Pecuária: tecnologia faz frente ao canavial 02/07/2008
- Niza Souza - O Estado de S.Paulo
Cercados por canaviais, os pecuaristas do noroeste paulista que resistiram à pressão das usinas sucroalcooleiras nos últimos anos e continuaram com seus pastos e rebanhos bovinos começam a colher os frutos com o bom momento da pecuária nacional. Na semana passada, a arroba do boi chegou a ser negociada acima de R$ 100 no mercado futuro. E a tendência, conforme especialistas, é a de que o atual ciclo de alta continue por mais três anos, pelo menos.
¨É a virada do ciclo pecuário¨, comemora a pecuarista Daniela Sanches Liranço, da Fazenda Arizona, em Birigüi (SP), noroeste paulista. A fazenda, de 400 hectares, mantém mil animais/ano para engorda, a maioria novilhas. Este ano, Daniela conta que vendeu alguns lotes por R$ 69 a arroba em maio, mas este mês os animais já estão sendo negociados por R$ 80 a arroba. ¨Em 2005 e 2006 fechamos no vermelho. Em 2007 tivemos lucro e este ano a expectativa é melhor ainda.¨
Mas a família chegou a pensar em mudar de ramo. ¨Quando a cana chegou à região cogitamos plantar, pois as propostas eram muito boas, mas desistimos. A fazenda é muito bem estruturada, bem localizada. E, onde a cana entra, acaba a infra-estrutura do gado.¨
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Para continuar só com a pecuária de corte foi preciso intensificar a forma de criação. Desde 2004, foram investidos R$ 300 mil em tecnologias. ¨Dividimos a propriedade em quatro módulos para aproveitar melhor a pastagem, instalamos uma lavoura de cana e outra de milho para silagem¨, conta. A qualidade da pastagem também foi melhorada, com cultivo de braquiária e MG5.
O importante, acredita, é aumentar o desfrute da fazenda, ou seja, a quantidade de animais abatidos por ano. ¨É assim que lucramos.¨ A meta é a de que as novilhas saiam da fazenda com, no máximo, 24 meses. Para isso, outro investimento essencial é o confinamento. A fazenda pode confinar 200 cabeças, ¨mas vamos ampliar para 400 cabeças¨.
DIVERSIFICAÇÃO
Na Fazenda Boa Esperança, em Araçatuba, além da adoção de tecnologias na criação de bovinos, o pecuarista Antonio Luiz Garcez decidiu diversificar, durante o ciclo de baixa da pecuária. Arrendou 100 hectares, de um total de 850, para uma usina e fez um contrato com outra para o plantio de outros 340 hectares de cana. ¨Não pensamos em deixar totalmente a pecuária, pois sabemos que o mercado tem altos e baixos.¨ Mas, este ano, a alta cotação do boi e a perspectiva de o mercado continuar firme animaram o produtor a voltar a investir na pecuária. Parte do canavial que seria renovado, cerca de 60 hectares, vai virar pasto de novo. ¨A usina queria renovar o contrato com base no Consecana, o que reduziria a rentabilidade em torno de R$ 10 por tonelada. Não renovei.¨
Para aumentar o desfrute da fazenda, também está investindo, pela primeira vez, no confinamento do gado. Até então, a criação era extensiva. ¨Teremos quatro baias com capacidade para cem bois cada. E o melhor é que venderemos fora da safra¨, diz ele. Os investimentos ajudaram a manter a média de animais na propriedade, em torno de 800, mesmo com a redução da pastagem.
A diversificação e a intensificação da pecuária também foi a opção do criador Alfredo Ferreira Neves Filho, que não queria deixar a pecuária, mas estava perdendo dinheiro com o gado a pasto. ¨Plantei cana, mas investi no gado e no melhoramento das pastagens¨, diz. O pecuarista agora precisa decidir o que fazer com 500 hectares de cana em fase de renovação. ¨Estou repensando se vou reformar o canavial ou cultivar pasto. Vai depender da proposta da usina. Se pagar em arroba de boi, eu renovo.¨