No dia nacional da cachaça, conheça uma família que foi unida pela bebida 13/09/2018
- Felipe Grinberg - O GLOBO
O dia da água que passarinho não bebe é celebrado em 13 de setembro. Nesta mesma data, em 1661 após a Revolta da Cachaça, no Rio de Janeiro, a Coroa Portuguesa legalizou a produção da "éguaria".
Cachaça, "pinga", "mardita", seja como desejar chamar, é a bebida alcoólica mais brasileira do país. Motivo de muitas separações Brasil afora, ela também é razão de algumas uniões, como o caso do casal Chumara Tavora e Teomes Martins.
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Chumara é filha de Evandro Távora, dono do famoso bar na Avenida Mem de Sá 110, a Casa da Cachaça, na Lapa.
Desde os 18 anos ela ajuda o pai no estabelecimento que ajudou a criar ela e seus dois irmãos. Foi no balcão do bar, em 2014, que ela conheceu seu marido, Teomes, que era funcionário de um restaurante próximo e que sempre ia lá tomar uma dose de cachaça.
— Nós dois nascemos no Ceará e em cidades próximas. Nuca iria imaginar que ia conhecer meu marido aqui no Rio e servindo cachaça — brinca Chumara.
A relação dos dois com a "mardita" não terminou aí. Já que tinham se encontrado no bar, porque não realizar sua festa de noivado no local? A festa casamento só não terminou lá também porque não deixaram:
— Só não viemos para cá fazer depois da festa de casamento porque minha mãe não deixou. Nos proibiu. Queria vir vestida de noiva mesmo e aproveitar mais — relembra Chumara.
BEBIDAS PARA TODOS OS TIPOS
Na Casa da Cachaça trabalham com Seu Evandro a esposa, duas filhas e o genro. Com cerca de 1.300 cachaças, para a família que cresceu envolta da bebida não faltam boas histórias para contar:
— Um amigo nosso trouxe lá de Belém a cachaça de jambu, que ninguém conhecia aqui. Quando experimentamos, meu pai e minha mãe foram direto de carro para o Pará comprar mais — conta Chumara. — Só naquela viagem foram 240 garrafas.
Para o sommelier de cachaça João Amorim, a grande variedade que hoje é possível encontrar nos bares de todo o país facilitou a população não ver mais a bebida de maneira pejorativa:
— Costumo dizer que não há cachaça ruim. Tem aquela que você gosta e a que não gosta. Tem opções para todos os gostos e bolsos — diz João.
Na Casa da Cachaça, por exemplo, há doses a partir de R$ 7 e que chegam até R$ 80. Há ainda algumas garrafas que nunca foram abertas e que não são mais produzidas que podem custar R$ 600.
Com planos de expandir o negócio para o Canadá, Europa e até na África, Evandro garante que há preços para todos:
— Tem gente que chega aqui e paga brincando mais de R$ 1 mil em uma noite, outros ficam mais devagar e nas mais baratas, que também são muito boas. Acho que não existe tanta diferença assim entre elas — conta.
Apesar de não beber o produto que vende, o pensamento do dono do bar vai de encontro com o do sommelier.
Para João Amorim, algumas pessoas acreditam que só vão encontrar grande qualidade em bebidas mais caras, mas não é bem assim:
— Em alguns casos o preço é mais pela garrafa mais bonita e pelo marketing feito que pelo conteúdo. Há sim grandes cachaças caras, mas há muitas de R$ 30 reais que se equiparam as de mais de R$ 100.
PRODUÇÃO ARTESANAL CONQUISTA OS JOVENS
Há 20 anos o produtor Weber Amorim, que cursou engenharia química, produz em seu sítio suas próprias cachaças.
Com dezenas de tipos diferentes da bebida, ele mesmo planta, colhe e corta a cana e chega a produzir 100 litros por mês em seu alambique em Itaguaí.
Com uma loja na Feira de São Cristóvão, ele vende todas as garrafas pelo mesmo preço R$ 30 .
— Todo meu processo artesanal ajuda e muito na qualidade do produto final. Vendo por final de semana de 400 a 500 doses — conta.