UE divulga documento que mostra caos na pecuária do Brasil 10/04/2008
- Jamil Chade - O Estado de S. Paulo
Inspetores do bloco encontraram animais sem registro, surtos de aftosa encobertos e outras irregularidades
Surtos de aftosa que podem ter sido abafados, gados já abatidos que apareciam como vivos no base nacional de dados do serviço brasileiro de rastreabilidade do rebanho (o Sisbov), fraude, animais sem registro e movimentos de gado entre regiões contaminadas pela febre aftosa e zonas livres da doença. Esse cenário de verdadeiro caos é o que os inspetores europeus encontraram no Brasil e levou à suspensão parcial do comércio de carne há dois meses.
Um relatório feito no final de 2007 pela União Européia (UE) será divulgado entre hoje e amanhã. As conclusões são de um sistema com informações adulteradas e nenhum controle.
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¨Falhas sistêmicas foram identificadas em relação ao registro das fazendas, identificação de animais e controle de movimentos¨, afirma o documento, obtido pelo Estado antes de sua publicação oficial.
Ainda que alguns erros tenham sido corrigidos e uma nova missão européia já tenha visitado o País em março, as constatações do documento ainda preocupam e só agora as evidências se tornarão públicas. O documento mostra que 22 fazendas com o surto da aftosa não tiveram suas informações passadas aos europeus ou à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). A constatação é de que a Europa pode ter importado carne de fazendas em zonas contaminadas e que alguns casos de surto podem ter sido abafados para evitar problemas na exportação de carne.
A lista é extensa e inclui até problemas detectados no início de 2007, com a constatação de que o vírus da aftosa ainda circulava em algumas áreas.
A discrepância entre os dados registrados no Sisbov sobre o gado vacinado e as informações nas fazendas também assustaram. Das 54 fazendas visitadas, 10% delas tinham dados que não condiziam com os registros oficiais. Em um dos casos, 701 animais que foram abatidos apareciam como vivos nos dados do Sisbov. Houve até mesmo a constatação de que alguns funcionários do governo tinham ¨conflito de interesse¨ ao ser ao mesmo responsáveis pelo registro dos animais e ligados ao setor.
REGISTROS
Outra descoberta dos europeus foi a prática de fazendeiros de fraudar o sistema de registro de gados com manipulação dos chips. Em uma fazenda, 1,5 mil registros que deveriam estar colocados nas orelhas do gado foram encontrados em caixas, mas 70% do gado ainda estava vivo e registrado no Sisbov.
Diante das informações publicadas, o presidente da Associação Irlandesa de Fazendeiros, Padraig Walshe, pede que a carne brasileira seja barrada da UE. ¨A realidade é que o Brasil não tem um sistema de rastreabilidade e a única opção é banir de forma indefinida a carne brasileira¨, afirmou.
Diplomatas brasileiros alegam que as informações que estão sendo publicadas são ¨velhas¨ e foram registrados avanços desde então.
A UE preferiu não comentar o resultado do relatório até que ele seja divulgado oficialmente. Mesmo assim, Bruxelas deixou claro que um novo documento começará a ser produzido pelos inspetores com base na viagem realizada em março.