FAO quer mais ajuda a pequenos agricultores 24/05/2008
- Robin pomeroy - Reuters
A única forma de acabar com a fome do mundo é dando a pequenos agricultores condições de produzir mais alimentos, alertou ontem o responsável pela cúpula alimentar mundial de junho.
Jacques Diouf, diretor da FAO (órgão da ONU para alimentação e agricultura), será o anfitrião de ministros e chefes de Estados entre os dias 3 e 5 de junho, em Roma, num evento destinado a discutir a atual alta mundial do preço dos alimentos.
Essa crise, que faz os países pobres gastarem até o dobro do habitual na importação de alimentos, ¨não surgiu do nada¨, segundo Diouf. ¨Ela advém de as pessoas não ouvirem¨.
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Esse agrônomo senegalês de 67 anos, dos quais 14 à frente da FAO, disse que há anos vem pedindo mais ajuda para os agricultores de países pobres, mas em geral não é ouvido.
Segundo ele, desde 1980 a proporção da ajuda internacional destinada à agricultura caiu dramaticamente. ¨Todos estavam cientes do fato de que algo estava errado --só não fizemos o que era necessário para corrigir¨, disse ele à Reuters.
A cúpula foi convocada no ano passado para discutir o impacto dos biocombustíveis e da mudança climática sobre a segurança alimentar. A alta nos preços e os distúrbios por causa da escassez de alimentos em vários países acabaram se antecipando a essa pauta.
De imediato, Diouf acha que o mundo deve manter os níveis de ajuda humanitária, apesar da inflação; em seguida, deve ajudar os pequenos agricultores, que não conseguiram se beneficiar da alta dos preços, ao contrário dos grandes fazendeiros.
¨Precisamos permitir que os camponeses dos países pobres tenham acesso a sementes, fertilizantes e rações, porque, devido ao aumento generalizado dos alimentos, os preços desses insumos também subiram.¨
¨Portanto, ao invés de ocorrer um aumento na produção por causa do aumento de preços, como previram os economistas, podemos ter uma queda na produção, porque pequenos agricultores de todo o mundo não podem mais arcar com os insumos necessários à produção.¨
Se poucos participantes da cúpula devem discordar dessas opiniões, haverá também assuntos mais espinhosos a serem discutidos, como os biocombustíveis e os produtos transgênicos.
¨Os problemas mundiais são muito mais complexos do que dizer que algo é ruim e algo é bom. A certeza é que desviar cerca de 100 milhões de toneladas de cereais para o biocombustível teve um impacto sobre os preços alimentares¨, afirmou Diouf.
Ele não quis comentar as declarações do presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, para quem a FAO desperdiça dinheiro e deveria ser fechada. Para Diouf, as declarações têm motivações políticas e contêm erros factuais.
Há especulações de que Diouf voltaria ao Senegal para disputar a Presidência pelo Partido Socialista, que passou 40 anos no poder, até a eleição de Wade, em 2000. Questionado sobre isso, Diouf sorriu. ¨Sou responsável pela FAO até dezembro de 2011. Esse é meu trabalho e meu foco.¨