Bolsonaro nos EUA: negócios e sintonia ideológica com Trump 18/03/2019
- FRANCE PRESSE
O presidente Jair Bolsonaro inicia nesta segunda-feira (18) a agenda pública de sua visita aos Estados Unidos com um dia dedicado aos negócios, antes de sua reunião com Donald Trump na Casa Branca, na terça, tendo a crise na Venezuela como eixo do encontro.
Bolsonaro chegou a Washington ontem à tarde. Embora seja sua primeira viagem oficial ao exterior desde que assumiu o poder em 1º de janeiro, sua estreia internacional foi o Fórum de Davos realizado na Suíça neste mesmo mês.
A decisão de romper a tradição dos últimos presidentes brasileiros de fazer sua primeira visita oficial à Argentina foi um gesto, ao qual Trump correspondeu, alojando Bolsonaro na Blair House, a residência oficial para hóspedes oficiais situada em frente à Casa Branca.
PUBLICIDADE
“Brasil e Estados Unidos juntos assustam os defensores do atraso e da tirania ao redor do mundo. Os quem tem medo de parcerias com um país livre e próspero? É o que viemos buscar!”, tuitou Bolsonaro depois de aterrissar no domingo.
Desde que chegou ao poder em janeiro, o presidente de extrema direita deu uma guinada na diplomacia brasileira, tradicionalmente equidistante dos grandes poderes mundiais, e se orientou para estreitar relações com governos conservadores e “antiglobalistas” como Estados Unidos, Israel e Itália.
O chanceler Ernesto Araújo disse que a viagem aos Estados Unidos marcará a “reativação de uma associação natural”.
Bolsonaro viajou acompanhado de seis ministros, entre eles Araújo, o titular de Economia, Paulo Guedes, e o da Justiça e Segurança, Sérgio Moro.
Décadas de relações que não passavam de cordiais entre Brasília e Washington ficaram para trás com a chegada de Bolsonaro ao poder, apelidado de “Trump tropical” por sua admiração e sua sintonia ideológica com a agenda nacionalista e “antiglobalista” do americano.
Na noite de ontem, Bolsonaro participou de um jantar na residência do embaixador do Brasil em Washington.
Também estiveram presentes Steve Bannon, o polêmico ex-assessor de Trump, e Olavo de Carvalho, considerado o guru de Bolsonaro.
Na tarde de ontem, cerca de 50 pessoas se reuniram diante da Casa Branca para protestar com cartazes que diziam “Bolsonaro assassino” e “Lula Livre”.
AGENDA CHEIA
Sua visita é uma vitrine para promover negócios e investimentos. Hoje, o presidente discursará na Câmara de Comércio, às 17:50 locais (18:50 em Brasília).
Durante o dia, terá uma reunião privada com o ex-secretário do Tesouro Henry Paulson.
Na terça, às 9:30 locais, Bolsonaro se encontra com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro.
O prato principal do dia será o esperado encontro com Trump na Casa Branca, que incluirá uma entrevista coletiva, antes do encontro privado entre ambos os presidentes programado para 14:15 locais.
Um dos eixos da agenda com Trump é a crise na Venezuela. A oposição ferrenha ao que ambos consideram uma “ditadura” no país caribenho é um dos temas que mais os une.
Os Estados Unidos estão à frente dos mais de 50 países – entre eles o Brasil – que reconhecem o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino.
Sanções econômicas e um embargo do petróleo da Venezuela foram aplicados.
Os analistas esperam que ambos também discutam medidas para aumentar o comércio bilateral – sem rebaixar limites que no caso do Brasil impõe o Mercosul – e o ingresso do gigante sul-americano na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).
Bolsonaro assinará em Washington um acordo de salvaguardas tecnológicas que permitirá o uso da base de Alcântara para lançamento de foguetes americanos.
Na quinta-feira, o presidente afirmou que esse acordo será “muito importante, estamos perdendo muito dinheiro nessa região. Poderíamos estar lançando satélites de todo mundo”.
O acordo deve ser aprovado pelo Congresso brasileiro, e muitos setores nacionalistas o veem como um risco de perda de soberania.
Depois dos Estados Unidos, Bolsonaro visitará o Chile e seguirá no fim do mês para Israel, em uma clara demonstração de sua tentativa de se aproximar de governos próximos às suas posições conservadoras e economicamente liberais.