Ernesto Araújo anuncia criação no Itamaraty de um Departamento do Agronegócio 22/12/2018
- O ESTADO DE S.PAULO
O futuro chanceler, embaixador Ernesto Araújo, usou ontem sua conta no Twitter para anunciar que criará um Departamento do Agronegócio na estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Segundo explicou, ele atuará em sintonia com o Ministério da Agricultura na conquista de novos mercados. “Daremos ao agro a atenção que no MRE ele nunca teve”, escreveu.
Araújo relatou que “algumas negociações comerciais em curso são ruins para a agricultura”, sem especificar quais nem por quê. “Vamos reorientá-las em benefício dos produtores brasileiros.”
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Afirmou também que a diplomacia brasileira defenderá o produtor brasileiro da pecha de ser agressor do meio ambiente. “O produtor agrícola brasileiro contribui para a preservação ambiental como em nenhum outro lugar do mundo.”
Além disso, as embaixadas e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) serão direcionadas para promover os produtos agrícolas brasileiros “ativa e sistematicamente.”
CASA DO MST
Sem deixar de lado os comentários de cunho ideológico, Araújo afirmou que, nos governos do PT, o Itamaraty foi “a casa do MST”. Agora, disse ele, “estará à disposição do produtor”.
Em sua política externa, explicou ele, o Brasil não deixará de exportar soja, frango, carne e açúcar. “Mas passará a exportar também esperança e liberdade”, escreveu.
“O fato de ser uma potência agrícola não nos proíbe de ter ideais e de lutar por eles.”
O embaixador ressaltou que “nenhum acordo comercial relevante” foi fechado nos últimos anos em que a política externa operou “sem ideais e sem identidade”.
Isso demonstra, no seu entendimento, que “não é pela autonegação ou pela adesão automática aos cânones do globalismo que o Brasil conquistará mercados, mas pela autoconfiança e pelo trabalho”.
Enquanto o setor produtivo agrícola apoiou “maciçamente” a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência, avaliou Araújo, “o establishment da velha política e da velha mídia quer usar o agro como pretexto para reduzir o Brasil a um país insignificante.”
Na sua visão, um país “sem opinião própria” não será próspero. “Não adianta ganhar o prêmio de redação da ONU, não é isso que abre mercados nem cria empregos”, disse.
Ele comentou ser impressionante o “pavor do establishment” diante de um ideal.
“Querem jogar a agricultura contra os ideais do povo brasileiro? Não conseguirão. O trabalho incansável, a fé, a inventividade, o patriotismo dos agricultores são a própria essência da brasilidade.”
Ele concluiu dizendo que a pujança agrícola será “parte do projeto de engrandecimento do Brasil” e que a projeção de um País confiante, grande e forte servirá aos interesses da agricultura.
IDEIA POSITIVA, PORÉM...
A ideia de criar no Ministério das Relações Exteriores um departamento específico para o agronegócio é uma ideia positiva, comentou nesta sexta-feira, 21, o vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Pedro de Camargo Neto.
Ele explicou que hoje já existe na pasta uma divisão que cuida de agricultura e produtos de base. Um departamento seria, portanto, um up grade.
Mas Camargo considerou “ruim” e “fraca” a manifestação do futuro chanceler, embaixador Ernesto Araújo, em apoio ao setor, em sua conta no Twitter.
“Ele não respondeu sobre a questão da embaixada em Jerusalém, que é o que o setor quer saber”, afirmou. Tampouco houve posicionamento em relação à China, outro ponto de preocupação.
Há pouco, Araújo postou no Twitter que vai criar um departamento de agronegócio e que dará ao setor uma atenção nunca antes dispensada. Disse também que o Itamaraty foi a “casa do MST” nos governos do PT e que algumas negociações comerciais em curso são ruins para o agronegócio.
Acusou o “establishment” e a mídia de tentar indispor a agricultura com os “ideais do povo brasileiro.”
Mas o que de fato preocupa o agronegócio são os sinais que pode haver problemas na relação com grandes mercados, como a China e o Oriente Médio.
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, emitiu sinais de indisposição com a China, ao visitar Taiwan (que não reconhece o predomínio do continente) e disse que os chineses estão “comprando o Brasil”.
Ao que os chineses responderam, com um editorial num jornal destinado ao ocidente, que o Brasil pode pagar caro por suas posições.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil, com exportações de US$ 58,8 bilhões até o fim de novembro deste ano. Desses, US$ 25,9 bilhões são de soja.
Já o mercado árabe, grande consumidor de açúcar e carne, ameaça retaliar caso o Brasil de fato transfira sua embaixada de Tel-Aviv para Jerusalém.
O gesto reconheceria a reivindicação de Israel sobre a cidade. Os árabes apoiam a Palestina no conflito.
As negociações comerciais em curso, avalia Pedro Camargo, não ameaçam o setor agrícola.
“O agronegócio sempre ganha; às vezes ganha pouco, às vezes ganha muito.”
Ele reconhece que a falta de acordos bilaterais de fato impede um comércio maior, mas acredita que eles não existam “mais por culpa do setor do que do Itamaraty”.
Por ser um setor forte, o agro mais atrapalha o fechamento de novos acordos do que ajuda, avalia o especialista.