Em 11 anos, agropecuária avança área equivalente a Portugal, Bélgica e Dinamarca 27/07/2018
- O Estado de S.Paulo
A fronteira agropecuária avançou em 16.573.292 hectares do território nacional entre 2006 e 2017.
O resultado equivale a dizer que a agropecuária nacional somou aos seus domínios uma área equivalente aos territórios inteiros de Portugal, Bélgica e Dinamarca juntos.
Os dados, do Censo Agropecuário 2017, foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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O Brasil tem atualmente 350.253.329 hectares pertencentes a 5.072.152 estabelecimentos agropecuários.
A área ocupada por estabelecimentos agropecuários em 2017 foi 5% maior que no censo anterior, realizado em 2006.
“Atualmente, 41% do território brasileiro está ocupado com estabelecimentos agropecuários”, disse Antonio Carlos Florido, coordenador técnico do Censo Agropecuário.
A expansão dos últimos 11 anos foi concentrada nos grandes estabelecimentos, já que a área ocupada pelos pequenos produtores ficou praticamente estagnada.
São 16,3 milhões de hectares a mais e 3.287 mais estabelecimentos entre as propriedades com mil hectares ou mais, maior faixa por extensão na classificação do IBGE.
Os grandes produtores, que detinham 45% das terras de estabelecimentos agropecuários em 2006, elevaram sua fatia para 47,5%.
O Censo de 2017 deixou de contar como estabelecimentos os trabalhadores que fazem algum tipo de pequeno cultivo nas propriedades onde trabalham.
Essa mudança metodológica explica o recuo de 2% no total de estabelecimentos agropecuários no País nos últimos 11 anos, 103.484 unidades a menos.
PARÁ E MATO GROSSO AVANÇAM, NORDESTE RECUA
Os Estados do Pará e Mato Grosso tiveram os maiores aumentos de áreas agrícolas nos últimos 11 anos. No Nordeste, porém, houve uma perda de 9,9 milhões de hectares.
No Nordeste, a área agrícola ficou 9.901.808 hectares menor, o que equivale a aproximadamente o Estado inteiro de Pernambuco a menos na agropecuária local.
Segundo Antonio Carlos Florido, coordenador técnico do Censo Agropecuário, o fenômeno pode ter relação com a seca prolongada.
“Foram cinco anos direto de seca no Nordeste, então você chega lá e não tem mais nada. Tem uma área enorme entre a Bahia e o Rio Grande do Norte que já tem um processo avançado de desertificação. Não dá mais nada na terra, então tem gente que estava produzindo e saiu dali”, afirmou Florido.
Em 2017, a área total ocupada por estabelecimentos agropecuários em todo o País cresceu 5,0% em relação ao censo de 2006, com 16.573.292 hectares a mais, o equivalente a aproximadamente a área do Acre.
No Pará, a área agrícola cresceu de 22,926 milhões de hectares em 2006 para 29,678 milhões de hectares em 2017. Em Mato grosso, houve avanço de 48,689 milhões para 54,831 milhões no mesmo período.
No total do País, parte das lavouras permanentes cedeu espaço às temporárias.
Quase 10 milhões de pastagens naturais foram substituídas por pastagens plantadas. Em 11 anos, cresceu o total de terras com matas naturais e matas plantadas.
A silvicultura teve um salto de 79,2% em 2017 ante 2006.
A área produtiva, ocupada por lavouras permanentes, lavouras temporárias, pastagens naturais, pastagens plantadas e matas plantadas aumentou 5.105.408 hectares, passando de 225.368.857 em 2006 para 230.474.265 em 2017.
MULHERES
As mulheres estão mais presentes na agropecuária brasileira: a cada dez chefes de fazenda, dois são do sexo feminino.
Ainda segundo os dados preliminares do Censo Agropecuário, em igual período aumentou a proporção de dirigentes de estabelecimentos agropecuários no País do sexo feminino.
O porcentual de entrevistas autodeclaradas como responsáveis pelo agronegócio aumentou de 12,68% em 2006 para 18,64% em 2017.
O IBGE coletou também informações sobre cogestão de estabelecimentos agropecuários por casais.
Se somadas as mulheres que também administravam os estabelecimentos junto com os maridos, o porcentual de dirigentes do sexo feminino no agronegócio era de 34,75% em 2017: 945.490 responsáveis autodeclaradas e 816.926 em direção conjunta com companheiros, totalizando 1.762.416 de mulheres chefiando a produção agropecuária no País.
“Tem mais mulheres como produtoras, como gerentes e responsáveis pelas atividades dos estabelecimentos agropecuários”, disse Florido.
Quanto à idade, houve redução na participação dos mais jovens entre os produtores: a proporção de menores de 25 anos passou de 3,30% em 2006 para 2,03% em 2017; a faixa de 25 a menos de 35 anos saiu de 13,56% para 9,49%; e os de 35 anos a menos de 45 anos diminuíram de 21,93% para 18,29%.
Ao mesmo tempo aumentou a proporção de produtores mais velhos: de 45 anos a menos de 55 anos (de 23,34% para 24,77%); de 55 anos a menos de 65 anos (de 20,35% para 24,01%); e de 65 anos ou mais (de 17,52% para 21,41%).
Segundo Florido, o fenômeno é explicado pelo envelhecimento da população e pela falta de sucessão no comando das propriedades, com os jovens migrando para outras atividades.
Do total de produtores, 15,5% declararam que nunca frequentaram escola; 29,7% não passaram do nível de alfabetização, e 79,1% não foram além do nível fundamental.
Além disso, 1.163.354 produtores (23,05%) declararam não saber ler e escrever. Apenas 0,29% dos produtores (14.449) frequentaram mestrado ou doutorado, e 5,58% (281.606) cursaram ensino superior.
A maioria dos produtores se autodeclara de pele preta (422.595 pessoas ou 8% do total) ou parda (2.242.993 ou 44% do total); os produtores que se autodeclaram de pele branca são 2.291.153 pessoas ou 45% do total.
Os indígenas são apenas 1% dos produtores, 56.183 pessoas, enquanto os de pele amarela totalizam 0,6%, 33.463.
CRIANÇAS
O Brasil tem mais de meio milhão de crianças trabalhando no campo. Ao todo, são 587.805 trabalhadores com até 13 anos de idade, atuando em estabelecimentos agropecuários: 329.096 meninos e 258.709 meninas.
“Existe uma questão, muitas vezes cultural, em que todos da família ajudam na atividade, inclusive os menores”, opinou Antonio Carlos Florido.