General considera terra indígena de fronteira risco à soberania 17/04/2008
- Mair Pena Neto - Reuters
O general Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia, classificou a transformação da faixa da fronteira norte do país em terras indígenas como ameaça à soberania nacional.
O militar não se mostrou preocupado em contrariar posição do governo, que defende a homologação de terras indígenas mesmo em regiões de fronteira, e disse que o Exército ¨serve ao Estado brasileiro e não ao governo¨.
Em palestra sobre a defesa da Amazônia no seminário ¨Brasil, ameaças a sua soberania¨, nesta quarta-feira, no Clube Militar, no Rio de Janeiro, o general falou de sua preocupação com os territórios indígenas na faixa de fronteira.
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O general lembrou o compromisso brasileiro com declaração da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o direito dos povos indígenas, que destaca a desmilitarização das terras indígenas como contribuição para a paz e o desenvolvimento econômico e social.
¨Quer dizer que o problema somos nós?¨, perguntou o general sob aplausos entusiasmados da platéia de militares.
Para o general Heleno, a política indigenista está dissociada do processo histórico do país e precisa ser revista com urgência.
¨É um caos, não funciona. Os problemas são enormes, o alcoolismo é crescente¨, disse o general referindo-se à situação de tribos amazônicas.
¨Sou totalmente a favor do índio¨, frisou o general. ¨Não sou da esquerda escocesa que atrás de um copo de uísque resolve os problemas brasileiros. Eu estou lá na Amazônia vendo o que acontece com o índio brasileiro.¨
O general reiterou sua posição contrária à demarcação contínua da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, que quase levou a um conflito violento entre a Polícia Federal e arrozeiros que serão obrigados a deixar a área.
Uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a operação da Polícia Federal que desalojaria os fazendeiros de arroz que se recusam a deixar terras da reserva. Cinco grandes plantadores de arroz possuem oito fazendas na área indígena. O governo se propõe a pagar indenização pelas benfeitorias
Segundo o general, o índio também é brasileiro e não deve ser excluído da convivência com outros brasileiros.
¨Quer dizer que na Liberdade vai ter japonês e não japonês¨, comentou o general utilizando como exemplo o bairro paulista de forte presença japonesa. ¨Como um brasileiro não pode entrar numa terra só porque não é indígena¨, questionou.
Além da questão indígena, o general Heleno apresentou como ameaças à Amazônia os conflitos fundiários, as organizações não-governamentais e os diversos ilícitos.
Em sua opinião, o desenvolvimento da Amazônia vai acontecer independentemente da nossa vontade. ¨É impossível preservar a Amazônia como lenda, floresta verde. O que depende de nós é fazer com que (o desenvolvimento) aconteça de forma sustentável¨, defendeu.