Bancos aumentam exigências ambientais 23/07/2008
- Andrea Vialli - O Estado de S.Paulo
Os grandes projetos industriais e de infra-estrutura, como geração de energia elétrica, estão cada vez mais condicionados à avaliação de seus riscos sociais e ambientais para conseguirem sair do papel. Crescem as exigências dos bancos em relação a essas questões para financiar grandes empreendimentos.
Em 2007, 71% dos projetos de infra-estrutura nos países emergentes foram submetidos a análises de risco dentro dos chamados ¨Princípios do Equador¨. Trata-se de um conjunto de diretrizes socioambientais adotadas por 61 bancos no mundo todo para financiamento de projetos acima de US$ 10 milhões. O volume de crédito concedido dentro dessa análise de risco chegou a US$ 52,9 bilhões - de um total de US$ 74,6 bilhões investidos em grandes projetos, segundo levantamento do Infrastructure Journal, do Reino Unido.
O Brasil segue a tendência: hoje, sete bancos são signatários da carta de princípios. Não há números consolidados sobre o volume de crédito concedido no País dentro das diretrizes, mas as informações prestadas ao Estado pelos bancos Bradesco, Unibanco, Real e Itaú indicam um volume aproximado de R$ 17 bilhões em 2007.
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¨A percepção do risco dos empreendimentos mudou. Os bancos já não levam em consideração apenas o risco financeiro dos projetos que vão financiar, mas também as questões sociais e ambientais que podem trazer danos à sua reputação¨, diz o americano Shawn Miller, executivo de análise de risco socioambiental do Citibank.
Em visita ao Brasil, Miller - que trabalhou na elaboração dos princípios do Equador - conheceu alguns grandes projetos nas áreas de energia e mineração. ¨O Brasil está muito à frente nessas questões se comparado a outros países emergentes. Na China, por exemplo, só recentemente o governo tem cobrado isso dos bancos que atuam lá¨, diz. Segundo Miller, em 2007 o Citibank aprovou nove financiamentos de projetos no mundo todo com base nos Princípios do Equador, totalizando US$ 19,5 bilhões.
CRESCIMENTO
No ano passado, bancos como Bradesco e Unibanco dobraram o volume de financiamentos concedidos dentro das diretrizes. No Bradesco, foram R$ 7 bilhões, em um total de 11 projetos. Em 2006, o montante foi de R$ 3 bilhões. De acordo com Jean Leroy, diretor de relações com o mercado do Bradesco, o crescimento é decorrente do bom momento econômico do País e de um aumento da preocupação dos empreendedores com os aspectos de sustentabilidade. ¨Há muitos projetos de grande porte surgindo e que observam essas questões.¨
No Unibanco, pioneiro na adesão aos princípios no Brasil, o volume de crédito ambientalmente correto também duplicou entre 2005 e 2007. ¨Em 2007, contratamos nove operações em que foram aplicados os Princípios do Equador, no valor total de R$ 4,2 bilhões, ante R$ 2,3 bilhões em 2005¨, diz Deives Rezende Filho, superintendente de compliance do Unibanco.
Nos bancos Itaú e Itaú BBA (responsável por grandes operações), foram R$ 4 bilhões em projetos aprovados em 2007.
No Banco Real o volume de crédito nesses moldes tem se mantido estável nos últimos dois anos. No ano passado foram US$ 1 bilhão em financiamentos (6% da carteira de crédito), ante US$ 1,5 bilhão em 2006. De acordo com Cristiane Ronza, especialista em risco socioambiental, a maior parte dos empreendimentos é de energias renováveis, como centrais eólicas, pequenas hidrelétricas e usinas de açúcar e álcool.