Produtor tenta driblar alta do adubo 30/07/2008
- Fernanda Yoneya - O Estado de S.Paulo
Com a proximidade do plantio da safra 2008/2009 e os fertilizantes custando praticamente o dobro em relação à safra anterior, agricultores buscam formas de economizar na adubação, sem perder produtividade. Como o produtor Sérgio Donizetti Pavani, que cultiva soja, cana-de-açúcar e amendoim em Jaboticabal e José Bonifácio (SP). Pavani, que quer plantar 400 hectares de soja, conta que o custo do adubo passou de R$ 855/tonelada na safra passada para R$ 1.700/tonelada este ano. ´´Ainda falta comprar 70% do adubo necessário. Em outros anos, nesta época eu já havia comprado tudo´´, diz.
Pavani calcula que terá que diminuir a aplicação em até 20% - em vez de aplicar os habituais 400 quilos de adubo/hectare, vai aplicar pouco mais de 300 quilos/hectare -, mas, para não ter a produtividade comprometida, está investindo em análise de solo, reposição de nutrientes por adubação foliar e no plantio direto. A análise de solo, diz, racionaliza a utilização de adubo, tornando a aplicação mais eficiente. ´´Cada talhão recebe a quantidade exata de nutrientes.´´
PLANTIO DIRETO
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Já a adubação foliar, normalmente complementar na lavoura, é mais barata que a adubação do solo e pode ajudar a compensar a redução de nutrientes na terra. ´´São gastos 4 quilos de adubo foliar/hectare´´, afirma. Outra maneira de compensar é fazer o plantio de soja direto na palha de cana, do cultivo anterior. A palha de cana, diz, ajuda a conservar a fertilidade do solo.
O produtor de soja Rogério Cocco Rubin, de Diamantino (MT), diz que a situação é preocupante. Ele aguarda a liberação de crédito para definir o futuro de 391 hectares de soja. Segundo Rubin, o valor do insumo saltou de US$ 380/tonelada para US$ 800/tonelada este ano, na sua região.
´´Reduzir a aplicação de adubo seria um plano B, mas não é ideal por causa da produtividade´´, afirma ele, que costuma aplicar 450 quilos de fertilizantes/hectare e obtém produtividade média de 52 sacas/hectare. ´´O produtor que possui reservas de adubo no solo e áreas com boa fertilidade pode reduzir a aplicação para 300 quilos/hectare, mesmo perdendo em produtividade. No meu caso, porém, se o solo, que já está no limite, receber menos adubo, terei prejuízo´´, justifica. ´´Normalmente, são necessárias, no máximo, 32 sacas de soja para pagar 1 tonelada de adubo. Este ano, essa relação passou para 45 sacas para cada tonelada´´, diz Rubin, acrescentando que, na falta de crédito, pensa em arrendar a área. ´´Talvez seja minha única opção.´´
O produtor Naildo da Silva Lopes, de Santa Rita do Trivelato (MT), aproveita, agora, o investimento de anos em análises periódicas de solo e na rotação de culturas. ´´Ao longo dos anos, o solo vai adquirindo um nível de fertilidade que pode ser medido com análises específicas, de solo e foliar. Sei com detalhes aonde posso economizar adubo´´, diz. E o investimento dá tanto resultado que Lopes pôde se dar ao luxo de comprar 25% menos de adubo para seus 88 hectares de soja. ´´Normalmente uso 450 quilos/hectare, mas mesmo aplicando menos não vou perder a produtividade de 50 sacas/hectare´´, garante. Na sua região, a tonelada de adubo aumentou de US$ 375 no ano passado para US$ 760 este ano.
ROTAÇÃO DE CULTURAS
Além da análise de solo, o produtor faz rotação de culturas com o milheto, planta conhecida como recicladora natural de nutrientes do solo, graças ao seu sistema radicular, que pode atingir até 2,5 metros de profundidade. Lopes afirma que a rotação com o milheto garante a reciclagem de 40 quilos de fósforo/hectare e de, no mínimo, 150 quilos de potássio/hectare, além do nitrogênio liberado no processo de decomposição da palha. ´´O milheto bombeia nutrientes, como fósforo e potássio, para a superfície do solo, coisas que a soja não tem capacidade de fazer.´´
Neste cenário de incertezas, a estratégia da Fazenda São Paulo, de Taquarivaí (SP), foi aguardar a valorização do milho, vender a produção estocada e fazer caixa para comprar adubo, conta o administrador da fazenda, João Jacinto Dias de Almeida. ´´Reduzir a adubação é impensável´´, diz.
Almeida diz que a saca de milho já chegou a valer R$ 27 e agora vale R$ 25. ´´A expectativa é que chegue a R$ 30/saca´´, aposta, acrescentando que pretende vender 25 mil sacas para comprar parte do adubo.
´´O resto vou tentar adquirir via EGF (Empréstimo do Governo Federal)´´, planeja. Almeida diz que a tonelada da uréia passou de R$ 900 para R$ 1.550 este ano. Para tentar driblar a alta dos fertilizantes, Almeida diz que vai plantar mil hectares de soja e 700 hectares de milho, já que a soja leva menos adubo. ´´Adubar o milho custa R$ 500 a mais que a soja´´, diz.