Clube da Aeronáutica se solidariza com general e ameaça com movimento militar 18/04/2008
- Luisa Belchior - Folha Online
O Clube da Aeronáutica reforçou a reação de militares à repreensão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao general Augusto Heleno Ribeiro Pereira. O general Heleno criticou a política indigenista do governo federal. O presidente do clube, tenente-brigadeiro da Aeronáutica Ivan Frota, afirmou, em nota, que ¨o país conhecerá o maior movimento de solidariedade militar¨ caso as repreensões continuem.
A nota foi distribuída nesta sexta-feira a integrantes das Forças Armadas durante o terceiro dia do seminário ¨Brasil, ameaças a sua soberania¨, na sede do Clube Militar do Rio, no qual, anteontem, o general Heleno chamou de ¨caótica e lamentável¨ a política indigenista do país.
Frota disse que o discurso do general Heleno ¨representa a síntese do pensamento castrense atual¨ e criticou a atitude do presidente Lula de pedir esclarecimentos sobre a crítica ao ministro Nelson Jobim (Defesa).
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¨Que o presidente não se atreva a tentar negar-lhe [ao general Heleno] o sagrado dever de defender a soberania e a integridade do Estado brasileiro [...]. Caso se realize tal coação, o país conhecerá o maior movimento de solidariedade, partindo de todos os recantos deste imenso país, jamais ocorridos nos tempos modernos de nossa História¨, afirmou em nota o tenente-brigadeiro.
Também nesta sexta-feira, o general do Exército Gilberto de Figueiredo, presidente do Clube Militar, afirmou que as críticas do general Heleno não ferem nenhuma hierarquia ou disciplina. ¨Acho que ele [presidente Lula] não entendeu o que aconteceu. O general Heleno falou sobre algo de sua responsabilidade. Não é de hoje que essa área é polêmica¨, disse.
Presente no seminário, o almirante-de-Esquadra Marcos Martins Torres, chefe do Estado-Maior de Defesa, segundo na hierarquia do Ministério da Defesa, não quis comentar a reação do presidente Lula.
O general Mario Madureira, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Leste, também esquivou-se de polêmica e disse que é direito do presidente Lula pedir esclarecimentos, mas negou achar que houve ato de insubordinação. Sobre as críticas dos clubes Militar e da Aeronáutica, afirmou que ¨os clubes militares têm todo o direito de se manifestar¨.
DEM alerta contra clima de insurreição em reservas e critica governo por intimidar general
O presidente do DEM, deputado federal Rodrigo Maia (RJ), divulgou nota apoiando o general general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que foi cobrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva por criticar a política indigenista do governo. Anteontem, o general chamou a política de ¨caótica¨ e ¨lamentável¨.
Em nota, Maia cobra ¨medidas efetivas contra o clima de quase insurreição que temos vivido¨. ¨A pretexto de transformar tribos em ´supostas nações independentes´, ONGs estrangeiras interessadas em consolidar a invasão do território nacional, agem livremente na reserva, que faz fronteira com a Venezuela e a Guiana.¨
Os índios, entretanto, negam representarem uma ameaça à soberania nacional. ¨Pedimos para o presidente que entenda que nós, as populações indígenas, também defendemos as faixas de fronteira. Não é o que o general disse que nós somos um empecilho. Não somos um empecilho¨, reagiu o vice-presidente da Coordenação das Organizações Indígenas Brasileiras, Marcos Aporinan, que se encontrou hoje com o presidente Lula.
O presidente do DEM critica o que chama de suposta tentativa de intimidar o general Heleno. ¨Com o pedido de explicações, o governo busca intimidar, ameaçar e silenciar o comandante com o objetivo de enfraquecer a posição de todos os que defendem a revisão da política indigenista do governo porque ela implica ameaça à segurança nacional¨, diz ele.
Maia afirma ainda que o governo ¨atua com permissividade e leniência ante as ilegalidades de grupos que investem contra a democracia, o estado de direito e a segurança pública¨. ¨É com apoio, estímulo e financiamento público que o MST pratica ações ilegais e achincalha o direito de propriedade previsto na Constituição sem receber nenhuma advertência.¨