Primeiro avião dos EUA com ajuda chega a Mianmar 12/05/2008
- BBC
O primeiro vôo americano levando ajuda a Mianmar, desde a passagem devastadora de um ciclone há nove dias, aterrisou na maior cidade do país, Yangun, depois de uma semana de delicadas negociações com o governo militar local.
O avião, do tipo Hercules C-130, veio da Tailândia, levando água, mosquiteiros e lençóis.
Dois outros aviões americanos são aguardados ainda nesta segunda-feira em Mianmar.
O embaixador dos Estados Unidos na Tailândia, Eric Johns, disse à BBC que a China e os outros países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês), estavam pedindo que o governo de Mianmar aceitasse os vários suprimentos de ajuda para as centenas de milhares de pessoas necessitadas, e também permitisse a entrada de especialistas na distribuição desses suprimentos.
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O vice-secretário de Estado americano, John Negroponte, deverá discutir esse assunto em um encontro que terá em Pequim nesta segunda-feira com o ministro do Exterior da China, Yang Jiechi.
A enviada da BBC à fronteira entre a Tailândia e Mianmar, Caroline Duffield, disse que a Ponte da Amizade, que liga os dois países, ¨está deserta¨.
¨Ela deveria estar com um intenso movimento de caminhões levando ajuda e especialistas, mas está vazia¨, disse ela.
Segundo Duffield, organizações de ajuda estão dizendo que a situação está ficando crítica para os sobreviventes do ciclone, desnutridos e desidratados.
Navios americanos com ajuda estão aguardando na costa do país autorização para entrar em águas birmanesas.
Algumas agências humanitárias, entretanto, conseguiram permissão para inciar seus trabalhos em Mianmar.
O Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU) recebeu autorização para distribuir as 38 toneladas de comida que estavam retidas no aeroporto de Yangun, enquanto que agências humanitárias também relataram progressos.
Porém, elas alertaram que a quantidade de ajuda que está chegando às áreas afetadas pelo ciclone está longe de ser suficiente.
A organização não-governamental britânica Oxfam afirma que o número de mortos pode passar dos 100 mil e que 1,5 milhão de pessoas estão sem água potável nem saneamento básico.
Sinais positivos
Sobreviventes do desastre começam a se aglomerar em acampamentos nos limites da área afetada há oito dias.
A ONU, que fez um apelo por US$ 187 milhões de ajuda, diz que os sobreviventes das áreas mais afetadas precisam urgentemente de comida, abrigo e ajuda médica.
Países vizinhos como China e Tailândia têm enviado ajuda para Mianmar.
A ONU estima que apenas um quarto dos sobreviventes do desastre tenham recebido ajuda até o momento.
Porém, o chefe da organização britânica Save the Children in Burma, Andrew Kirkwood, disse que existem sinais positivos nas operações.
¨Parece que mantimentos estão passando pelo aeroporto com muito mais facilidade¨, disse Kirkwood à BBC.
¨As pessoas têm conseguido garantir pelo menos um fornecimento mínimo de barcos e caminhões e combustível. Acho que isso realmente ajudou.¨
¨Tragédia inimaginável¨
O Comitê de Resgate Internacional diz que sem uma imensa entrega de comida, Mianmar corre o risco de vivenciar uma ¨tragédia inimaginável¨.
¨A não ser que haja uma injeção imensa e rápida de ajuda, especialistas e mantimentos nas áreas mais afetadas, uma tragédia de escala inimaginável pode ocorrer¨, disse Greg Beck.
A diretora da Oxfam, Sarah Ireland, disse que o desastre era uma ¨tempestade perfeita¨ que tem ¨todos os fatores¨ para virar uma ¨catástrofe de saúde pública¨.
Enquanto a ajuda tenta chegar às vítimas, o governo militar birmanês afirmou que o comparecimento às urnas no referendo realizado neste sábado foi imenso.
O processo, para aprovar uma Constituição elaborada pela junta militar, foi realizado na maior parte do país, mas foi adiado nas áreas mais atingidas pelo ciclone tropical Nargis, a cidade de Yangun e o delta Irriwady.
A votação foi mantida pelo governo apesar de apelos da ONU para adiá-la e concentrar todos os esforços na ajuda às vítimas do ciclone.
Os generais birmaneses dizem que o referendo vai abrir caminho para eleições democráticas em 2010, mas a oposição diz que a constituição deve solidificar o poder dos militares.