Criadores não querem mudança nas regras 29/02/2008
- Fabíola Salvador - O Estado de S.Paulo
Maioria defende Sisbov e acha que governo abrandou vigilância
Os fazendeiros querem manter o Sisbov, o sistema de rastreamento de animais, e torcem para que os políticos não insistam em mudar as regras no meio do jogo, o que atrasaria ainda mais a retomada das exportações de carne à União Européia (UE). Os prefeitos lamentam a perda de arrecadação, acham que o Ministério da Agricultura relaxou na vigilância sanitária e admitem que os fazendeiros precisam ser cobrados para manter respeito às regras.
Alvino Antônio Alves Júnior, proprietário da primeira fazenda vistoriada pelos fiscais europeus, em Goiás, disse ao ¨Estado¨ que o Brasil precisa cumprir o acerto com a UE. As regras do Sisbov têm sido criticadas pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), líder ruralista no Congresso que defende a definição de novas regras pelos parlamentares. ¨Não adianta mudar a regra agora¨, disse Alvino.
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Márcio Cunha de Azevedo, proprietário da Fazenda Santa Marta, no município goiano de Crixás, também saiu em defesa do modelo de rastreabilidade e aposta no mercado europeu. Para atender às exigências do bloco, ele está investindo R$ 100 mil na reforma do curral de sua propriedade. ¨Eu acredito que a rastreabilidade pode representar vantagens, ou seja, preço melhor para o pecuarista.¨
Azevedo não sabe se os técnicos europeus inspecionarão sua propriedade, mas garantiu que cumpre as regras do bloco. ¨Está tudo certinho.¨ Ele cria cerca de 2.600 cabeças numa fazenda de 4 mil hectares.
Alvino Alves Júnior, da Fazenda 3 A II, lembrou que antes do embargo da UE, em 1º de fevereiro, ele conseguia vender em Goiás animais rastreados com ágio de R$ 3 por arroba. A suspensão das importações acabou com o diferencial.
O prefeito de Crixás, Olímpio César de Araujo Leão (PSDB), apontou o governo federal e os pecuaristas como responsáveis pelo embargo da UE à carne brasileira. Para ele, o governo, especificamente o Ministério da Agricultura, não fiscalizou como deveria as fazendas e as empresas certificadoras para saber se as regras de rastreabilidade exigidas pelos europeus estavam sendo cumpridas.
¨O pecuarista só mostra serviço quando é cobrado. Faltou cobrança¨, disse ele, sem temer a reação do eleitorado nas eleições de outubro. Crixás é uma das principais regiões de pecuária de corte de Goiás e o rebanho do município é, segundo o prefeito, o maior do Estado. Pastam nas fazendas locais cerca de 600 mil bovinos. ¨Os pecuaristas se acomodaram.¨
Possível candidato à reeleição, Olímpio César foi, anteontem, logo cedo ao aeroporto do município para recepcionar os europeus, que saíram de Brasília acompanhados de um tradutor. A estratégia não deu certo porque os europeus decidiram desembarcar no aeroporto de Mozarlândia, onde fica a fazenda vistoriada. ¨Não foi desprestígio. Foi uma questão de logística¨, lamentou.
Olímpio César diz que é ¨essencial¨ a retormada das vendas de carne bovina à UE. Contou que os preços do boi gordo recuaram no mercado local e a venda de bezerros e de animais para engorda está praticamente paralisada.
¨Houve queda de 70% a 80% no comércio de bezerros e vacas para abate. Nos leilões, a demanda é pequena. Todo mundo está receoso.¨ Ele teme que o embargo influencie na arrecadação do município. Por mês, Crixás arrecada cerca de R$ 400 mil em ICMS.
¨DESENCONTROS¨
Apesar do ambiente político tranqüilo e do interesse da população local na visita dos fiscais da UE, o secretário de Agricultura de Goiás, Leonardo Veloso, disse que revolveu ¨desconsiderar¨ os europeus.
¨Foram muitos desencontros. Os europeus não têm credibilidade para inspecionar as fazendas. Ou eles não definiram as regras ou o ministério não está passando as informações necessárias.¨ Veloso argumenta que todas as fazendas de Goiás que estavam na primeira lista cumprem as regras de rastreabilidade. ¨Desse modo, não pode haver diferenciação.¨