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DIA A DIA

1º ano do governo será um campeonato de mata-mata
28/12/2018 - O ESTADO DE S.PAULO

À frente da Itaúsa, holding de investimentos do Itaú Unibanco, Alfredo Setubal acredita que o futuro presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), montou seu governo calcado em dois pilares: Paulo Guedes, para conduzir a economia, e Sérgio Moro, para encampar as mudanças contra a corrupção.

“É uma eleição anti-establishment. O primeiro ano será difícil. O presidente vai ter de aprender a governar e negociar com Congresso. Treino é treino e jogo é jogo.

Não é um campeonato de pontos corridos, é de mata-mata. Se as reformas não forem aprovadas, o governo vai sofrer muito.”


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A seguir, os principais trechos da entrevista.

O que a eleição de Jair Bolsonaro traz de novo?

— A eleição de Bolsonaro foi pautada em mudanças da economia e do jeito de se fazer política. Na parte econômica, sem dúvida nenhuma, a população votou para mudar as políticas que vinham sendo praticadas pelos governos do PT.

Houve guinada para uma linha mais liberal. Vamos entrar em outro ciclo de políticas econômicas, com privatizações, concessões. Se o déficit fiscal for equacionado, a reforma da Previdência votada, temos grande chance de ver o Brasil crescer.

E o Brasil voltará a crescer?

— O novo governo pega a economia com alguns sinais pequenos de recuperação. O desemprego ainda é alto, mas inflação e juros mais baixos dentro dos padrões históricos.

Se conseguir de fato fazer essas reformas, o Brasil pode entrar num ciclo de crescimento de 3% a 4% ao ano. O cenário internacional não deve ajudar muito.

Mas, de qualquer jeito, estamos entrando num ciclo econômico de mais crescimento e mais estabilidade jurídica, fator extremamente importante.

Bolsonaro terá força no Congresso para aprovar reformas?

— Todos esses aspectos foram discutidos na eleição. Previdência é uma unanimidade. Agora, qual a reforma que vai passar? A que está aí pode não ser a ideal, mas algo bem razoável pode ser votado no Congresso.

Ele não está partindo do zero, já tem uma proposta do (Michel) Temer. Evidentemente que tem um processo de negociação no Congresso.

Mas o sr. vê uma coalizão por partidos ou por bancada?

— Tem se falado de votação por bancada… Me parece que o novo Congresso estará alinhado com as políticas do novo governo. Com 27 anos de experiência no Congresso, Bolsonaro vai conseguir fazer as aprovações necessárias.

Mas tem um aspecto no governo e na equipe econômica que é o fato de boa parte não ter experiência no setor público. Isso vai gerar uma certa dificuldade no começo para se entender como a máquina funciona.

E isso é um fator inibidor para a governabilidade?

Não inibidor, mas retardador de fazer a máquina funcionar do jeito que eles querem. Demora uns meses para a engrenagem rodar.

Como viu as indicações para os ministérios?

— Bolsonaro tem dois pilares fortes. Primeiro, a equipe econômica, que ele formou com bom time, encabeçado por Paulo Guedes. Outro pilar é o Moro, com toda a agenda anticorrupção que vai ser implementada.

Não sei da capacidade de execução dos ministros. Veremos na prática. Me parece que ele delegará mais, diferentemente da presidente Dilma Rousseff. Isso tende a dar mais agilidade para o governo.

O sr. é a favor das privatizações? O que deve se manter com o Estado?

— A sociedade não está preparada para um Estado mínimo, de um governo que cuide apenas de suas funções básicas. Esse é um processo evolutivo. A sociedade de hoje não tem esse desejo todo de privatizações. Deverá começar por subsidiárias e empresas relevantes, mas nada abrangente.

O próprio Temer vai deixar uma série de licitações de portos, aeroportos, e isso facilitará. O modelo centralizador de Estado grande, poderoso, que prevaleceu de Getúlio Vargas até agora, fracassou. O modelo brasileiro tem de ser repensado.

Bolsonaro é o mais adequado para conduzir essas mudanças?

— Ele está tentando fazer uma nova política e quer acabar com esta história de lotear o governo entre os partidos. Quer colocar pessoas mais gabaritadas. O Congresso funciona com certa barganha. Bolsonaro disse que quer romper.

O que o sr. achou da indicação de Moro para o governo?

— Acho que é coerente com todo o discurso que o Bolsonaro fez durante a campanha. Moro, na Lava Jato, já cumpriu o seu papel. A Lava Jato não vai acabar. A sociedade está acompanhando tudo. Ele fez o movimento certo de aceitar o desafio.

Preocupa uma maior base militar no governo?

— Não é um governo militar. É um governo que tem mais militares, assim como no governo Lula teve mais sindicalistas. É um público que Bolsonaro lidou em toda a sua vida.

A relação dos empresários com o governo será diferente?

— Tem de mudar o jeito de fazer negócio. A política liberal de Paulo Guedes vai abrir a economia, reduzir tarifas, mas entendo que ele vá fazer isso de maneira gradual.

Por um lado, traz maior concorrência, por outro, as empresas terão de ser mais eficientes. Ao mesmo tempo, o governo tem de ajudar. Tem muitos impostos, burocracias, custos que em outros países são bem menores.

O Itaúsa vai aumentar seus investimentos em 2019?

— Não fizemos nenhum grande movimento em 2018, só a venda da Elekeiroz. Vamos olhar oportunidades em indústria e serviços.

Não vamos diversificar por diversificar. Já temos a Alpargatas, o gasoduto NTS, e não pretendemos olhar nada fora do País.

Qual a lição que se tira das eleições de 2018?

— A sociedade votou por mudanças, tanto da política econômica como contra a corrupção. Uma eleição anti-establishment. É uma corrida de obstáculos. Longe de ser fácil, esse primeiro ano será difícil.

Ele vai ter de aprender a governar e negociar com o Congresso. Tem muitos “se”, mas muita coisa vai avançar no Brasil.

Treino é treino e jogo é jogo. Vamos ver como o técnico em campo vai performar para ganhar o campeonato.

E não é um campeonato de pontos corridos, é de mata-mata.

Se as reformas não forem aprovadas, o governo vai sofrer muito. Eu tenho um lado otimista que acredita que pode dar certo.


  

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