A aposentadoria do sutiã 11/01/2019
- Luisa Purchio - ISTOÉ
Em busca de mais conforto e do reconhecimento da beleza natural dos seios, cada vez mais mulheres se libertam do acessório — mas enfrentam resistência
O sutiã já marcou importantes momentos na história da luta da mulher por seu espaço na sociedade e contra estruturas sociais que as oprimem.
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Depois de protagonizar a famosa manifestação de feministas contra a objetificação da mulher durante o concurso “Miss America”, no chamado “Bra Burning” (“Queima dos Sutiãs”), em 1968, mais uma vez a peça surge como símbolo de libertação feminina.
Agora a luta é pela abolição do seu uso.
Cada vez mais as mulheres desejam tirá-la do corpo para viverem com seus seios da forma como eles são.
Esse desejo simboliza uma busca pelo reconhecimento da sua beleza natural e da dessexualização do corpo feminino – que, na visão das militantes, foi levada ao extremo pela indústria do entretenimento.
Além disso, representa uma luta pela igualdade de direitos em relação aos homens – que, diferentemente das mulheres, podem andar sem constrangimentos com os mamilos à mostra em alguns ambientes.
Celebridades brasileiras estão aderindo à tendência. É o caso de Cleo Pires, que costuma aparecer com os seios naturais sob as blusas e já se manifestou pelo Instagram sobre o tema.
“Meus seios não são órgãos sexuais. Antes, são órgãos feitos para alimentar um bebê”, disse ela, que criticou a política de censura de algumas redes sociais aos peitos das mulheres.
Recentemente o Instagram e o Facebook foram questionados por alguns usuários por não permitirem a exposição de mamilos femininos, diferentemente dos masculinos.
Outra personalidade que não vê problema em não usar a peça é Bruna Marquezine.
“Amo e acho tão bonito”, disse em resposta a uma fã pelo Twitter.
A tendência já é global e também pôde ser vista no tapete vermelho do Globo de Ouro, no domingo 6, nos looks de atrizes como Julia Roberts e Saoirse Ronan.
Em ambientes corporativos, porém, a ausência da peça provoca estranhamento.
Além disso, algumas linhas da psicologia e estudos de neurociência afirmam que dessexualizar os seios seria impossível, uma vez que eles estão biologicamente vinculados à reprodução.
Durante a amamentação, por exemplo, o cérebro feminino produz um hormônio semelhante ao que une um casal na vida adulta.
E o fato das mamas se desenvolverem na puberdade faz com que elas estejam relacionadas com a capacidade de reprodução da mulher.
Uma das razões que incentivam o movimento conhecido como No Bra (“Sem Sutiã”, em inglês) é o benefício que a eliminação da peça pode causar à saúde das mamas.
Estudos mostram que, ao contrário do que se pensava antes, sutiãs com arames, plásticos ou bojos podem fazer mal porque comprimem os peitos.
Segundo Jean-Denis Rouillon, professor da Universidade de Franche-Comté e um dos poucos estudiosos do tema, o sutiã não evita os efeitos da gravidade no corpo.
Rouillon constatou que eles ficam mais firmes quando o acessório não é usado, porque os tecidos e ligamentos têm de trabalhar e não degeneram.
Além disso, sem ele a circulação do sangue é melhor e a temperatura das mamas se mantém natural.
Pensando nisso, foi criado até um dia para encorajar as mulheres a não tirarem o sutiã do guarda-roupa.
O “No Bra Day” ocorre no dia 13 de outubro, durante o Outubro Rosa, e visa conscientizar sobre a autoavaliação para a prevenção do câncer de mama.
As feministas, no entanto, protestam. Para elas, todo dia é dia da mulher deixar o sutiã em casa e libertar as mamas.