Argentina e Austrália serão os maiores beneficiados 30/01/2008
- BBC
Produtores argentinos e australianos podem ser os maiores beneficiados pelo embargo imposto pela União Européia
BEnquanto o Brasil tenta buscar alternativas no mercado europeu para vender sua carne, os produtores argentinos podem ser os maiores beneficiados pelo embargo imposto pela União Européia (UE) à carne brasileira. Importadores de Bruxelas e da Grã-Bretanha disseram à BBC Brasil que pretendem compensar a falta de carne brasileira com produtos da Argentina e Austrália.
¨Em termos de qualidade, não há diferença. A verdade é que nunca precisamos da carne brasileira. Compramos do Brasil porque é mais barato e o país é capaz de fornecer em maiores quantidades¨, afirmou um importador que não quis se identificar.
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Entretanto, o conselheiro argentino de Agricultura para a UE, Gustavo Idígoras, assegura que o país não tem capacidade para suprir a parcela de mercado que será deixada pelo Brasil. As exportações de carne brasileira para a UE somaram US$ 1,4 bilhão no ano passado, com um total de 543 mil toneladas. Já a Argentina exportou 80 mil toneladas de carne à UE. A expectativa do governo é que esse volume suba para, ¨no máximo¨, 100 mil toneladas em 2008.
¨Temos uma política que dá prioridade ao mercado interno e limita o volume permitido para exportação. Com nossa atual capacidade de produção, não esperamos um aumento significativo nas exportações¨, explicou Idígoras.
No lado brasileiro, o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Jorge Camardelli, disse que os produtores brasileiros vão usar de ¨criatividade¨ para buscar outros mercados para substituir os europeus.
No ano passado, a União Européia foi o destino de 31,6% das exportações brasileiras em dólares, e de 21,4% em toneladas. O bloco é o segundo maior destino da carne brasileira em quantidade, depois da Rússia, mas o primeiro em volume de recursos, porque compra cortes mais nobres e mais caros.
O diretor da Abiec reconhece que o mercado europeu é importante para os produtores brasileiros, mas diz que considera mais importante a postura do governo de não aceitar a limitação do número de frigoríficos habilitados a exportar.
Problemas
A decisão da UE foi tomada depois de uma disputa em relação ao número de fazendas que o Brasil teria direito de certificar. O problema começou no final do ano passado, quando a União Européia anunciou que estava impondo novos limites às exportações brasileiras por questões sanitárias.
O governo brasileiro passou então a verificar cada uma das fazendas e, pelos critérios exigidos pelos europeus, certificou mais de 2,6 mil propriedades. Mas os europeus já haviam antecipado que, pelas novas normas, dariam o sinal verde a apenas 300 fazendas.
O governo brasileiro avaliou, no entanto, que se todas as fazendas cumprem os requisitos, não caberia ao Ministério da Agricultura selecionar apenas 3% delas. ¨Como faríamos para selecionar uma fazenda e não a outra se estão em condições de igualdade?¨, questionou um funcionário do ministério em Brasília.
Em Bruxelas, os europeus não escondiam a irritação com a atitude brasileira. Primeiro, pelo número de fazendas, considerado exagerado. Outra confusão foi o fato de cada Estado ter feito uma lista separada. A própria missão diplomática do Brasil junto à UE confessou que não tinha como somar as listas. Com a atitude, o governo jogou de volta para os europeus o problema.
Comenta-se que a pressão dos produtores irlandeses também pesou na decisão de embargo à carne brasileira. A Irlanda é quem mais sofre com a concorrência da carne brasileira. A comissária de Agricultura da União Européia, Mariann Fischer Boel, havia dito que a Europa precisa ser ¨justa¨, e a resposta de Bruxelas ao problema precisa ser ¨proporcional¨. Segundo ela, a limitação em 3% das fazendas brasileiras cumpria a questão da ¨proporcionalidade¨.