Os fundamentos relacionados à oferta e à demanda, que sempre balizaram a formação de preço das commodities agrícolas, deixaram de ser fatores determinantes dos rumos do mercado. Atualmente, as cotações dos futuros agrícolas são influenciadas diretamente pela presença dos fundos de investimento, que ditam as tendências, independentemente dos tais fundamentos.

¨Hoje em dia, dizer a que nível os preços podem chegar é algo mais difícil, pois, além dos fatores de oferta, demanda e clima, temos novos agentes. É o que está sendo chamado de financeirização do mercado¨, afirma o sócio-diretor da consultoria AgRural, Fernando Muraro Jr.

O analista diz que, na Bolsa de Chicago, 40% dos contratos abertos são de fundos de investimento, volume que nunca havia sido registrado, mesmo na maior bolsa de commodities agrícolas do mundo. ¨Há pouco mais de 30 dias, os fundos estavam comprados em mais de 21 milhões de toneladas de soja, volume expressivo. Em março do ano passado a posição comprada era de 10 milhões de toneladas. Essa é a nova formação de preço que está em jogo¨, explica o analista.


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Dentro desse novo contexto, o produtor também já está mudando sua forma de interagir com o mercado. Os agricultores estão comprando cada vez mais cedo os fertilizantes que usarão para o próximo plantio. Muraro diz que, para a safra 2008/2009, cerca de 70% da comercialização de fertilizantes para o Centro-Oeste já foi concluída. ¨E isso vale também para outros insumos, como sementes e agroquímicos. Estamos no mês de abril e praticamente já conseguimos calcular para onde vão os custos da safra 2009¨, diz.

O aumento do interesse na antecipação das compras de fertilizantes é explicado pela rápida valorização que esses insumos tiveram em um curto espaço de tempo. Em dezembro do ano passado, muitos produtores já haviam iniciado suas compras e pagaram de R$ 800 a R$ 900 pela tonelada das fórmulas mais simples e utilizadas com maior freqüência pelo agronegócio nacional.

ANTECIPAÇÃO

Atualmente, a mesma formulação está sendo negociada no mercado a um preço médio de R$ 1.200 por tonelada, mesmo com a colheita da safra 2006/2007 chegando à fase final. ¨No fim do primeiro trimestre do ano passado, a tonelada da formulação mais simples era negociada por R$ 500 a R$ 600, mostrando que em um ano os fertilizantes dobraram de preço e se deu melhor quem conseguiu antecipar ao máximo suas compras.¨

Apesar de saber mais cedo o custo de produção da próxima safra, o consultor diz que é importante para o agricultor garantir também sua receita e travar sua margem de lucro. ¨Não existe outra forma de atuar no mercado que não seja usando ferramentas de derivativos¨, afirma. Muraro cita como exemplo a safra de soja no Centro-Oeste. A maioria dos produtores vendeu a soja antecipadamente pela média US$ 15/saca e hoje as cotações variam entre US$ 18 e US$ 20 por saca.

Mas a atuação direta do produtor no mercado futuro ainda é considerada uma incógnita, dada a falta de tradição dos agricultores em trabalhar com derivativos. ¨O produtor precisa entender que ficou muito difícil definir o preço dos produtos, dada a volatilidade e a financeirização do mercado agrícola. A formação de preço se perdeu¨, afirma.

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