Governo reserva R$ 10 bi por ano para ajuda a estados 29/03/2019
- MANOEL VENTURA - O GLOBO
O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse que o governo federal irá reservar R$ 10 bilhões por ano para o programa de ajuda aos estados.
Esse dinheiro será usado para que os governadores consigam empréstimos com garantias da União. Além disso, o governo avalia emprestar dinheiro diretamente aos estados.
A maior parte das unidades da federação enfrenta graves dificuldades financeiras principalmente por conta do tamanho de suas dívidas e do tamanho das despesas com servidores públicos na ativa e aposentados.
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O Ministério da Economia irá anunciar, em até 30 dias, um conjunto de medidas que prepara para socorrer os governadores.
As ações representam, segundo Mansueto, o "balão de oxigênio" que o ministro Paulo Guedes (Economia) cita para ajudar as unidades da federação no curto prazo.
Chamado de Programa de Equilíbrio Fiscal (PEF), o plano em elaboração permitirá conceder garantia da União para que estados tomem empréstimos junto a bancos públicos e privados de forma gradual nos próximos anos.
Mesmo unidades da federação que hoje não podem pedir dinheiro com garantia federal terão direito ao benefício.
Para isso, será preciso que o estado aprove medidas de ajuste em suas contas. O dinheiro liberado será proporcional ao esforço fiscal.
A União esperar liberar cerca de R$ 10 bilhões de aval aos estados por ano, divididos em até quatro anos.
O programa ainda irá precisar ser aprovado pelo Congresso.
O governo também pode repassar recursos em forma de empréstimo para os estados.
A tendência, porém, é que as operações de créditos sejam feitas principalmente com instituições privadas.
Isso porque dinheiro federal e de bancos públicos não podem ser usados para pagar salários de servidores, principal necessidade dos governadores.
— Quem vai decidir de quem vai pegar o empréstimo é o estado. Se fosse empréstimo direto da União, não pode pagar pessoal. Se pegar com banco público, não pode. Se for de banco privado, pode pagar pessoal. E há uma disposição muito grande para emprestar. Mais do que deveria até — disse Mansueto.
Quatro parcelas
O dinheiro será liberado de maneira escalonada, até o fim do mandato do atual governador.
O Ministério da Economia irá acompanhar anualmente as medidas de ajuste fiscal dos estados.
Como o empréstimo será dividido em quatro parcelas, caso o as medidas de ajuste não avancem, a liberação do dinheiro é interrompida.
Além disso, o governo estuda dar mais espaço para empréstimo para os estados que se comprometerem a privatizar estatais.
A ideia é incentivar que empresas públicas locais, como companhias de saneamento, sejam vendidas para ajudar os estados e fecharem as contas.
O programa de ajuda aos estados também irá contemplar mudança na distribuição dos recursos do fundo social do pré-sal.
Esse fundo reúne a receita federal com a exploração de óleo e gás na camada.
Atualmente, todo o recurso do fundo fica com a União.
A ideia é que pelo menos 70% fique com estados e municípios.
Apesar da ajuda emergencial, Mansueto lembra que a melhora na situação das contas dos estados no longo prazo depende da aprovação da reforma da Previdência.
— A melhor ajuda para os estados é dar instrumentos para ajuste fiscal — afirmou o secretário.
Medidas de ajuda
Saiba abaixo as medidas de ajuda anunciadas pelo governo federal:
Programa de Equilíbrio Fiscal (PEF): Concessão de garantia da União para empréstimos dos estados junto a bancos públicos e privados, de forma gradual, desde que os governadores aprovem medidas de ajuste fiscal.
Podem ser liberados cerca de R$ 10 bilhões aos estados por ano, divididos em até quatro anos. O programa deve ser oficializado em até 30 dias, mas terá de ser aprovado pelo Congresso.
Mudança na distribuição dos recursos do petróleo: Atualmente, cerca de 70% dos recursos ficam com a União, e 30%, com estados e municípios.
Segundo o governo federal, o objetivo é inverter a proporção: 70% com estados e municípios, e 30%, com a União.
Securitização da dívida: Medida tem que ser aprovada pelo Congresso Nacional.
Processo consiste na venda, com deságio, de direitos de dívidas a receber – que podem ser tributárias ou não. Seria uma forma de antecipar recursos aos estados.
Gastos com pessoal
Levantamento do G1 a partir de dados encaminhados pelos estados à Secretaria do Tesouro Nacional mostra que gastos dos governos locais com servidores na ativa e aposentados cresceram novamente em 2018.
De acordo com as informações, os gastos "brutos" com pessoal, isto é, sem abatimentos, passaram de 47,53% da arrecadação total em 2016 para 49,36% em 2017 e, em 2018, para 50,23%.
Isto quer dizer que, pela média, os estados gastaram, em 2018, mais de metade da arrecadação total com servidores na ativa e aposentados.
A pesquisadora do Instituto Brasileiro de Econômica (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Vilma Pinto fez um levantamento das despesas com pessoal, e encargos sociais, em relação aos gastos totais dos estados.
Os números, segundo ela, mostram que em 17 estados os gastos representaram mais de 60% dos gastos totais no ano de 2017.
"Isso compromete o funcionamento do estado como um todo. Quando gasta 60%, 70% para pagar salário, sobra muito pouco para pagar todo o resto, como segurança, assistência. No caso dos estados, o que pesa mais é educação e segurança. [...] Quando diz que sobra pouco para a Saúde, por exemplo, está falando de custeio e investimento, da construção de novas escolas e do pagamento da merenda escolar. Isso mostra que há um desequilíbrio", avaliou.