Exportação de gado vivo aumenta no trimestre 29/04/2008
- Gitânio Fortes - Folha de S.Paulo
Os embarques de gado em pé seguem de vento em popa. No primeiro trimestre, o volume de bovinos vivos exportados a outros países -- com destaque para Venezuela e Líbano -- chegou a 86,6 mil animais, crescimento de 31% na comparação com os negócios de igual período do ano passado.
A receita em relação a igual período de 2007 ¨explodiu¨ 203%, aumentando para US$ 68,2 milhões, 26% do valor obtido ao longo de todo o ano passado com as vendas de gado do país para abate no exterior. Em 2007, houve mais embarques no segundo semestre.
O grupo Minerva, um dos líderes no embarque de boi em pé, prevê que, em 2008, esses negócios representem 15% da receita da companhia, diz o superintendente de Relações com Investidores, Ronald Aitken.
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Em 2007, foram 13%. Em 2006, 4%. O Minerva está entre os cinco principais exportadores de carne bovina do país.
Os números das vendas externas de gado em pé contrastam com o desempenho dos cortes ¨in natura¨ nos três primeiros meses do ano.
Segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), foram embarcadas 252 mil toneladas, recuo de 10,3% ante igual período de 2007. A receita bateu em US$ 892 milhões, crescimento de 5,3%.
Péricles Salazar, presidente da Abrafrigo (Associação Brasileira da Indústria Frigorífica), considera um retrocesso o país crescer na exportação de matérias-primas, ¨não apenas de bois¨, em vez de produtos com valor agregado.
Segundo ele, não existe a intenção de proibir os embarques, mas, sim, a de taxar essas vendas para dar à indústria do país ¨poder de competição igual¨ aos importadores venezuelanos e libaneses. A Abrafrigo apresentou o assunto à Receita Federal.
Dois lados
Para Ronald Aitken, do Minerva, que atua dos dois lados do balcão, a exportação de gado em pé não pressiona o preço do gado no Brasil.
Estimativa da Scot Consultoria mostra que, no ano passado, os embarques de bovinos equivaleram a apenas 1,4% do abate formal. ¨A pecuária está atualmente num ciclo de alta¨, afirma.
Para José Vicente Ferraz, diretor da consultoria AgraFNP, ¨do ponto de vista econômico, não há sentido¨ em exportar animais vivos em vez de produtos processados. Mesmo assim, considera ¨lamentáveis¨ ações que visem obstruir um canal de venda para os pecuaristas.
¨Quanto mais opções de negócios, melhor para a pecuária como um todo¨, afirma Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria. Para ele, as exportações de gado em pé representam desafios para a cadeia produtiva de determinados Estados, em que a demanda para os embarques é mais intensa. O Pará tem liderado essas vendas.
Responsável pelas pesquisas do mercado pecuário do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP), Sergio de Zen diz ser ¨compreensível, mas não defensável¨ os frigoríficos buscarem resguardar espaço na cadeia produtiva paraense via sobretaxas. Até porque, avalia, a exportação de gado em pé não deve crescer indefinidamente.