China concorda em comprar grandes volumes de soja e carne de porco dos EUA 26/09/2019
- Estadão + Dow Jones Newswires
O Ministério de Comércio da China informou nesta quinta-feira que empresas locais concordaram em comprar “grandes volumes” de soja e de carne de porco dos Estados Unidos, antes de autoridades de alto escalão dos dois países retomarem negociações comerciais em Washington no próximo mês.
Empresas chinesas vêm fazendo consultas sobre os preços de produtos agrícolas dos EUA, afirmou o porta-voz do ministério, Gao Feng, em coletiva de imprensa semanal. Ele não especificou quantidades ou valores das compras.
Recentemente, a China anunciou que iria isentar importações de soja, de carne de porco e de outros produtos agrícolas americanos de tarifas retaliatórias.
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Segundo Gao, funcionários dos governos de ambos os países estão mantendo contato próximo para discutir detalhes das discussões comerciais previstas para ocorrer em Washington em outubro.
Nos 12 meses até julho, as exportações agrícolas dos EUA para a China diminuíram quase US$ 10 bilhões em relação ao mesmo período de um ano antes, representando uma queda de mais de 50%.
Apenas as oleaginosas – incluindo soja – responderam por mais de US$ 7 bilhões da redução, com um tombo de 65% nas exportações.
A concordância da China em comprar carne suína dos EUA vem num momento em que Pequim tem adotado medidas para reduzir a escassez doméstica do produto, devido a um surto de peste suína africana que já dura um ano. As medidas incluem incentivos agrícolas, a utilização das reservas emergenciais de carne suína e o aumento de importações do produto.
O governo chinês vai liberar mais 10 mil toneladas de carne suína de suas reservas antes do feriado nacional de 1° de outubro, afirmou Gao.
CARNES
Um possível acordo entre Estados Unidos e China pode prejudicar o Brasil nas exportações de proteína animal ao País, avalia o professor sênior de Agronegócio Global do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Marcos Jank.
Segundo ele, a China tende a não aceitar ficar dependente da soja norte-americana (além dos Estados Unidos, o Brasil também é seu fornecedor usual) e por isso o acordo a ser fechado pelos países tende a envolver outros produtos, como as carnes, segmento em que o Brasil busca maior participação.
“É interesse dos Estados Unidos aumentar as exportações desses produtos para a China. É provável que sejam utilizados como moeda de troca”, disse Jank ao Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) nos bastidores do 26º Congresso Internacional da Indústria do Trigo, encerrado na terça-feira, 24, em Campinas (SP).
Jank também considera que frigoríficos brasileiros devem ser mais cautelosos ao comemorarem habilitações de plantas para a China.
Na sua análise, é pouco expressiva a autorização de exportação de 89 plantas brasileiras para o país asiático, se levar em conta que o Brasil possui mais de 2 mil unidades credenciadas com o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF).
“Até o momento, o agronegócio brasileiro foi beneficiado com essa prática de comércio administrado da China com salto nas exportações de algodão e soja. Mas precisamos tomar cuidado porque a China protege muito e estrategicamente segmentos que aspiramos.”