisação dos caminhoneiros não se encerre no curto prazo.
“O setor, que é altamente encadeado e já está capengando (com a greve), pode entrar em colapso”, disse Maggi, após encontro paralelo durante o Fórum de Investimentos Brasil 2018, em São Paulo.
Participaram da reunião o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, e o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Rui Vargas.
PUBLICIDADE
Maggi ressaltou não estar fazendo este alerta para o governo, que já tem conhecimento da situação, mas para os caminhoneiros que ainda estão parados e também para a população, que corre risco de desabastecimento.
“Deve-se alertar a população para o que está por vir pela frente”, disse ele, informando que a capacidade diária de abates de aves é de 23 milhões de aves, e provavelmente elas não serão abatidas.
“Essas aves entrarão em colapso e vão morrer por falta de comida”, assinalou. “E se não tem como alimentar os animais e abater, vai faltar (carne) também para a população.”
O ministro afirmou também que há risco de alta nos preços da carne de frango por causa da escassez que pode ocorrer, o que vai certamente afetar a população mais pobre, grande consumidora da proteína.
Outra questão delicada, acrescentou, diz respeito ao setor de genética avícola, que o Brasil não só produz, como exporta.
“Temos as bisavós, as avós e as matrizes, que vão gerar os ovos que serão os pintinhos e futuros frangos de corte”, explica.
“Há preocupação imensa na cadeia com o risco de perda dessa genética.”
Para o ministro, o País pode passar de exportador de carne e de genética avícola a importador, caso a cadeia “se quebre” se a paralisação dos caminhoneiros se prolongar.
“Podemos demorar pelo menos dois anos e meio para recuperar essa genética; vamos perder a sequência do que nós conquistamos.”
Falando de forma bastante impositiva, o ministro alertou que se trata de uma situação muito delicada e pediu aos caminhoneiros que tenham consciência.
“Há caminhoneiros que praticamente são reféns nas estradas e estão sendo impedidos de voltar a trabalhar com medo de depredarem o caminhão. Temos notícias disso”, relatou ele, defendendo que o governo use, a partir de agora, de “uma força mais forte” para retirar os bloqueios.
“Talvez a única alternativa que resta agora é o uso da força, colocar o Exército na rua, as forças de segurança, para desobstruir”, disse.
“Não é o Brasil inteiro que está parado, são pontos que estão parados e que podem ser desobstruídos para essas mercadorias circularem.”
Quanto ao embargo das carnes bovina in natura e da carne de frango à União Europeia e a possibilidade de o movimento dos caminhoneiros de alguma maneira arranhar a imagem do País lá fora, Maggi disse que esses reflexos não são importantes agora.
“Para exportar para a União Europeia e para os Estados Unidos precisamos ter produto para vender e hoje não temos”, disse.
“O mais grave é que pode faltar alimento para a população brasileira. É disso o que eu estou falando.”