Joice Hasselmann: No Congresso, ou é com jeitinho ou então não vai 09/03/2019
- GERMANO OLIVEIRA - ISTOÉ
A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), 41, é conhecida por agir como “um trator”, passando por cima de todos para alcançar seus objetivos.
Nascida em Ponta Grossa (PR), ela deu início na carreira de jornalista em Curitiba, mas logo se mudou para São Paulo, onde se transformou em fenômeno popular no rádio e nas mídias sociais.
A partir daí, a mosca azul da política lhe picou. Na eleição no ano passado, ingressou no PSL e teve mais de um milhão de votos para deputada federal.
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Na disputa por espaço dentro do PSL, chegou a brigar feio com o deputado Eduardo Bolsonaro, o filho mais novo do presidente.
Disse que ele era “bebê mimado”. Eduardo rebateu e afirmou que ela era “meio doida”.
As caneladas só pararam porque o presidente obrigou os dois a celebrarem a paz.
Agora, indicada por Bolsonaro para ser a líder do governo no Congresso, Joice quer deixar de lado sua fama de conseguir tudo no grito.
“No Congresso, ou a gente faz as coisas com jeitinho, ou então não vai”.
Sua prioridade é aprovar a reforma da Previdência.
Diz que o governo sabe que terá que ceder aos deputados e que dificilmente se chegará a uma economia de R$ 1,1 trilhão, mas adianta que menos de R$ 1 trilhão “não dá”.
A ENTREVISTA
O que foi determinante para a senhora ter sido escolhida líder do governo no Congresso? A senhora tornou-se muito amiga da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Isso pesou na indicação?
— Não, de maneira nenhuma. Não teve nenhuma influência familiar, nem para mais e nem para menos. O que aconteceu é que houve um consenso entre o presidente Bolsonaro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, em torno do meu nome.
Todos procuravam um nome para buscar o diálogo do Congresso com o Palácio do Planalto para que a gente pudesse ter um bom andamento na reforma da Previdência. A melhor maneira de fazer as coisas andarem aqui (no Congresso) é ter o consenso.
Quais os obstáculos que a senhora teve que superar para ser indicada pelo presidente Bolsonaro ao cargo de líder, já que no início do ano a senhora chegou a ter trombadas homéricas com o deputado Eduardo, um dos filhos do presidente?
— Já está tudo superado. É muito natural que quando você tem uma personalidade forte, e eu tenho, o Eduardo também tem, ocorreram algumas trombadas. O que eu tive com o Eduardo é briga de irmão.
Sabe aquela coisa de família no domingo? Todo mundo se reúne, tem confusão e no final sai todo mundo abraçado? Foi isso.
Eu descobri que tenho uma capacidade de diálogo imensa. Todo mundo conhece esse meu lado combativo, firme, mas eu nunca precisei mais de 24h para entender que no Congresso nada anda na força. Ou é com jeitinho, na conversa, ou então não vai.
A senhora é a deputada mais influente nas redes sociais. O presidente também domina bem as redes. A senhora acha que o governo do PSL será tocado pela Internet?
— Eu acho que tem que ter tudo. Acho que a gente tem que usar muito as redes sociais, e o nosso presidente é um case nas redes, e tem que usar esse canhão de comunicação. Agora, não dá para deixar de lado a mídia tradicional.
Temos claro que boa parte da imprensa tem posições que não são a que nós queremos. Mas acho que neste momento nós temos que nos unir para aprovar a reforma. Mas quando digo que devemos nos unir, nós não queremos a unanimidade. Acho que vamos conseguir votos do PDT, do PSB…
A prioridade do governo é aprovar a reforma da Previdência, mas sabemos que o governo não tem os 308 votos. Fala-se hoje em torno de 200. O que a senhora pode fazer para reverter esse placar desfavorável na Câmara?
— Conversando. É claro que o Congresso quer imprimir sua digital na reforma. E eu já disse isso ao presidente.
O governo já disse que a espinha dorsal da reforma é a economia em torno de R$ 1 trilhão, mas sabemos que o Congresso vai querer mudar o projeto do governo.
Há deputados achando que a reforma pode trazer problemas para seu eleitorado, então vamos conversar muito para o convencimento.
Para convencer os deputados, o governo fala em agilizar o “banco de talentos” para distribuir cargos e também a liberação de emendas do Orçamento para deputados de até R$ 1,2 bilhão. Isso é o novo toma-lá-dá-cá?
— Não. Vamos pensar de maneira racional, cartesiana. O problema não é a indicação. É a corrupção. Nós temos cargos estratégicos que precisam ser preenchidos, para que as coisas funcionem. E nós vamos preencher com quem? Com inimigos? Claro que não.
Nós temos que colocar pessoas corretas, no lugar certo. No antigo toma-lá-dá-cá, se fazia a troca de cargos por votos, e aí o parlamentar indicava amigos, a mãe, a irmã, a tia. Aqui, todos os cargos serão ocupados por pessoas habilitadas.
Quanto às emendas, desde a época da nova Constituição, o governo pode destinar parte do Orçamento para atender demandas dos parlamentares nos Estados. Mas, agora, os parlamentares serão ouvidos, os Estados serão ouvidos. Então não tem nada de irregular nisso.
Deputados dizem que há questões amargas a resolver, como cortes em privilégios, sobretudo de militares e funcionários públicos. Esses setores podem emperrar a reforma?
— Com toda certeza, a gente vai ter uma ação junto ao funcionalismo. Vamos resolver as diferenças com muito diálogo. O projeto será construído junto com eles.
Mas todos esses setores vão ter que dar contribuições. Os funcionários públicos vão ter que entender isso.
Hoje é o pobre ganhando o salário mínimo e esses grupos, muito organizados, de privilegiados, não querem abrir mão de seus benefícios. Tem gente ganhando até R$ 40 mil e o trabalhador ganhando o salário mínimo. Não dá para continuar assim.
O ministro Paulo Guedes fala em uma reforma que represente a economia de R$ 1,3 trilhão ou R$ 1,1 trilhão em 10 anos, mas há deputados estimando que os ganhos não passarão de R$ 800 bilhões. Pode haver um meio termo?
— Um trilhão é um bom número. É a espinha dorsal da reforma. Tudo o que a gente conseguir acima disso será maravilhoso. Mas com R$ 1 trilhão a gente já consegue lançar o foguete da economia.
Participei de uma reunião com o ministro Paulo Guedes e ele disse que R$ 1 trilhão é como se a gente fosse lançar um foguete para a lua.
Tem vários estágios, mas quando atinge a atmosfera tem que chegar nesse R$ 1 trilhão.
Depois, até chegar à lua, tem outros estágios, como R$ 1,1 trilhão, R$ 1,3 trilhão. Abaixo de R$ 1 trilhão, a reforma fica prejudicada.
Já a reforma do ministro Sergio Moro ficará para depois. Ao criminalizar o caixa dois e impor medidas duras contra corruptos, a senhora acha que o projeto pode ter oposição na Câmara, onde há vários deputados acusados de corrupção?
— Olha, é claro que quando o deputado está sendo investigado por corrupção, ele não vai aprovar um projeto que combata a corrupção.
Mas você tem que lembrar que houve uma grande renovação aqui no Congresso, de 50%, e tem muita gente boa aqui. Por isso, eu acho que o projeto do ministro Sergio Moro será aprovado.
Temos que combater a corrupção, ainda mais a corrupção que a gente viu no Brasil nos últimos anos.
A corrupção tem que ser vista como crime hediondo. É fundamental para o desenvolvimento do Brasil, inclusive para os investidores internacionais.
Em dois meses de governo, aconteceram muitas trapalhadas, todas provocadas por integrantes do próprio governo. Por que o governo tem cometido tantos desatinos e tropeços?
— Não sei dos tropeços que você está falando. Você tem que me dizer quais…
Por exemplo, demitir o ministro Bebianno em menos de 50 dias.
— O presidente da República pode demitir quem ele quiser, do jeito que ele quiser, no momento que ele quiser. A relação entre o ministro Bebianno e o presidente é como um casamento que fracassou. Mas isso já foi ultrapassado. Bola pra frente.
Mas Bebianno diz que foi demitido pelo vereador Carlos, o filho do presidente…
— Claro que não. Só quem tem autoridade para demitir quem quer que seja é o presidente da República.
O ministro Bebianno caiu por causa do laranjal em Pernambuco. E o ministro do Turismo, acusado pelo laranjal em Minas Gerais, não deveria ser demitido também?
— Esse caso é um critério de avaliação que compete só ao presidente. Como eu falei, havia um desgaste na relação do ministro Bebianno e o presidente Jair Bolsonaro, e esse desgaste não existe em relação ao ministro do Turismo. As investigações prosseguem em Minas. Não dá para condenar ninguém antes da apuração ser concluída.
Se ele estiver envolvido tem que ser demitido?
— O presidente é muito claro com todos aqui no governo, qualquer um que seja pego com a boca na botija, em crime de corrupção, e que haja confirmação pela Justiça, não fica no governo.
Com Bolsonaro, não tem choro, nem vela. Qualquer que seja pego em ato de corrupção, terá como destino a porta da rua.
Os ministros e o presidente têm falado muita bobagem, se envolvendo em crises desnecessárias? Eles teriam que ter um freio?
— Não. A minha avó dizia: com o andar da carroça as melancias se ajeitam. A carroça está andando. Deixa as melancias se ajeitarem. É natural que num começo de governo, com gente nova, aconteçam de vez em quando uma frase que desagrada um, que desagrada outro. Mas com o tempo as coisas se ajustam.
Dizem que a senhora quer ser candidata a prefeita de São Paulo, mas já há os que falam que também pode ser vice na chapa do governador João Doria a presidente em 2022. Quais são seus planos para o futuro?
— Isso é uma bobagem sem tamanho. As duas informações foram plantadas na imprensa. No dia em que o presidente estava para me indicar líder do governo no Congresso, apareceu num jornal a informação de que o Doria (João Doria, governador de São Paulo) me lançaria candidata a prefeita no ano que vem. Ninguém falou comigo.
Logo depois, veio a notícia que haveria uma chapa presidencial para 2022 com Doria na cabeça e eu na vice. Ninguém me consultou. Não há uma coisa, nem outra.