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DIA A DIA

Maggi critica atuação da PF em operações contra o desmate na Amazônia
26/05/2008 - Rodrigo Vargas - Agência Folha

Após se envolver em polêmicas com o novo ministro Carlos Minc (Meio Ambiente), o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), resolveu centrar fogo no combate da Polícia Federal à devastação da Amazônia. Em entrevista à Folha, criticou os agentes que chegam com ¨metralhadoras na mão¨ e disse que os dados divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) -- ¨que não existem¨ -- forçam operações como a Arco de Fogo.

¨Você pega uns garotos novos, que vêm do Sul e Sudeste, dá uma roupa de policial, uma metralhadora, e ele chega aqui achando que vem salvar o mundo. Bate uma foto e mostra para a mãe lá no Sul: ¨Estou salvando a Amazônia´¨, disse Blairo, para quem Mato Grosso ¨não deveria sofrer a pressão que vem sofrendo, já que os números não estão corretos¨.

Na entrevista, o governador disse ainda que se decepcionou com o novo ministro -- que chegou a dizer que Blairo, se pudesse, plantaria soja ¨até nos Andes¨ -- e negou que tenha pressionado pela saída de Marina Silva do Meio Ambiente.


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Como recebeu as críticas do novo ministro?

- Ele me decepcionou, de certa forma, porque eu não conheço o Minc. Ele não me conhece, não conhece Mato Grosso e a Amazônia. Portanto, ele não conhece as causas dos problemas amazônicos nem ações que o governo de Mato Grosso e os setores produtivos têm feito para minorar esse problema do desmatamento. E os números mostram que temos tido um ganho substancial nessa questão de 2005 para cá, quando tivemos redução de mais de 70%. Espero que, com o tempo e as oportunidades que ele terá de vir à região, a gente possa se conhecer.

O sr. diz que Mato Grosso é vítima de preconceito. O que o leva a pensar assim?

- As pessoas que vivem nesta região vieram dentro de um programa de governo. Elas produzem alimentos -e não coisas desnecessárias para a humanidade. Tudo o que se produz aqui é necessário em alguma parte do Brasil. Então, não há um reconhecimento disso. Simplesmente, de um dia para o outro, alguém chega e diz: ¨Vocês não são importantes, não são necessários, podem ficar de fora, podem quebrar suas economias, explodir as cidades de vocês, podem fechar as escolas que são mantidas com o dinheiro dos impostos da produção agrícola¨.

A posição não se baseia no fato de que há desmatamento?

- As pessoas precisam voltar a entender que não se faz omelete sem quebrar ovos e que existe a necessidade de ocupação do espaço. Não se faz nenhum alimento, em nenhum lugar do mundo, sem que os biomas não sejam alterados. Precisamos ter reconhecimento da importância do agronegócio, desde as grandes propriedades até a agricultura familiar.

O sr. diz que é inevitável a abertura de áreas na Amazônia para conter a crise de alimentos.

- Quando eu disse aquilo, me referi a um futuro em que, se o mundo tiver muita necessidade de comida, lá na frente, 10 a 20 anos, terá que se estudar alguma forma de se aproveitar mais áreas. A Amazônia continua sendo importante nesse jogo da produção de alimentos, mas não acho que temos clima, determinação política, para se liberar novas áreas para a produção de alimentos. Agora, entendo que dá para fazer um aumento substancial de produção sem novas aberturas.

Não há risco de expansão da soja para além das fronteiras de cultivo?

- De onde estamos produzindo hoje para o Norte, eu diria que o espaço de crescimento dessa cultura não é muito grande. Um exemplo é Itacoatiara, no Amazonas, onde existe um porto de escoamento e terras para a produção. O porto está disponível há dez anos e nenhum pé de soja está plantado naquela região. É muito mais uma questão cultural das pessoas que estão aqui trabalhando e da topografia dessas terras. As pessoas que vivem aqui têm uma cultura quase que genética. São descendentes de alemães, italianos, que têm a agricultura no sangue. Todos que vivem nesta região têm esse desejo, essa ansiedade, de produzir e fazer um futuro melhor, e aí essa carga de informação com a qual ele foi educado está fazendo esse contraponto hoje com a questão ambiental. É dentro dessa perspectiva que Mato Grosso tem que ter um tratamento diferenciado.

O sr. pleiteia Mato Grosso fora da Amazônia Legal?

- Eu não tenho uma opinião formada, mas acho que é uma questão que deveria ser discutida com mais amplitude, técnica e economicamente. O que acontece com Mato Grosso é que nós não fazemos parte só da Amazônia. Dois terços de nosso território fazem parte do Centro-Oeste. Então, temos duas políticas aqui dentro.

Por que não quer colaborar com a Guarda Nacional Ambiental?

- A idéia até que é boa. O que quis dizer é que não podemos criar uma força dessas e achar que Mato Grosso vai ter de colocar homens para ficar cumprindo a determinação do governo federal e cuidar de seus parques nacionais, de suas reservas extrativistas. Eu jamais faria isso, porque tenho que cuidar da segurança pública. Agora, já que a Amazônia é de todos e todos têm muita preocupação com ela, defendo que esses homens venham de outros Estados, venham da região Sul, do Nordeste, de áreas que não têm floresta, mas que têm preocupação com a floresta. A idéia é bem-vinda, terá colaboração do Estado, mas não quero que Mato Grosso e os outros Estados amazônicos paguem essa conta.

O sr. ainda sustenta que o desmatamento detectado pelo Inpe é irreal, superdimensionado?

- Eu vi outro dia o ministro dar uma declaração de que ele não brigaria com o termômetro. Algo assim: se eu estou com febre, estou com febre. Eu também concordo, mas antes precisamos aferir o termômetro para que ele não nos leve a tomar decisões erradas. E o Inpe, nos últimos tempos, tem feito a divulgação de índices de desmatamento muito elevados em relação ao que temos encontrado no campo.

O Inpe afirma que Mato Grosso erra ao considerar só o corte raso como desmate.

- Não se pode misturar degradação progressiva de floresta com desmatamento efetivo. Eu não afirmo que não haja desmatamento. Eu afirmo que o Estado vem combatendo isso, inclusive fazendo embargos e aplicando multas pesadas. O que não aceito é misturar números que não existem. Isso é o mesmo que pegar a imagem de Mato Grosso e do Brasil e jogar na lata do lixo. Nós temos problemas, mas eles não são do tamanho que eles são alardeados.

O sr. exerceu algum tipo de pressão para a saída de Marina?

- Não fiz pressão alguma contra as políticas do ministério. O que falei, na reunião antes do anúncio do PAS [Plano Amazônia Sustentável], junto com os governadores, foi sobre a Operação Arco de Fogo e sua atuação ostensiva. Quem vai fazer fiscalização não precisa chegar com 10, 12 camionetes, com armamento para fora, entrando em bares e restaurantes com metralhadoras na mão, como a Polícia Federal fez. Foram essas as reclamações. Eu nunca reclamei da fiscalização, mas da forma como estava sendo feita. Você pega uns garotos novos, que vêm do Sul e Sudeste do Brasil, dá uma roupa de policial, uma metralhadora, e ele chega aqui achando que vem salvar o mundo. Bate uma foto e mostra para a mãe lá no Sul: ¨Estou salvando a Amazônia¨. Outra coisa que reclamei com o presidente foi em relação aos números do Inpe -até porque foram esses dados que levaram a ministra as tomar as decisões que tomou. Então, se esses números não estão corretos, Mato Grosso não deveria sofrer a pressão que vem sofrendo. A quem tenho que recorrer? Ao presidente. Tenho de dizer a ele: ¨Estão fazendo uma intervenção no meu Estado, estão quebrando o meu Estado¨. Tenho o dever de fazer a defesa.

  

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