Aumento no preço do arroz deve continuar, diz estudo 12/04/2008
- Folha Online com France Presse
Uma pesquisa de um dos principais centros de pesquisa do setor de agricultura na Ásia, o Instituto Internacional de Pesquisa em Arroz (IRRI, na sigla em inglês), informou ontem que o preço do produto deve aumentar ainda mais.
O instituto, baseado nas Filipinas, afirmou em sua revista, ¨Rice Today¨, que a demanda está ultrapassando a produção. O preço do arroz registrou alta de até 70% em 2007, e o aumento de preços acelerou ainda mais nas últimas semanas.
¨O desequilíbrio entre fornecimento e demanda, no longo prazo, está claramente indicado pela diminuição do estoque, que está ocorrendo há vários anos¨, disse Sushil Pandey, economista agrícola do IRRI.
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Segundo Steve Jackson, editor da BBC para o Leste Asiático, cerca de 3 bilhões de pessoas, quase metade da população mundial, dependem do arroz como alimento base de suas dietas.
Fatores
O instituto afirma que vários fatores são responsáveis pelo aumento no preço do arroz. ¨Estamos consumindo mais do que estamos produzindo, e é preciso fazer mais pesquisas para aumentar a produtividade do arroz, para sanar este desequilíbrio¨, acrescentou Pandey.
Segundo o IRRI, as terras para produção de arroz e a água para irrigação estão sendo perdidas devido à industrialização e à urbanização.
A crescente demanda por carne e laticínios, principalmente na crescente classe média de países como Índia e China, também está tomando as terras que antes eram voltadas para a produção de arroz.
Fatores climáticos como inundações na Indonésia e Bangladesh, e o recente clima frio no Vietnã e na China, também prejudicaram a produção, segundo o IRRI. Os grandes produtores de arroz, China, Vietnã, Egito e Índia, impuseram restrições às exportações.
Biocombustíveis são responsáveis por disparada
O forte aumento da produção de biocombustíveis nos Estados Unidos e na Europa é um fator importante da disparada dos preços dos alimentos no mundo, pressão que é responsável por tumultos no Haiti e na África, considerou nesta sexta-feira o presidente do Bird (Banco Mundial), Robert Zoellick.
¨Os biocombustíveis são sem dúvida um fator importante¨ no aumento da demanda em produtos alimentares, afirmou Zoellick em entrevista à rádio pública americana NPR.
¨Está claro que os programas públicos na Europa e nos Estados Unidos acarretaram um aumento da produção de biocombustíveis, o que provocou a intensificação da demanda em produtos alimentares¨, explicou.
O preço do milho, utilizado na produção de álcool, dobrou nos dois últimos anos devido à forte demanda. ¨É preciso reconhecer que o aumento da demanda em biocombustíveis tem um impacto em todos os preços dos produtos alimentares, e isso representa um grave perigo em algumas partes do mundo, como no Haiti ou na África¨, frisou Zoellick. ¨Espero que isso vá estimular os Estados Unidos, os europeus, os japoneses e os outros a trazerem seu apoio para responder a esta situação de emergência¨, comentou.
A disparada dos preços alimentícios e da energia motivou nesta semana violentos protestos no Haiti e no Egito, assim como uma greve geral em Burkina Faso. Na nação caribenha morreram pelo menos cinco pessoas por causa das revoltas.
Ontem, em Haia, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu os biocombustíveis. Lula afirmou que os recentes aumentos nos preços dos alimentos indicam que é necessário produzir mais em nível mundial, mas que não se pode culpar o investimento nos biocombustíveis pela pressão.
Também ontem, Zoellick pediu uma ação internacional ¨imediata¨ para enfrentar a situação de emergência em países em desenvolvimento por causa do aumento do preço dos alimentos.
¨Em primeiro lugar para a crise imediata, a comunidade internacional deve cobrir pelo menos o vácuo de US$ 500 milhões no programa alimentar das Nações Unidas para satisfazer as necessidades de emergência¨, disse Zoellick. Segundo ele, o efeito da atual crise alimentícia na redução da pobreza em nível mundial equivale a sete anos perdidos.
Se manifestaram ainda sobre o assunto o primeiro-ministro britânico, Gordon Brow, a ONU (Organização das Nações Unidas), o FMI (Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o representante da FAO (Organização da ONU para a Agricultura e Alimentação) para América Latina e Caribe, José Graziano.
O aumento dos preços está na pauta das próximas reuniões do Bird e do FMI (Fundo Monetário Internacional) neste fim de semana, em Washington.