Henrique Meirelles sinaliza nova alta dos juros 25/05/2008
- Blog de Josias de Souza
A subida da inflação no Brasil já não pode ser atribuída exclusivamente à comida. Há muitos outros produtos envenenando os índices, informa o presidente do Banco Central.
Ouça-se Henrique Meirelles: “Existe, sim, uma inflação de alimentos. Mas não é só de alimentos. Temos hoje uma inflação que já tem uma difusão muito maior.”
Quais são os outros vilões? “Temos desde a inflação de matérias primas, metais, não metálicos, químicos, petróleo e uma atividade bastante aquecida levando também a uma inflação na área de serviços.”
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O mandachuva do BC enxerga outro fenômeno inquietante: “Um aumento dos preços no atacado bastante acima dos preços no varejo.”
Combinando-se o descompasso entre as cotações do atacado e do varejo com a “demanda [procura por bens e serviços] bastante aquecida”, chega-se às fronteiras do indesejável.
Dê-se, de novo, a palavra a Henrique Meirelles: essa combinação “gera riscos de repasses mais generalizados de preços para o varejo.” Em português claro: os aumentos baterão no seu bolso.
As preocupações de Meirelles foram expostas em entrevista aos repórteres Ivanir José Bortot e Kelly Oliveira. No curso da conversa, o presidente do BC pareceu muito seguro quanto ao caminho a adotar.
Manejando as palavras com a cautela que se exige de uma pessoa na sua função, Meirelles deu a entender, sem dizê-lo textualmente, que não há senão a alternativa de puxar para o alto a Selic, taxa básica de juros da economia.
Meirelles não abre mão de um ponto: “A nação pode estar tranqüila de que o Banco Central vai manter a inflação na meta (4,25%).”
Para que isso ocorra, vai-se recorrer ao tradicional, sem mágicas: “A experiência do Banco Central [brasileiro] e de diversos bancos centrais do mundo é de que o meio mais eficiente (para segurar a inflação) é exatamente o manejo da taxa básica (de juros), no caso do Brasil, a taxa Selic.”
Na contramão do que apregoa a equipe do ministro Guido Mantega (Fazenda), Meirelles diz que juros altos não são incompatíveis com crescimento econômico.
Esquiva-se de mencionar os juros. Prefere se referir ao efeito que atribui ao bom manejo deles: uma inflação domada. Ele diz:
“Não há nenhuma incompatibilidade entre inflação baixa e estável e crescimento econômico. Muito pelo contrário, não existe exemplo de país no mundo que tenha crescido com taxas elevadas, com períodos prolongados com inflação alta.”
Diz mais: “Na medida que sobe a inflação, ela, em primeiro lugar, corrói o poder de compra do trabalhador. Além dos problemas sociais, gera uma queda da demanda doméstica. Essa queda, em última análise, vai se refletir na produção.”
Afirma pior: “Outro fator é que a inflação desorganiza a atividade produtiva, o planejamento das famílias e das empresas, fazendo com que haja uma taxa de crescimento menor e muitas vezes uma recessão. É o fenômeno conhecido como estagflação, que se estabelece a partir do momento que a inflação se instala de forma mais permanente.”
De resto, Meirelles deixa antever quão benéfica seria, na sua opinião, a adoção de uma política de cintos apertados nos gastos do governo. “Isso tenderia a baixar as taxas de juros do país a longo prazo”, diz ele.
É algo, porém, que foge ao campo de decisão do BC: Primeiro por que “existem demandas importantes da sociedade por gasto público, que são expressas através dos diversos setores da sociedade e principalmente pelo Congresso Nacional.”
Segundo porque “Não compete ao Banco Central definir e sugerir qual é a composição ótima das prioridades econômicas. Compete ao presidente da República, ao governo e ao Congresso Nacional, dentro das prioridades de despesas públicas, de investimentos.”
Ao BC, diz ainda Meirelles, “cabe cumprir seu papel.” Ou seja, enquanto perdurarem os riscos de inflação, os juros permanecerão altos e em alta.
Meirelles também falou sobre o tal Fundo Soberano tricotado por Mantega. Disse que nao muda em nada a política do BC de acumulação de reservas internacionais.
Sobre o interesse do Banco do Brasil em adquirir a Nossa Caixa, casa bancária do governo de São Paulo, disse analisará o negócio sob dois prismas: o da prudência e o da concentração bancária.