Preços dos fertilizantes sobem 83% em um ano 29/06/2008
- Alessandra Saraiva e Daniele Carvalho - O Estado de S.Paulo
A inflação em 2009 deve contar com uma nova onda de elevação de preços nos alimentos. Levantamento especial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feito a pedido da Agência Estado, mostra que os preços dos fertilizantes acumulam no atacado, em 12 meses até junho, alta de 83,21%, no âmbito do IGP-10. É o maior nível de elevação de preços para esse tipo de produto desde o Plano Real, em 1994, e será mais uma pressão de custos para o produtor. A tendência é de que essa alta seja repassada para os preços dos itens agrícolas.
Os preços dos fertilizantes já estão em alta há algum tempo, tendo em vista a forte demanda por alimentos tanto no Brasil quanto no mundo, o que impulsiona o aumento de produtividade agrícola. Em conseqüência, é traçado um ciclo, com aceleração da alta no nível de compras de fertilizantes. Mas neste ano a escalada nos preços desse tipo de produto ganhou velocidade de forma muito mais intensa.
¨Esse patamar de elevação não é pouca coisa¨, alertou o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. ¨E os preços dos produtos agrícolas já estavam subindo antes disso, por causa da demanda¨, acrescentou.
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O grande perigo desse movimento de alta dos fertilizantes, na avaliação do economista, é o sensível aumento de custos do produtor para o plantio da safra de 2009. Com os fertilizantes já operando nesse nível de inflação até junho, Quadros não descarta que até o fim do ano os preços do produto já estejam 100% acima do registrado no ano passado.
Ou seja, os produtores devem gastar este ano, com a compra de fertilizantes, o dobro do que gastaram em 2007. ¨A possibilidade de ultrapassar 100% (o aumento nos preços de fertilizantes este ano) é perfeitamente plausível¨, afirmou, comentando que, além da oferta aquecida, os preços dos alimentos ainda terão de lidar com esse impacto. ¨A inflação dos alimentos ainda não acabou. Eu gostaria que já tivesse acabado, mas não acabou¨, disse.
O economista-chefe da Corretora Ativa, Arthur Carvalho Filho, acredita que a movimentação nos preços dos alimentos também deve ser acompanhada de perto no ano que vem. Isso porque a demanda por itens alimentícios deve seguir elevada em 2009.
Além disso, Carvalho Filho lembrou outra questão: a cotação elevada de preços do petróleo. Na fabricação de fertilizantes, são usados derivados de petróleo, cujos preços também sobem para acompanhar a flutuação da cotação do barril. ¨Ainda temos os biocombustíveis¨, acrescentou o economista.
Para a produção de biocombustível são usados milho e cana-de-açúcar e o aumento da safra demanda ainda mais fertilizantes. A analista de Alimentos e Agronegócios do Banco Brascan, Denise Messer, comentou que, mesmo com a demanda forte por fertilizantes, há um limite para a capacidade elevação na produção desse produto.
¨A oferta de fertilizantes é restrita e, para aumentar a oferta, leva algum tempo¨, comentou. ¨É inevitável que haja um repasse dessa alta de custos com fertilizantes para os preços dos alimentos.¨
Ela explicou que esse repasse ocorre de forma gradativa. Há, porém, uma grande possibilidade de os preços dos fertilizantes continuarem a subir no ano que vem, visto que a forte demanda por alimentos não aparenta ser um fenômeno característico deste ano. ¨Creio que a inflação dos alimentos vai continuar (em 2009)¨, afirmou.