Lugo deve seguir exemplo de Lula, sugere jornal ¨The Times¨ 22/04/2008
- BBC
O presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, deve buscar inspiração no líder brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, segundo sugere editorial publicado na edição desta terça-feira do jornal britânico The Times.
¨Em 2005, a Bolívia, a nação mais pobre da América do Sul, elegeu um novo presidente, Evo Morales, que se inspirou em Hugo Chávez. O Paraguai, segundo país pobre da região, não pode repetir o mesmo erro¨, diz o texto.
No editorial, intitulado Poor Paraguay (Pobre Paraguai, em tradução livre), o jornal afirma que apesar de a vitória de Lugo se tratar de ¨um evento extraordinário, até revolucionário¨ no contexto histórico do país, o novo presidente deve agir com cautela.
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Segundo o diário britânico, com exceção de sua postura sobre o tratado de Itaipu, o discurso de Lugo era ¨claramente vago¨ e seus planos de acabar com a corrupção e reduzir a pobreza, difíceis de colocar em prática dadas as condições atuais do Paraguai.
Além disso, o Times afirma que, apesar da derrota nas eleições, o Partido Colorado permanece como uma ¨máquina política formidável¨ e tem a maioria no Senado, o que limitaria as opções de governo do presidente eleito.
Por isso, o diário sugere que Lugo ¨coopere e siga os passos do seu parceiro brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva¨. Segundo o jornal, apesar de o líder brasileiro já ter afirmado que não irá mudar os termos do Tratado, ele teve ¨a honestidade de admitir que os termos atuais são duros com o Paraguai e que o Brasil deve aumentar a ajuda que oferece ao vizinho¨.
De acordo com o Times, um acordo como este pode permitir que Lugo faça alguns progressos sociais e econômicos e ganhe tempo para as reformas que pretende implementar.
¨Lula, que provou ser um democrata social astuto e que está modernizando o seu país, seria um excelente exemplo para o novo presidente do Paraguai¨, diz o texto. ¨Ele também oferece um contraste entre outros exemplos óbvios de liderança, como Hugo Chávez, na Venezuela¨.
Chávez quer se encontrar com Lugo ¨o mais rápido possível¨
Chancelaria de Caracas afirma que presidente paraguaio eleito apoiará plano de integração sul-americano
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o presidente eleito do Paraguai,Fernando Lugo, decidiram impulsionar a União Sul-Americana (Unasul), grupo criado oficialmente em dezembro de 2004 com o objetivo de ampliar o diálogo político e promover a integração econômica, comercial e de infra-estrutura da região. Os dois governantes ainda devem se encontrar ¨o mais rápido possível¨, segundo afirmou a chancelaria venezuelana nesta segunda-feira, 21.
Em comunicado, Caracas afirmou que Chávez e Lugo falaram por telefone ¨após saber de sua vitória nas eleições de ontem, e coincidiram em continuar construindo a Unasul com base na reivindicação da história da luta de nossos povos¨.
¨Os dois presidentes manifestaram seu desejo de se encontrar o mais breve possível para conversar sobre os planos de cooperação e complementaridade¨ e, nesse sentido, Chávez ratificou a Lugo ¨sua vontade de continuar trabalhando em função de conseguir o desenvolvimento partilhado do povo paraguaio e do povo venezuelano¨.
Chávez reconheceu, acrescentou o comunicado, ¨a impecável jornada democrática desenvolvida pelo povo paraguaio¨ nas urnas, o que ¨demonstra a maturidade política atingida por este povo irmão sul-americano¨.
No sábado passado, Chávez negou denúncias do presidente do Paraguai em final de mandato, Nicanor Duarte, de que funcionários do Governo de Caracas mandaram ativistas a Assunção para tentar influenciar na eleição presidencial do Paraguai.
Fidel Castro
Em um comunicado publicado nesta segunda pela imprensa cubana, o ex-presidente de Cuba Fidel Castro previu que ¨nos próximos dias os povos da América Latina estão próximos de enfrentar duas tragédias: a do Paraguai e a da Bolívia¨. Em reflexão datada de sábado, véspera do pleito presidencial paraguaio, Fidel aponta que ¨um ex-bispo católico conta com a maioria arrasadora do apoio do povo, de acordo com pesquisas sérias, e é certa a rejeição a uma fraude eleitoral¨, antes do opositor Fernando Lugo ser confirmado como presidente eleito paraguaio. A outra, de acordo com Fidel, aconteceria na Bolívia devido a ¨ameaça de desintegração real deste território, que conduziria a lutas fratricidas no país¨.
Fernando Lugo, um esquerdista de ares gentis que abandonou a batina três anos atrás afirmando então sentir-se impotente para ajudar os pobres de seu país, conseguiu derrotar, na votação de domingo, os colorados com promessas de minorar as desigualdades e combater a corrupção. Lugo descreve a si mesmo como um político independente e manteve-se afastado dos dirigentes esquerdistas mais radicais da América Latina, como Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia.
No entanto, o ex-bispo é visto como um aliado em potencial dos presidentes esquerdistas mais moderados da região, os quais rejeitaram tanto as ditaduras de direita, quanto os governos extremamente corruptos e as rebeliões marxistas tão comuns no final do século 20.