Práticas ruins mancham indústria brasileira do etanol, diz ¨FT¨ 21/05/2008
- BBC
As más condições de trabalho para os cortadores de cana e o impacto ambiental das plantações estão “manchando” a indústria brasileira do etanol, segundo análise publicada nesta quarta-feira pelo jornal britânico Financial Times.
O artigo destaca que a maior parte da cana ainda é colhida a mão, com facões, que não mudaram muito desde que foram criados. “Os intervalos para beber água são curtos e a comida é pouca e não-apetitosa”, diz o jornal.
“Essas condições provocaram uma série de críticas da União Européia de que o Brasil, o maior exportador mundial de etanol, é um ninho de práticas ruins de trabalho e ligadas ao meio ambiente.”
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Segundo a análise, as críticas e a tarifa de US$ 0,29 por litro imposta pela União Européia ao etanol brasileiro prejudicam a indústria que o Brasil tenta promover como a alternativa “verde” aos combustíveis fósseis.
Recentemente, o comissário ambiental da UE disse que as cotas de etanol planejadas pelo bloco devem levar em consideração “preocupações sociais e ambientais”. Em resposta, o governo brasileiro ameaçou entrar com ação na Organização Mundial do Comércio.
“Os brasileiros afirmam que as críticas sobre as práticas de produção do país são, freqüentemente, uma tentativa mal disfarçada de proteger a indústria doméstica”, afirma o FT, citando o ex-presidente do fórum Mercosul-UE, o brasileiro Ingo Plöger, que pergunta: ¨Quais são as preocupações sociais e ambientais impostas pela UE a atuais fornecedores de energia, como a Nigéria, a Venezuela, o Irã e o Iraque?¨
O jornal afirma, no entanto, que o governo brasileiro está disposto a negociar com a UE e, em parte como resultado das críticas, o Estado de São Paulo – que responde por quase 80% da produção nacional – está adotando leis para melhorar as condições e eliminar o corte manual dentro dos próximos quatro anos.
“A mecanização, no entanto, não é bem-vinda pela maioria dos 300 mil trabalhadores da cana, para quem ela representa uma limitação no poder de negociação salarial e perspectivas de desemprego em breve”, diz o FT.
Segundo o jornal, esses trabalhadores, normalmente, têm pouca educação e poucas chances de conseguir outros empregos.
O jornal lembra que a decisão também poderá prejudicar os Estados do Maranhão e Piauí, que recebem o dinheiro enviado por trabalhadores sazonais da colheita.
Minimizar o impacto ambiental, outra fonte de críticas internacionais, também é visto com controvérsia, afirma o FT.
Ambientalistas temem que a expansão da cultura da cana “empurre” outras culturas para regiões “sensíveis”, mas o governo diz que “está combatendo essas preocupações com medidas como um decreto proibindo a plantação em áreas da Amazônia e no Pantanal”.
“Ainda há bastante espaço para a expansão”, afirma o jornal. “O Brasil tem cerca de 7 milhões de hectares de terra com cana plantada, dos quais 3 milhões são usados para o etanol, em comparação com 200 milhões de hectares de pasto, cerca de 21 milhões de hectares de soja e 14 milhões de hectares de milho.”
Mas apesar de a cultura da cana ter tido pouco impacto ambiental até agora no Brasil, o jornal afirma que a comunidade internacional está esperando para ver o quão bem sucedido será o governo nos esforços para impedir que a produção cause danos ecológicos.