Maggi quer revisão de dados sobre desmatamento 28/01/2008
- José Maria Tomazela e Herton Escobar - O Estado de S. Paulo
Governador de Mato Grosso disse considerar que a divulgação dos números faz parte de uma briga entre ministérios por verba
O governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), vai sugerir ao governo uma revisão nos números sobre o desmatamento na Amazônia. Ele acha que, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) admitiu erro nos números referentes a um período do ano passado, pode ter havido diferença também em anos anteriores.
¨Será que os números que nós divulgamos até hoje são corretos? Temos mesmo 17% da Amazônia ocupados? Acho que o correto é rever tudo¨, disse.
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Ele vai propor ao governo que, daqui para a frente, os números levantados pelo Inpe sejam confrontados com aqueles apurados pelos Estados.
¨Para evitar o que houve, acho que os dados que os Estados e o Inpe têm devem ser compartilhados previamente. Às vezes, as metodologias usadas são conflitantes.¨
O governador admitiu que ficou ¨muito desconfortável¨ com a divulgação dos números que detectaram um crescimento nas áreas desmatadas no Estado. ¨Todos os indicativos que tínhamos apontavam numa direção oposta¨, afirmou.
Como exemplo, citou que áreas abertas há muito tempo, já incluídas em estatísticas anteriores, voltaram a ser consideradas como desmatamento recente. ¨Não vou aceitar que o Mato Grosso fique numa estatística que não está correta.¨
Dos 3.233 km² de derrubada detectados pelo Sistema de Desmatamento em Tempo Real (Deter) entre agosto e dezembro, 1.786 km² seriam no Estado. Para Maggi, a checagem feita pelos técnicos nas áreas indicadas pelo Deter entre abril e setembro de 2007 mostra que mais de 80% delas são desmatamentos antigos.
O governador disse considerar que a divulgação dos números faz parte de uma briga entre os ministérios pelo Orçamento da União, que ficou reduzido em razão do fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). ¨Como o dinheiro da CPMF vai ter que ser cortado de alguém, de quem tem mais problema não corta¨, disse, numa referência ao Ministério do Meio Ambiente. ¨Não estou afirmando que é isso, mas pode ser.¨
No domingo, o Estado revelou que os números divulgados pelo Inpe, em outubro, sobre o desmatamento na Amazônia estavam errados.
Os dados mostravam que a taxa de derrubada da floresta havia aumentado 8% nos meses de junho a setembro em comparação com o mesmo período de 2006 - incluindo um aumento explosivo de 600% dos índices em Rondônia. A área desmatada de fato, porém, foi bem menor do que o divulgado.
Segundo o novo relatório, o desmatamento em agosto na Amazônia foi de 243 quilômetros quadrados, e não 723 km², como divulgado em outubro - uma redução de 66%. Com relação a setembro, a estimativa foi reduzida de 1.424 km² para 632 km² desmatados - diferença de 55%.
Os números revisados para junho e julho não foram divulgados pelo Inpe, por isso não foi possível calcular a variação acumulada dos quatro meses.
Em Rondônia, o desmatamento foi bem menor do que o originalmente divulgado. Em agosto, foram derrubados 54 km² de floresta, e não 179 km². Em setembro, o número foi corrigido de 295 km² para 84 km². Todos os outros Estados da Amazônia também tiveram desmatamento menor do que o divulgado em outubro.