Autor de ¨Lugares mais Perigosos do Mundo¨ quer conhecer o Brasil 22/06/2008
- G-1
Quando a Rússia empreendeu a segunda ofensiva para abafar o separatismo checheno, em 1999, no que ficou conhecido como a 2ª Guerra da Chechênia, seu exército não estava para brincadeira. O cessar-fogo assinado com os rebeldes em 1996 havia sido constrangedor para Moscou. O ataque à capital chechena, Grozni, foi feroz, e o canadense Robert Pelton estava lá para acompanhar os acontecimentos.
“Contávamos mais de 6 mil impactos (explosões de bombas e mísseis) por hora. Era um cenário bem violento, porque os russos estavam tentando matar todo mundo, bombardeando civis e casas”, relembra, em entrevista ao G1. O ataque foi tamanho que a ONU declarou Grozni a cidade mais destruída do mundo.
“Esta foi a vez em que realmente estive em perigo”, observa Pelton, um aventureiro profissional cujos destinos favoritos são os países em guerra. Ele ficou famoso com o livro “The World´s Most Dangerous Places” (¨os lugares mais perigosos do mundo¨, em tradução livre), uma obra bem-humorada escrita como se fosse um guia de viagem, publicada em 1993 e atualmente em sua 5ª edição.
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Sua ousadia lhe rendeu entrevistas exclusivas com figuras como Manuel Marulanda, o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colôbia (Farc), morto este ano, e com o talibã americano John Walker Lindh, capturado no norte do Afeganistão, além de inúmeras histórias para contar.
¨Fácil demais¨
“Eu trabalhava com marketing em uma empresa e costumava tirar um mês por ano para fazer expedições para os lugares mais remotos do mundo. Mas isso parecia fácil demais”, conta Pelton. Ele então começou a ouvir, de amigos jornalistas, histórias sobre os lugares mais perigosos do mundo e se interessou. “Comecei a marcar entrevistas com grupos de rebeldes, apenas por diversão.”
E não é difícil entrar em contato com líderes de movimentos armados em países remotos? “Nem tanto. Se é um grupo marxista, você começa falando com sindicatos. Se fosse um grupo como o Talibã, nos anos 90, você podia fazer contato com eles no Paquistão, por exemplo, com feridos saídos de batalhas. Mas em todos os casos eu simplesmente ia ao país e saía fazendo contatos. Daí encontrava com o grupo e explicava a situação”, afirma o jornalista.
Pelton gosta de confusão, mas a recíproca também parece ser verdadeira. “Em 2003, tinha acabado de voltar da Libéria e sugeri a uma revista que poderia fazer uma reportagem de montanhismo”, diz. O destino para esta proposta aparentemente mais tranqüila era a Colômbia. E foi nessa viagem que Pelton caiu nas mãos das Autodefesas Unidas da Colômbia, organização paramilitar de extrema direita.
Ficou seqüestrado por 10 dias com outros dois expedicionários. Os indígenas que os hospedavam, por sua vez, foram assassinados pela milícia. “O último grupo que havia tentado fazer aquela trilha havia sido seqüestrado também. Eu era o primeiro a tentar fazê-la em três anos”.
O encontro com o talibã americano John Walker Lindh também foi obra do acaso. ¨Em 2001, fui convidado a acompanhar a guerra do Afeganistão ao lado do general Dostum (Abdul Dostum, líder uzbeque no norte do Afeganistão). Ele estava lutando no norte. Estive com ele no outono e no inverno de 2001 e havia uma equipe das forças especiais dos EUA acompanhando-o. Então eu estava ali para a batalha de Qalai Janghi, e um dos homens de Dostum chegou para mim e disse: ‘Acho que pegamos um americano’”, conta Pelton. A entrevista foi destaque no mundo inteiro.
Brasil
Para um amante de situações arriscadas como Robert Pelton, o Brasil também poderia representar um destino atraente, mas ele nunca esteve no país. ¨Espero conhecê-lo¨, admite. “Mas vocês não estão em guerra. A maioria dos países aonde estive estavam em guerra”, pondera. Questionado sobre onde procuraria perigos para enfrentar no Brasil, responde: “As favelas seriam um bom começo. Mas também gosto da selva. Já estive na selva peruana”.
Aos 52 anos, Pelton segue tocando vários projetos. Recentemente, lançou um livro sobre mercenários em conflitos armados. Em paralelo, mantém ainda uma empresa de informação sobre zonas de guerra, que dá apoio a pessoas que têm que viajar para essas regiões. Entre seus clientes estão diplomatas, jornalistas, e até a agência de inteligência norte-americana.