PF terá base na fronteira com a Colômbia 11/03/2008
- Roberto Godoy e Felipe Recondo
O governo brasileiro confirmou ontem, após duas semanas de conflito militar e diplomático entre a Colômbia, o Equador e a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que a Polícia Federal (PF) vai inaugurar uma nova base de operações. A base será aberta “nas próxima semanas”, segundo o ministro da Justiça, Tarso Genro, e instalada bem perto da fronteira colombiana.
Genro afirmou que a atuação na área segue a “rotina”, mas admitiu, ao mesmo tempo, que o reforço da fiscalização na fronteira foi motivado por informações do serviço de inteligência do governo.
“A Polícia Federal aumenta ou diminui o trabalho com informações que recebe do serviço de inteligência”, disse o ministro. “As fronteiras são policiadas pela PF e pelas Forças Armadas. Maior ou menor grau de tensão sempre implica a atuação desses órgãos que garantem a nossa soberania”, acrescentou.
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Ele evitou detalhes: “Informação de inteligência é uma coisa que não se comenta.” Segundo Genro, a PF executa há vários anos operações destinadas a desestimular a ação principalmente de traficantes de drogas.
A base que será aberta em maio na confluência dos Rios Solimões e Içá é quase um forte, dotado de câmeras de longo alcance com capacidade de visão noturna, centro de comunicações, radar de superfície e sofisticada estação de vigilância eletrônica.
Não há bases nem acampamentos das Farc em território brasileiro -“a fronteira está protegida”, garante o ministro da Defesa, Nelson Jobim, rejeitando a declaração do presidente do Equador, Rafael Correa, sobre a infiltração de guerrilheiros na Amazônia brasileira.
Nos anos 90, a situação era diferente. Na época, o Comando Militar da Amazônia (CMA) identificou três frentes revolucionárias que mantinham posições em território colombiano a não mais de 20 quilômetros dos limites com o Brasil.
PLANO DE ASSALTOS
Em meados de 2004, segundo o CMA, durante dois meses as Farc planejaram assaltos a posições do Exército na fronteira de 1.600 quilômetros entre os dois países. O grupo guerrilheiro buscava obter armas, munições, alimentos e suprimentos médicos. O efetivo militar em Querari, o ponto mais tenso, acabou reforçado por 40 homens especializados em luta de selva. Foi o último movimento potencialmente agressivo dos guerrilheiros registrado pela rede de inteligência militar do Brasil na área.
Naquela ocasião, fotos de satélite do Ministério da Defesa mostraram as marcas de um acampamento em meio à mata mais baixa, na área habitualmente utilizada pela guerrilha. Analistas do Comando, em Manaus, acreditam que as Farc estavam agrupando uma coluna com cerca de 160 homens e mulheres em Jurupari.
RECURSOS AVANÇADOS
O CMA tem entre 23 mil e 25 mil homens, entre os quais os integrantes das unidades de Infantaria de Selva, talvez os melhores combatentes desse tipo em todo o mundo. A vigilância da região envolve também os avançados recursos da Força Aérea Brasileira (FAB) - aviões eletrônicos R-99A, de alerta avançado, e R99B, de sensoriamento remoto, ambos montados sobre as plataformas dos jatos civis da Embraer, os ERJ-145.
Essas aeronaves atuam com os radares do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) e podem coordenar caças ou turboélices de ataque leve em missões de interceptação de aeronaves clandestinas ou em missões de bombardeio.
O Ministério da Defesa precisa de R$ 1 bilhão para investir prioritariamente no programa de blindagem da Amazônia.
As Forças Armadas estão intensificando a proteção do território e do espaço aéreo no Norte, Noroeste e Oeste por meio da instalação de novas bases, transferência para a região de tropas do Sul-Sudeste e expansão da flotilha fluvial da Marinha. Segundo a previsão, o contingente chegará a 27 mil militares entre 2010 e 2011.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou a operação em 21 de julho. O planejamento mais recente envolvendo o arco da fronteira norte, noroeste e oeste é de 2006.
O documento define que o Comando Militar da Amazônia vai instalar três novas bases no Acre entre os Distritos de Foz do Breu, Pé de Serra e Foz do Moa, todos no Município de Marechal Taumaturgo.
O pacote abrange ainda a criação de cinco outras unidades no Amazonas e no Amapá. Em 2009 será completada a transferência dos 4 mil soldados da 2ª Brigada de Selva, atualmente instalada em Niterói, para a região do Alto Rio Negro.
O Comando da Aeronáutica está montando dois centros avançados de operações aéreas em Vilhena (RO) e em Eirunepé (AM). Em julho, foi terminada a ampliação da pista de Caramambatai (RR), na tríplice fronteira com a Venezuela e a Guiana.
Atualmente, a aviação militar dispõe de bases em Manaus (AM), Porto Velho (RO), Boa Vista (RR) e, com certas limitações, em Rio Branco (AC).
Na Serra do Cachimbo, onde a Força Aérea Brasileira mantém um centro de testes, também haverá instalações equipadas para ações de combate.