UE volta a dificultar exportação de carne 07/04/2008
- Agência Estado
As exportações de carne do Brasil para a Europa voltam a ser alvo de uma polêmica dentro do governo. A reportagem teve acesso a um comunicado interno do Ministério da Agricultura que causou pânico entre o setor privado.
O documento, do dia 2 de abril, alertava que as empresas exportadoras teriam de ter cautela na compra de carne de fazendas que, teoricamente, já teriam sido autorizadas a vender.
O problema é que empresas compraram carne e gado dessas fazendas, acreditando que estavam certificadas para serem exportadas para o mercado europeu.
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No fim de fevereiro, a União Européia (UE) barrou as carnes brasileiras, afetando exportações de US$ 1,4 bilhão por ano. O motivo era a falta de certificação sanitária. Algumas semanas depois, 95 fazendas foram autorizadas a vender, depois de uma ampla inspeção feita pela UE.
Nos últimos dias, porém, o setor privado levou um susto. Segundo um comunicado do governo, os europeus não estariam liberando automaticamente a carne de cada uma das fazendas liberadas para a exportação.
¨Em decorrência do problema (sanitário), a exportação está vinculada à liberação de fazendas habilitadas previamente, o que reduz consideravelmente o volume de carnes em condições de serem exportadas¨, apontou o Ministério da Agricultura no documento.
O Ministério da Agricultura ainda faz uma advertência e sugere que ¨se tenha precaução no abate de animais dessas fazendas, com vistas a exportação de carnes para a UE, até que se disponha de um posicionamento, formal e definitivo, das autoridades sanitárias européias¨.
Brasil será potência na exportação de carnes, diz UE*
Uma vez resolvida a questão sanitária, será difícil competir com o País, diz relatório divulgado pelo bloco
O Brasil será o país que mais ganhará com as exportações de carnes nos próximos dez anos e deslocará a produção e exportação européia em vários setores. A avaliação é da própria União Européia que, apesar de impor sanções contra os produtos brasileiros por questões sanitárias, admite em um documento interno sobre a situação da agricultura até 2014 que o Brasil ¨continuará a ganhar mercados¨ nos próximos anos.
Segundo o documento, o País representa de fato uma ameaça aos interesses comerciais dos exportadores europeus e o mundo ficará cada vez mais dependente das carnes brasileiras, argentinas e uruguaias. No curto prazo, porém, os europeus alertam que a decisão de suspender parte das importações de carne no Brasil por questões sanitárias poderá ter um impacto nos mercados. Isso se o embargo parcial continuar e se o Brasil não resolver seus problemas de controle da produção.
Uma vez resolvido a questão sanitária, a UE reconhece que será difícil competir com o Brasil. ¨As exportações européias não devem conseguir manter mesmo ritmo de crescimento¨, afirmou o documento. O fortalecimento do euro também seria um fator que atrapalharia o produto europeu para competir com os demais.
Se os obstáculos sanitários forem solucionado, a UE traça um panorama positivo para o País. ¨Entre os exportadores, o Brasil levaria a maioria dos ganhos, capturando uma parcela cada vez maior das exportações de carne no mundo¨, afirmou a UE.
O cenário do mercado de carnes nos próximos anos indica um aumento mundial do consumo e do comércio. 80% do crescimento desse mercado, porém, viria dos mercados emergentes, e não dos países ricos. No total, a UE estima que o consumo médio de carne por habitante da Europa passe de 84,5 quilos por ano para apenas 87,2 quilos até 2014.
Entre os importadores, a UE destaca que a dependência em relação à carne sul-americana aumentará. Entre os países que mais demandarão carne bovina estão o Egito, México, Filipinas, China, Japão, Coréia do Sul, além dos próprios europeus, que sofrerão uma queda na produção e vendas.
No setor da carne bovina, os europeus já registraram uma queda de 0,3% na produção em 2007. Já as exportação tendem a cair em 38% diante da concorrência de outros países. No total, a produção européia tenderá a cair para 7,6 milhões de toneladas até 2014, 438 mil toneladas a menos que hoje.
No que se refere à carne suína, a preferida entre os europeus, a previsão é de alta na produção e consumo. Mas o levantamento alerta que vai sofrer cada vez mais a concorrência do Brasil. Os principais consumidores serão os coreanos, taiwaneses, chineses e mexicanos.
Mais uma vez, porém, o Brasil aparece como principal ameaça. ¨O crescimento de produtividade e políticas favoráveis podem permitir que o Brasil capture uma parcela ainda maior do mercado¨, afirmou a UE. Já o comércio de frango brasileiro teria um ¨forte aumento¨ para o mercado europeu como resultado de acordos comerciais. No médio prazo, essa alta seria apenas moderada. Mesmo assim, a UE passaria de um exportador de frango para a condição de importador do produto a partir de 2008.
¨As exportações de frango da Europa estão projetadas para ter uma queda gradual diante da concorrência externa e de baixo custo de produção em alguns países¨, afirmou o documento. A relação entre euro e o real também facilitaria as vendas brasileiras. Outros mercados consumidores com potencial de crescimento das importações são a Arábia Saudita, Rússia e Ásia.