Exportadores temem invasão de dólares no Brasil 02/05/2008
- Folha Online
A elevação da nota de risco de crédito do Brasil para grau de investimento feita pela agência Standard & Poor´s pode trazer problemas aos exportadores, pois favorece a entrada de capital estrangeiro no país e a conseqüente valorização do real ante o dólar, informa reportagem Folha de S.Paulo desta sexta-feira.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Exportadores do Brasil), a valorização do real tornará difícil a competição no mercado externo, já que encarecerá nossos produtos. Previsão da AEB prevê queda do saldo da balança comercial de 2008 para US$ 22 bilhões, após ter atingido US$ 46 bilhões no ano passado.
Para o presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína), Pedro de Camargo Neto, a solução momentânea seria baixar os juros. Caso contrário, o agronegócio, grande responsável pelo saldo positivo da nossa balança comercial, não agüentaria ¨pagar a conta¨.
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No dia 30 de abril, a elevação do rating do Brasil em moeda estrangeira em longo prazo passou de BB+ para BBB-, nota que já está incluída no grupo classificado como grau de investimento.
Ontem, um dia após a divulgação da avaliação da Standard & Poor´s, o Bird (Banco Mundial) colocou US$ 7 bilhões à disposição do Brasil até 2011. Foi a maior quantia de créditos do Bird para o país já aprovada em um único dia.
¨Promovidos¨ sentiram efeito no câmbio por dois anos*
A entrada do Brasil no clube dos países considerados bons para se investir (¨investment grade¨) deverá prolongar a valorização do real em relação ao dólar e reforçar a importância das desonerações ao setor exportador esperadas com a nova política industrial, que está sendo elaborada pelo governo.
Nos últimos meses, a preocupação com a trajetória do câmbio, especialmente em 2009 e em 2010, tem tomado conta dos debates da equipe econômica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A pressão dos empresários, que reclamam perda de competitividade com a apreciação da moeda, é grande sobre o governo.
A se confirmarem as previsões de especialistas, reforçadas pelo ocorrido em países emergentes que também alcançaram o patamar de ¨investment grade¨, o Brasil ainda deverá conviver com apreciação do real nos próximos dois anos.
A expectativa é que o impacto da reclassificação da nota atribuída ao Brasil pela agência Standard & Poor´s, anunciada anteontem, produza frutos a médio e a longo prazos, estimulando o ingresso de recursos para investimentos produtivos no país, em vez de aumento do fluxo no curto prazo.
Levantamento feito com Índia, Rússia, México e Coréia do Sul -- países que também receberam o selo de ¨investment grade¨- mostra que as moedas desses países se valorizaram nos 24 meses que antecederam a reclassificação e continuaram se apreciando nos dois anos seguintes.
Pela experiência dessas economias, mesmo diante de turbulências externas que geraram picos de desvalorização em vários países, a tendência de apreciação das moedas locais se manteve.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Coréia, que virou ¨investment grade¨ em janeiro de 1999 e, nos dois anos anteriores, viveu momentos de grande desvalorização da sua moeda devido às crises do Sudeste Asiático e da Rússia. Mas a moeda se recuperou e avançou mais de 47% em relação ao pior momento.
O México teve trajetória semelhante nos 24 meses anteriores a março de 2000, quando atingiu o selo de qualidade para investimento das agências de classificação de risco.
Na Rússia, a apreciação de cerca de 24% antes de o país virar ¨investment grade¨, em outubro de 2003, continuou e chegou a 20% nos dois anos seguintes à conquista da nota.
No caso da Índia, a moeda local registrou valorização de mais de 12% antes da reclassificação, em janeiro de 2004, e teve apreciação de mais 5% nos meses seguintes.
Agora, menor
O tamanho da valorização após o ¨investment grade¨ variou de acordo com o patamar em que a taxa de câmbio estava no momento do anúncio. No caso brasileiro, já houve apreciação do real de 38% desde o final de 2004. Com base nisso, avalia-se que o espaço para novas apreciações a partir de agora seria pequeno.
No entanto o cenário mundial -- com redução da taxa de juros nos Estados Unidos, aumento no Brasil e aversão a risco -- sugere que o Brasil pode se beneficiar de um maior fluxo de investimentos estrangeiros nos próximos anos pelo potencial de crescimento do mercado interno.
O próprio governo tentará medir esse possível impacto a partir de agora para tentar calibrar não apenas as compras de dólares que o Banco Central precisará fazer para reduzir o volume de dólares disponíveis como o estímulo necessário para as exportações.
Apesar da chiadeira dos empresários, que afirmam estar perdendo receitas com as vendas externas, o Ministério da Fazenda já começou a ensaiar o discurso de que é preciso considerar também nessa conta que o real não vem se desvalorizando diante do euro, outro destino das exportações brasileiras. Isso compensaria parte das perdas nas receitas com as vendas em dólar para os EUA.