Produtor de alimentos não pode ser culpado pela crise, diz Lula 01/07/2008
- Márcia do Carmo - BBC
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira na Argentina, onde participa da cúpula do Mercosul, que os países da América do Sul, grandes produtores e de alimentos e de energia, devem estar atentos para que não terminem sendo responsabilizados pela instabilidade econômica nos países desenvolvidos.
¨Há muita coincidência entre a crise da especulação imobiliária nos Estados Unidos, que envolve bancos europeus, e a situação atual¨, disse Lula, diante dos presidentes do Mercosul, além dos sócios do bloco, Chile e Bolívia.
¨E até agora o FMI não deu um palpite de como os Estados Unidos devem fazer para consertar sua economia.¨
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¨Temos que ter cuidado para que eles não joguem com essa crise da inflação dos alimentos. Ou vamos ver logo, logo, o FMI vindo aqui e já sabemos qual é o resultado – recessão, desemprego. Já vimos essa situação¨.
Lula disse que ¨estranhamente¨, ao contrário do esperado, os Estados Unidos não fizeram ajuste na sua taxa de juros para cuidar de sua própria economia.
O banco central americano (Federal Reserve) vinha cortando os juros até a semana passada, quando manteve a taxa estável em 2% ao ano.
¨Temos que tomar cuidado para que essa crise que estava a oito mil quilômetros não seja uma crise nossa¨, disse.
Especulação
O presidente Lula voltou a dizer que o problema na discussão sobre a alta de alimentos é a especulação das commodities no mercado financeiro, não o aumento da demanda no mundo em desenvolvimento.
¨Queira Deus que a cada dia um chinês mais possa estar comendo e que possamos vender mais nossos alimentos¨, disse. Segundo ele, hoje especula-se com a produção de petróleo – que não diminuiu, disse – e de alimentos – onde, ressaltou – especula-se com os preços dos grãos no mercado futuro.
O presidente Lula receberá, nesta terça-feira, a presidência temporária do Mercosul, que exercerá durante os próximos seis meses.
Ele voltou a dizer que o Brasil ¨há muito tempo não enfrentava um bom momento como esse¨.
¨Digo aos meus ministros, não me peçam para adotar medidas que possam prejudicar os avanços que nosso povo está tendo. Isso não vou fazer¨.
Lula também mandou recado à Argentina, que impôs barreiras às exportações de seus grãos – principalmente soja.
¨Temos que ter cuidado porque o preço da soja, que hoje está alto, não sirva para que os empresários nos convençam para não entrar (na Rodada de Doha) Porque o preço sobe, mas também desce¨, disse Lula. ¨E é preciso ter clareza do que queremos, de como podemos avançar, como Mercosul¨.
Biocombustíveis
Ao falar do encontro que será realizado no Brasil em novembro sobre os biocombustíveis – algumas vezes tratados como vilões pelos países ricos por gerar pressão sobre os alimentos, Lula disse que alguém ainda precisa ainda convencê-lo de que os biocombustíveis geram fome e que não trocará ¨estômago por um tanque de combustíveis¨.
¨Mas nessa questão da inflação e alimentos, nunca estivemos tão perto de resolver nossos problemas. Queremos que os países ricos nos tratem com respeito.¨
Antes do discurso, Lula teve uma reunião a sós com a presidente argentina, Cristina Kirchner. Ela pediu que ninguém estivesse presente, além do tradutor.
Na conversa, esperava-se que Cristina pedisse maior fornecimento de energia ao Brasil e que Lula criticasse as barreiras impsotas pela argentina às exportações de trigo para o mercado brasileiro.
Participam da reunião, os presidentes de Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela. O Paraguai enviou um representante do presidente atual Nicanor Duarte Frutos, que deverá tomar posse como senador nesta terça-feira.