Novo gigante da carne nos EUA, Friboi enfrentará crivo antitruste 06/03/2008
- Bob Burgdorfer - Reuters
As surpreendentes aquisições do brasileiro JBS no setor de carne bovina nos Estados Unidos terão de enfrentar o órgão antitruste norte-americano, segundo analistas, embora a empresa acredite que os negócios sejam aprovados sem a necessidade de desinvestimentos.
Na terça-feira, o JBS anunciou a compra das norte-americanas National Beef e da Smithfield Foods, além da companhia australiana Tasman.
¨Isso irá certamente levantar questões com o Departamento de Justiça¨, afirmou Jim Robb, economista do Conselho de Informação de Negócios de Pecuária, após tomar conhecimento sobre o acordo.
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Sem especificar quando os negócios poderiam ser concluídos, o presidente do JBS, Joesley Batista, afirmou acreditar que a companhia não terá de dispor de seus ativos para ver aprovadas as negociações.
¨Estamos confiantes que iremos ser bem-sucedidos. Não estamos pensando em desinvestimentos¨, declarou em uma conferência para jornalistas e analistas estrangeiros, um dia depois do negócio que surpreendeu a indústria norte-americana de carne.
Se os acordos forem aprovados, a companhia com sede em São Paulo vai se tornar a maior em carne bovina do mundo, com 32 por cento do mercado norte-americano e 10 por cento em termos globais.
A Tyson Foods é atualmente a maior em carne bovina dos Estados Unidos. A empresa estima ter cerca de 25 por cento do mercado, mas essa participação deve ter caído recentemente, com a companhia encerrando atividades em um abatedouro com capacidade para 4 mil cabeças ao dia, em Emporia, Kansas.
Quando as aquisições estiverem concluídas, o JBS espera ter receitas mundo afora de 21,55 bilhões de dólares, contra atuais 12,7 bilhões de dólares.
JBS QUER MANTER UNIDADES
O negócio foi anunciado em um momento no qual a indústria de carne bovina dos EUA atravessa um momento difícil, com um excesso de capacidade de processamento, exportações baixas e desaceleração econômica da economia norte-americana.
Durante a conferência, Batista afirmou que a companhia não pretende neste momento fechar nenhuma de suas unidades, para reduzir a capacidade de abate e levar a um ajuste na oferta.
No entanto, isso pode mudar mais para a frente.
¨Estamos estudando o que podemos fazer para tornar a companhia o mais eficiente possível¨, ele afirmou. ¨Não vemos necessidade de reduzir turnos, mas estaremos prontos para fazer isso se for necessário para competirmos, para economizarmos recursos ou para fazermos dinheiro.¨
Analistas acreditam que poderia haver o fechamento de algumas unidades.
¨Eu creio que eles terão que fechar uma planta ou duas para trazer a capacidade em linha com a oferta¨, afirmou Rich Nelson, analista de pecuária da Allendale.
Segundo Nelson, o fechamento poderia ocorrer em mais alguns anos.
AÇÕES SOBEM
Em conferência a jornalistas brasileiros, Batista falou, entretanto, que já vê as margens do setor melhorando nos EUA, depois de um período em que ficaram negativas.
¨Estamos assistindo a uma importante mudança, se observarmos os preços de carne e de boi. Acreditamos muito ser possível operar com 3 por cento de margem Ebitda, achamos que o mercado dos EUA está melhorando, atingir margens de 3 por cento não é desafio para os próximos cinco anos, queremos atingir ao longo deste ano¨, disse Batista.
Ele lembrou que uma margem de 6,5 por cento nos EUA equivale à de 14 por cento que a empresa tem no Brasil, porque o preço do produto norte-americano é maior.
Segundo ele, o mercado dos EUA registrou uma competição ¨irracional¨ após a compra da Swift pelo JBS, em meados do ano passado. ¨Estava tudo preparado para sucumbir uma empresa, que era a Swift, e não para receber um player novo.¨
As ações de companhias como Tyson e Smithfields, além das do JBS, subiam nesta quarta-feira, depois que analistas disseram que o negócio poderia ser bom para as companhias.
Para a Tyson, o acordo significa menos companhias comprando gado, o que aumenta o poder de barganha das empresas, segundo o analista da indústria Kenneth Zaslow, da BMO Capital Markets.
Por volta das 17h, as ações da JBS subiam 7,6 por cento na Bovespa, enquanto o índice da bolsa avançava 1,6 por cento.
Após aquisições, JBS assume liderança global
O grupo brasileiro JBS, que anunciou na noite de terça-feira a aquisição de três empresas nos Estados Unidos e na Austrália, deverá assumir a liderança em vendas mundiais de carne bovina, assim que os órgãos antitrustre dos países aprovarem as transações.
O JBS, que já é o maior do mundo em abates de bovinos, irá ampliar sua atuação nos EUA e Austrália com as compras por 1,68 bilhão de dólares das empresas norte-americanas National Beef e Smithfield Beef e da australiana Tasman.
¨Somos hoje os líderes em abate. E após a conclusão das aquisições nos tornaremos líderes em vendas do setor. Somente em termos de carne bovina, vamos ter vendas de 20 bilhões de dólares (anuais) e abates de 80 mil bois diariamente¨, afirmou o presidente do JBS, Joesley Mendonça Batista, em conferência com analistas e jornalistas.
Segundo ele, a empresa registra atualmente 10 bilhões de dólares em vendas de produtos bovinos, contra cerca de 15 bilhões de dólares anuais da norte-americana Tyson Foods .
¨Considerando as atividades de suínos nos EUA (com vendas de 2 bilhões de dólares anuais), a empresa vai para 22 bilhões de dólares em vendas¨, acrescentou ele.
Após a integração dos negócios, a empresa terá capacidade de abater 15 milhões de bois por ano, ou mais de 10 por cento do mercado oficial no planeta.
Para fazer frente aos investimentos, a empresa fará uma subscrição privada de novas ações, no valor de cerca de 1,5 bilhão de dólares. Assim, o bloco controlador passará a deter cerca de 51 por cento, contra 63 por cento anteriormente.
De acordo com Batista, todas as empresas juntas vão permitir sinergias de 150 milhões de dólares, em 18 meses após a consolidação do negócio.
O presidente afirmou que, com as novas aquisições, a companhia terá uma base sustentável para vendas para todos os continentes.
¨Dessa forma, temos presença global, cada dia mais preparados para competir, para enfrentar as questões sanitárias e fazer das crises sempre uma oportunidade, o que tem sido o histórico nosso nos últimos anos.¨
CRESCIMENTO ORGÂNICO
Batista ressaltou que, com essas aquisições, ¨encerramos um novo ciclo que se iniciou através da compra da Swift (nos EUA)¨, em meados do ano passado.
¨Consideramos como uma estratégia cumprida¨, disse ele, lembrando que a empresa atua da maneira que gosta, ¨adquirindo empresas com ¨maus resultados para fazê-las produzir bons resultados¨.
Depois de um processo de compras que envolveram grandes frigoríficos nos Estados Unidos, Austrália e Argentina, desde que iniciou a sua expansão internacional, o JBS pretende manter a liderança nas vendas sem novas aquisições de vulto.
¨Para os próximos anos, temos como meta o foco em melhorias operacionais, nos ganhos de sinergia, e seguiremos crescendo organicamente¨, disse Batista.
O presidente afirmou ainda que, após a aprovação das autoridades antitruste, ¨vamos assistir em 2009 uma integração muito grande das três empresas, os custos de integração não são relevantes o ponto de comprometer o nosso plano.¨
O JBS comprou operações da National Beef por 970 milhões de dólares, sendo 410 milhões em dívidas.
As operações de bovinos da Smithfield foram adquiridas por 565 milhões de dólares, com quatro frigoríficos nos EUA, incluindo a subsidiária Five River, com dez confinamentos, a maior do setor norte-americano.
¨E curiosamente, dos dez confinamentos, 60 por cento já fornecem à Swift, ou seja, vai ter uma boa sinergia a ser capturada nesse negócio.¨
O Tasman Group, que opera no sul da Austrália, do mesmo lado onde o JBS já opera, foi comprado por 150 milhões de dólares.
¨Temos forte chances (de ver a aprovação) e só por isso estamos fazendo o negócio, contamos com aprovação de 100 por cento.¨
O National Beef teve vendas de 5,6 bilhões de dólares no último ano fiscal. Entre as unidades compradas, três plantas de abate com capacidade para 14 mil bois/dia. ¨National Beef tem se mostrado a empresa com melhores resultados do setor, enxuta, que performa sempre melhor do que os concorrentes...¨.
O Smithfield opera com quatro abatedouros, para 2 mil cabeças/dia, e vendas de 2,8 bilhões de dólares. Já a Five Rivers produz 2 milhões de cabeças por ano.
A Tasman teve vendas de 465 milhões de dólares no ano fiscal, com abates diários de 2,7 mil cabeças/dias, e possui também abate de ovinos.