As armas e os gostos da bolsonarista Magda Mofatto, a deputada (oficialmente) mais rica do Congresso 30/06/2018
- BRUNO GÓE - ÉPOCA
Em sua casa em Caldas Novas, interior de Goiás, a deputada Magda Mofatto (PR-GO) guarda várias armas de fogo. Sua preferida é a pistola Walther .22, de fabricação alemã.
Ao manejá-la, descreve a ergonomia do objeto, de “encaixe perfeito” nas mãos.
Para exercer o “direito à legítima defesa”, ainda é dona de uma pistola Glock .380, de fabricação austríaca.
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Aos 69 anos, Magda Mofatto é a deputada federal mais rica da Câmara, com patrimônio de R$ 21 milhões, e uma das mulheres mais entusiasmadas com a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República.
Nos almoços e jantares organizados em Brasília pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) para arregimentar apoio de deputados à campanha do ex-capitão do Exército, Mofatto se destaca por ser a única mulher — ela não se lembra de outra presença feminina nas reuniões.
A principal bandeira de Mofatto é o fim do Estatuto do Desarmamento — e seu apoio a Bolsonaro está diretamente ligado ao crescimento da violência no campo e nas cidades médias de Goiás.
Ela explicou tratar-se de um assunto que afeta diretamente todas as camadas da população, “uma preocupação geral”.
Em seu ponto de vista, exposto com voz pausada e argumentos cautelosos, Bolsonaro é o candidato presidencial que trata o tema com a “firmeza necessária” e que “vai dar conta” da situação, “apesar das bobagens que fala”.
Assim como Mofatto, o ex-capitão é a favor da revisão da maioridade penal e do Código Penal para elevar penas de crimes violentos e contra as “audiências de custódia” e o Estatuto do Desarmamento.
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Mofatto cerra fileiras com a bancada da bala nas redes sociais e na TV. A bandeira do armamento foi tema de uma inserção publicitária do Partido da República (PR) em Goiás, na qual há uma encenação em que ladrões armados tentam assaltar um supermercado. O dono do estabelecimento, também armado, responde com uma saraivada de tiros e afasta os bandidos do local. É quando Mofatto entra em cena para dizer: “Se todo bandido achar que vai ser recebido à bala, não vai ter meliante querendo correr o risco. Entre nesta luta do PR pela liberação do comércio de arma de fogo”. No perfil da deputada no Facebook, o vídeo teve 556 mil visualizações.
A deputada publicou também nas redes sociais uma foto ao lado da policial Kátia Sastre, policial militar do estado de São Paulo que reagiu a um assalto em frente a uma escola e matou um bandido. Após o vídeo da morte do criminoso viralizar nas redes sociais e ela ser homenageada pelo governador de São Paulo, Márcio França (PSB), Sastre filiou-se ao PR. Ela concorrerá a uma vaga de deputada federal, assim como Mofatto.
A favor do armamento, o PR ajuizou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão. O partido pede que a Câmara dos Deputados, o Senado e a Presidência da República sejam obrigados a editar normas para regulamentar a comercialização de armas de fogo no Brasil, já que o assunto foi tratado no referendo de 2005. A ação está no gabinete do ministro Celso de Mello. Mofatto esteve em audiência com a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, para cobrar o julgamento da ação.
Para ela, o processo para que uma pessoa tenha o porte de arma deve ser semelhante ao do Detran para a carteira de motorista. “Com responsabilidade e teste psicotécnico.” Mofatto contou que gostaria de andar sempre armada, mas não conseguiu tirar o porte de arma. Tem apenas a posse, o que a impede de sair na rua com a Walther. “Olharam para minha cara e disseram que eu não poderia. É subjetivo. Ou o policial vai com sua cara ou não.”
Apesar de ser sua principal bandeira, Mofatto não quis ser fotografada manuseando suas armas. Após mostrar as duas Harley-Davidson que possui estacionadas na garagem de casa, exibiu a Glock e a Walther, mas sentiu receio de que a imagem circulasse e pudesse ser explorada de forma negativa. “Uma vez uma senhora me parou na rua e disse: ‘Votei em você. É isso mesmo. Bandido bom é bandido morto’. Agradeci, mas não é isso o que digo na campanha. Minha causa é a legítima defesa.”
Mofatto disse que muitas mulheres pedem ajuda para saber o que fazer quando moram sozinhas, em lugares isolados. Ela orienta que procurem a Polícia Federal para requisitar porte de arma. Bolsonaro obtém muito mais apoio entre homens do que entre mulheres. Segundo a última pesquisa do instituto Datafolha, nos cenários em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está fora do páreo, Bolsonaro tem 26% das intenções de voto entre os homens. Entre as mulheres, o índice do pré-candidato do PSL murcha para 12%. Mofatto tentou esboçar uma teoria para tal discrepância. “Plantaram em cima dele uma aversão às mulheres. E também pela procedência dele, capitão do Exército, a esquerda faz uma campanha muito forte contra ele.” Sobre o fato de Bolsonaro ter dito à deputada Maria do Rosário (PT-RS) que não a estupraria porque ela “não merecia”, Mofatto reconheceu que seu candidato “foi infeliz na colocação”. Entretanto, ressaltou que a única coisa que Bolsonaro quis dizer era: “Eu não faria amor com você”.
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Helicópteros e "namorido" julgado por tortura: como vive a deputada federal mais rica da Câmara
Magda é dona de empreendimentos que incluem parques temáticos, condomínios e hotéis
BRUNO GÓES, DE CALDAS NOVAS
29/06/2018 - 13h01 - Atualizado 29/06/2018 19h04
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Magda Mofatto e seus dois helicópteros estacionados às margens do Lago Corumbá I, em terreno de seu namorado, Flávio Canedo, presidente do PR de Goiás e condenado por tortura em primeira instância (Foto: JORGE WILLIAM/AGÊNCIA O GLOBO)
Magda Mofatto e seus dois helicópteros estacionados às margens do Lago Corumbá I, em terreno de seu namorado, Flávio Canedo, presidente do PR de Goiás e condenado por tortura em primeira instância (Foto: JORGE WILLIAM/AGÊNCIA O GLOBO)
Nascida em Limeira, São Paulo, a deputada federal Magda Mofatto (PR-GO) – a mais rica da Câmara, com patrimônio de R$ 21 milhões – administra hoje negócios milionários em Caldas Novas, cidade conhecida pelas águas termais e por parques aquáticos e por ser um dos destinos turísticos mais procurados do Centro-Oeste. Na cidade goiana, ela é dona de um império imobiliário, que inclui a administração de 11 condomínios, parques temáticos, dois hotéis e uma construtora própria para erguer edifícios na cidade. Foi vereadora do município por três vezes e prefeita cassada, em 2007, por compra de votos.
Dentro de seu Range Rover, de óculos escuros e os cabelos presos, Mofatto apresentou a cidade a ÉPOCA durante um tour de quase quatro horas, com a devida pausa para o almoço, para que todos os seus negócios fossem apresentados. “Esse condomínio, eu construí”; “esse também”; “aquele prédio está quase acabando de ser construído”, dizia a cada parada. “Essa calçada, eu que fiz, o prefeito não faz nada, um absurdo”; “aquele outro condomínio, eu também fiz.”
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Com o passo apressado, a deputada caminhou por suas propriedades e foi reconhecida por funcionários e habitantes da região. Ao sair do Jardim Japonês, ponto turístico também construído por ela, foi apontada por um grupo de adolescentes: “Olha, é a Madga, é a Magda”. “Você viu? Aqui é assim”, disse ela. Ao entrar em cada um de seus condomínios, dirigia a mesma pergunta aos funcionários: “Quantos anos de casa?”. A resposta oscilou de cinco a 30 anos.
Parte dos negócios da deputada foi batizada com a redução “Roma”, junção de Rodolfo, seu antigo “namorido”, e Magda.
Ela disse que seu primeiro empreendimento, um hotel, foi feito na casa do ex-companheiro, mas resolveu manter a marca até hoje.
“As pessoas dizem que me aproveitei do dinheiro dele, mas fiz tudo sozinha”, registrou.
Apesar de manter o selo para os negócios, Mofatto insinuou, em tom de galhofa, que a denominação é fonte de dor de cabeça, pois o atual “namorido” tem ciúmes.
Trata-se de Flávio Canedo, presidente do PR em Goiás, a quem Mofatto confiou sua articulação política.
Em espaço contíguo a um de seus hotéis, em terreno arborizado, fica o escritório político da deputada. Lá, recebe vereadores, deputados e faz reuniões para traçar a estratégia de campanha.
Canedo participa dos encontros e comanda as tratativas.
O presidente do PR e “namorido” de Mofatto foi condenado por tortura em primeira instância.
Em 2002, no mesmo Jardim Japonês, em Caldas Novas, Canedo e mais duas pessoas teriam torturado Frederico Daniel de Carvalho.
Os três suspeitavam que ele tivesse roubado uma espingarda. Para arrancar uma confissão e recuperar a arma, golpearam a vítima nas costas com um porrete de madeira.
Depois, sua cabeça foi submersa em uma bacia com água, além de amarrarem sua língua com um cordão fino e puxarem.
Conseguiram a confissão.
Mofatto atribuiu a abertura do processo a “perseguição política”. Reconheceu que de fato houve o roubo, mas alegou que Canedo “não estava presente” no momento do ato de vingança.
Ainda não houve nenhuma punição porque o caso se arrasta no Judiciário.
Depois de ir para o Tribunal de Justiça de Goiás, retornou à Comarca de Caldas Novas, segundo o Ministério Público.
Mofatto e Canedo são companheiros, mas moram em casas separadas. No terreno de Canedo, às margens do Lago Corumbá I, estão estacionados os dois helicópteros de Mofatto e o barco La Dolce Vita, com capacidade para 45 pessoas.
Na propriedade, os equipamentos possantes dividem espaço com pavões, macacos-prego e gatos. Não é tão harmônico quanto pode parecer.
Apesar da paisagem exuberante e da fauna exótica, os primatas insistem em roubar comida e objetos. Os pavões, para infortúnio do casal, adotaram um local inapropriado para defecar: o La Dolce Vita.
Mofatto tem licença para pilotar e costuma ir a Brasília de helicóptero, trajeto de uma hora. Para abastecer a aeronave, usa o dinheiro da cota parlamentar, uma despesa permitida pela Casa.
Em abril, por exemplo, a Câmara pagou R$ 1.931,20 em querosene de aviação para a deputada.
Como parlamentar, Mofatto tem atuação discreta. Faz poucos discursos em plenário e concentra seus esforços nas pautas de geração de emprego e segurança pública.
Com a escalada da violência no país, o segundo tema ganhou mais importância para seu mandato.
Mofatto disse que, antes de aderir a Bolsonaro, votou em Lula nas duas vezes em que o ex-presidente foi eleito.
Segundo ela, foi fundamental a garantia de estabilidade dada por José Alencar, o ex-vice-presidente filiado ao PR, por quem tinha apreço.
Ela disse que não engoliu, porém, o “desrespeito” dos governos petistas pelo resultado do referendo de 2005, no qual o “não” ao desarmamento saiu vencedor com 63% dos votos.
“O governo desarmou a população, mas não consegue desarmar o bandido”, desabafou.