Desmate não resolve crise de alimentos, diz Marina Silva 28/04/2008
- Cláudio Angelo - Folha de S.Paulo
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse na sexta-feira (25) que a ¨pressão insustentável¨ sobre os recursos naturais não é resposta à crise mundial dos alimentos. Para Marina, destruir ecossistemas para plantar ¨só adia a crise por um tempo¨.
A declaração foi uma resposta à defesa que o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, fez na quinta-feira (24) do desmatamento como mecanismo ¨inevitável¨ para enfrentar a alta global no preço dos alimentos.
Em entrevista à Folha, Maggi afirmou que ¨não há como produzir mais comida sem fazer a ocupação de novas áreas e a derrubada de árvores¨. Ressaltou, no entanto, que só defende o desmatamento legal.
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Instada a comentar a entrevista, Marina evitou criticar diretamente o governador, com quem tem se desentendido nos últimos meses (Maggi questiona os dados do governo federal que mostram a explosão no desmatamento em seu Estado no final de 2007). A ministra disse que a crise dos alimentos é um dado de realidade, mas que a forma de enfrentá-la é ¨lançar mão da melhor tecnologia e do conhecimento científico disponíveis¨.
¨Não é o momento de responder a novos desafios com velhas práticas¨, disse. ¨O ministro da Agricultura diz que nós podemos dobrar a produção no país sem derrubar mais nenhuma árvore.¨
A ministra defendeu que se busquem recursos para recuperar áreas já degradadas e torná-las produtivas. Maggi também havia criticado essa estratégia, dizendo que a maioria dessas áreas não é propícia à agricultura em larga escala.
¨Não é propícia se formos utilizar velhas tecnologias, se for na lógica da pecuária extensiva e da garimpagem de nutrientes¨, disse Marina.
A diretora-executiva da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Tatiana de Abreu Sá, concorda com a ministra na questão da tecnologia, mas também afirma que Maggi está certo quando diz que os agricultores precisam de algum tipo de ¨seguro¨ para produzir em áreas degradadas.
¨Realmente não é preciso desmatar [para produzir alimentos], desde que políticas adequadas sejam feitas¨, disse a dirigente e pesquisadora.
Para Abreu Sá, é possível, com financiamento, logística e incentivos, recuperar as áreas degradadas na Amazônia e produzir ao mesmo tempo. ¨Tecnologia nós temos¨, afirmou.
Tiro no pé
O coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, disse que as declarações de Blairo Maggi foram um ¨passo atrás no esforço de esverdeamento dele¨. No ano passado, ele foi o único governador presente quando um grupo de ONGs lançou uma proposta para zerar o desmatamento na Amazônia. ¨Na ocasião, ele disse que o desmatamento era um leão adormecido¨, recorda-se Adário. ¨Agora ele está fazendo todo o barulho possível para o leão acordar.¨
A oposição entre preservação da floresta e produção de alimentos é uma falsa dicotomia, diz Adário. Segundo ele, é graças às chuvas produzidas na Amazônia que as terras férteis do Centro-Sul são irrigadas. ¨Desmatar é um tiro no pé.¨