Moratória da soja na Amazônia deve ser ampliada para a carne 17/06/2008
- Ana Nicolaci da Costa - Reuters
O ministro brasileiro do Meio Ambiente, Carlos Minc, participou nesta terça-feira, em Brasília, de evento que marcou a prorrogação da moratória à soja cultivada no bioma Amazônico e anunciou que a medida deverá ser expandida para os setores madeireiro e de carne bovina.
O compromisso, assinado pelas empresas de beneficiamento de grãos e exportadores, prevê a ampliação da proibição da compra de soja plantada na Amazônia até julho de 2009.
¨Essa mesma iniciativa será estendida para dois outros setores -- o madeireiro e o de carne¨, afirmou Minc, ao elogiar o setor de grãos por atuar como ¨pioneiro¨ da iniciativa.
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A extensão moratória, que já vigora desde julho de 2006, foi firmada pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que inclui grandes beneficiadores como a Cargill, a Bunge, a ADM e Louis Dreyfus, e pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
Ambientalistas apoiaram a decisão das associações, considerada essencial para proteger a maior floresta tropical do mundo.
O desmatamento na região tornou-se mais intenso nos últimos meses, período no qual o preço mundial dos grãos continuou a bater recordes de alta.
A disparada dos preços, de outro lado, faz com que o setor da soja comece a se recuperar da pior crise enfrentada em décadas. De 2004 até 2006, a valorização do real diante do dólar e a elevação dos custos de produção (combustíveis e fertilizantes mais caros) levaram muitos produtores à beira da falência.
O Brasil é o segundo maior produtor de soja do mundo, depois dos EUA. A Abiove e a Anec controlam cerca de 94 por cento do comércio brasileiro desse grão.
¨A decisão tomada hoje é muito importante já que mostra que um setor fundamental do agronegócio brasileiro pode garantir a produção de comida sem precisar derrubar um hectare a mais da Amazônia¨, afirmou Paulo Adário, diretor da campanha do Greenpeace para a defesa da Amazônia.
O desmatamento da floresta registra um ritmo crescente depois de três anos de desaceleração --dados preocupantes divulgados no começo deste mês mostram que 1.123 quilômetros quadrados de árvores perderam-se em abril.
Minc substituiu a ativista Marina Silva no comando do Ministério do Meio Ambiente gerando preocupação entre os ambientalistas sobre a possibilidade de o governo estar bandeando-se para o lado dos interesses agrícolas e industriais, que desejam explorar economicamente as terras amazônicas.
Em um sinal de comprometimento com a preservação da floresta, o governo divulgou vários programas nas últimas semanas, incluindo a criação de três reservas de proteção e uma operação para apreender cabeças de gado que pastem em áreas desmatadas.
O Greenpeace afirmou, porém, que a prorrogação da moratória pode não ser suficiente para dar as ferramentas necessárias a fim de garantir que a produção de soja não resulte em mais desmatamento.