Reforma não terá céu de brigadeiro, afirma líder de ruralistas 14/03/2019
- O ESTADO DE S.PAULO
No comando de uma das maiores forças políticas dentro do Congresso Nacional, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Alceu Moreira (MDB-RS), afirma que não dá para garantir que todos os mais de 270 filiados votarão a favor da reforma da Previdência.
Ele buscou minimizar as críticas já feitas por lideranças parlamentares à articulação do governo, mas avisou que até agora houve apenas um “treino” e que a “hora da verdade” chega com o início da tramitação da proposta.
“Nós não teremos céu de brigadeiro na relação da reforma da Previdência, a gente sabe disso. Porque, na verdade, tem um contencioso de relação de natureza política e as pessoas vão tirar proveito desse debate”, diz Moreira em entrevista ao Estadão/Broadcast.
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Ele também dá um recado ao ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem a bancada ruralista entrou em choque no início do ano, após a equipe econômica querer acabar com a proteção tarifária aos produtores de leite no Brasil.
“Vamos certamente aprender a trabalhar juntos, o Parlamento e Paulo Guedes. Mas de onde ele veio? Ele nunca trabalhou com relação pública, tem formação completamente distinta. É absolutamente qualificado, mas fazer essa condução do uso do capital com responsabilidade social não é uma coisa dele. Ele é uma pessoa de ciências exatas, veio de lá e faz a conta. Agora tem um meio político, ele vai aprender com isso com certeza. A dor ensina a gemer”, afirma Moreira.
RELAÇÃO POLÍTICA
O presidente da FPA avalia que o governo tem um conjunto de pessoas “que não é afeito à relação política”, mas evita tecer críticas porque, segundo ele, até agora não houve necessidade de pôr à prova a articulação do governo.
“Vai ter agora, para a reforma da Previdência. Vamos ver como o governo age por meio de seus líderes, vice-líderes, ministros. Aí é a hora da verdade, por enquanto é treino”, diz.
Moreira tomou posse como presidente da FPA no dia 19 de fevereiro, véspera da apresentação da proposta. Ele sucedeu no cargo Tereza Cristina, atual ministra da Agricultura.
Durante a tramitação da reforma da Previdência do ex-presidente Michel Temer, a frente foi um dos principais atores na discussão, mas nunca fechou questão ou comunicou posição oficial sobre a proposta – postura que deve ser repetida agora com a reforma do presidente Jair Bolsonaro.
“A Frente Parlamentar da Agropecuária não tem a pretensão de ter unidade com relação a isso, nem sequer de fazer qualquer tipo de tutela”, afirma ele, que não arrisca um número de votos com os quais o governo poderia dar como certos a favor da reforma.
A posição coloca um obstáculo ao governo, caso a intenção seja manter a ideia de negociação de votações com frentes temáticas em vez de partidos específicos.
“Eu não sei até que ponto isso funciona (negociação com frentes). Acho que o presidente, quando quis tratar com as frentes, queria muito mais tratar da composição de governo”, diz Moreira.
Ele defende que os congressistas possam indicar pessoas para ocupar cargos do governo nos Estados, desde que tenham currículo adequado para o posto.
Recentemente, Bolsonaro sinalizou a Maia que aceitaria as indicações em prol da articulação pela reforma, desde que os candidatos tenham boa reputação.