Pesquisas de boca de urna indicam favoritismo de Lugo 20/04/2008
- Márcia Carmo - BBC
Duas pesquisas de boca-de-urna sugerem que o presidenciável Fernando Lugo, da Aliança Patriótica para a Mudança (APC, na sigla em espanhol), foi o mais votado nas eleições realizadas neste domingo no Paraguai. De acordo com levantamento divulgado pela televisão Telefuturo e pelo jornal Ultima Hora, Lugo obteve 40,1% dos votos.
Pela pesquisa, a candidata do governo Blanca Ovelar, do Partido Colorado, teria recebido 37,2%. Lino Oviedo, da UNACE, teria recebido 16,9% da votação, e Pedro Fadul, da Pátria Querida, estaria com 2,3% dos votos, de acordo com a pesquisa.
Outra pesquisa de boca de urna divulgada pelo jornal ABC Color e pela radio Ñanduti também indica a liderança de Lugo, com 43,37% dos votos, seguido por Ovelar (37%), Oviedo (16,4%) e Fadul (3%).
PUBLICIDADE
A votação foi encerrada no Paraguai às 17h (16h no horário de Brasília).
Incidentes
A quinta eleição presidencial no Paraguai desde o início do período democrático em 1993 foi marcada pela tranqüilidade geral, com alto índice de participação.
Observadores internacionais acreditam que o índice de comparecimento às urnas pode chegar a até 65%.
Apesar do clima calmo, alguns incidentes foram registrados.
O Tribunal Superior de Justiça Eleitoral (TSJE), em Assunção, foi alvo de ameaça de bombas, mas nada foi encontrado no prédio.
A presidente da ONG Transparência Internacional, Pilar Callizo, disse à televisão Telefuturo que a entidade recebeu denúncias de compra de votos e cédulas marcadas previamente.
¨O problema é que os eleitores reclamam imediatamente, no mesmo local de votação, mas os policiais têm medo de atuar contra as irregularidades do Partido Colorado¨, afirmou.
Na rádio Uno, os apresentadores disseram ter recebido denúncias de que eleitores estariam fotografando seus votos com aparelhos celulares. O registro fotográfico seria usado para receberem pagamentos.
Em alguns casos, como no colégio Santa Ana, de Assunção, a polícia dispersou a fila de eleitores ao receber denúncias de irregularidades.
Em um colégio que foi visitado pelo candidato Fernando Lugo, da Aliança Patriótica para a Mudança, a polícia usou gás lacrimogêneo, segundo a emissora de televisão Cerro Cora, para ¨tranqüilizar os ânimos¨.
Até o final da votação, os meios de comunicação não puderam divulgar dados de boca-de-urna, por determinação da Justiça Eleitoral.
Os principais meios – como os jornais Ultima Hora e ABC Color, a televisão Telefuturo e a rádio Ñanduti – divulgaram parciais de boca-de-urna, revelando apenas os percentuais, mas não os nomes dos candidatos.
A curiosa divulgação dos dados foi criticada por fiscais da Justiça.
Devido protestos da oposição, a Justiça Eleitoral decidiu realizar as eleições deste ano com cédulas de papel, abolindo as urnas eletrônicas brasileiras, que foram usadas no pleito de 2003.
Farpas
O dia de votação também foi marcado pela troca de farpas entre políticos do Partido Colorado.
Na fila de votação, o ex-vice-presidente do atual governo, Luis Castiglioni, criticou seu partido, cuja candidata presidencial é a ex-ministra da Educação, Blanca Ovelar.
¨Vamos curar o Partido Colorado. O nosso movimento ´Vanguarda´ vai dar um jeito na nossa legenda¨, disse.
Castiglioni disputou a interna do partido com Ovelar e denunciou fraudes no processo.
Suas declarações neste domingo agitaram a cúpula do partido que está há 61 anos ininterruptos no poder e, pela primeira vez, tem sua hegemonia ameaçada por candidaturas opositoras.
¨Ele não podia ter dito isso no meio da votação. Isso é atentar contra o nosso partido, contra a votação que poderemos ter nas urnas¨, disse Juan Carlos Alderete, presidente da legenda.
¨Castiglioni não pode achar que é o herói, o dono dos nossos princípios colorados¨, afirmou Ovelar.