Calor excessivo afeta criação de gado 30/07/2008
- Rose Mary de Souza - O Estado de S.Paulo
O aquecimento global já afeta a cadeia produtiva de carnes, acarretando aumento do custo de produção e perda de competitividade internacional. O alerta é da professora da Faculdade de Engenharia Agrícola, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Irenilza de Alencar. A pesquisadora coordenou um balanço que traz estimativas do cenário e dados comparativos da produção animal frente aos relatórios IPCC (do inglês Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas).
O prognóstico mais otimista mostra um acréscimo do custo na criação de bovinos em 80%, com o aumento da temperatura. ¨É uma visão otimista. Os custos podem até dobrar¨, avalia.
Segundo ela, a incidência maior nos custos de produção é a alimentação. Cerca de 98% da pecuária é desenvolvida a pasto e o rebanho está seguindo cada vez mais para terras com preço mais barato. No Centro-Oeste os 90 dias de inverno e período de seca têm tornado difícil a pecuária de corte e leite. A expressiva queda da qualidade da pastagem e a erosão provocada pela degradação do solo têm provocado o exôdo do rebanho. ¨O gado está sendo conduzido para áreas com clima mais brando, saindo do Cerrado e chegando à Amazônia¨, diz.
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MAIS VENTILAÇÃO
A produção de frangos de corte também tem sido afetada. Há cinco anos um ventilador era suficiente para arejar o interior de um aviário com 3 mil animais. Hoje, para surtir o mesmo efeito, o mesmo aparelho supre um lote de mil aves.
¨Cada vez mais o produtor precisa de investimentos em equipamentos para amenizar os efeitos do calor¨, destaca o veterinário Renato Klu, gerente de Produção da Avícola Paulista, de Amparo (SP), que produz frangos de corte. Além disso, garante ele, para resfriar o ambiente, o sistema é acionado mais cedo e mais vezes.
Entretanto, conforme Klu, só o ventilador tem sido insuficiente para chegar à temperatura ideal para as aves. ¨O impacto disso é o aumento de custos¨, comenta o gerente, lembrando da conta de energia elétrica e água. A Avícola Paulista mantém 1,5 milhão de aves, em regime de integração com granjeiros em Amparo. O município, grande produtor avícola, tem cerca de 5 milhões de aves de corte.
No Sítio Cachoeira, bairro dos Rosas, em uma única instalação são criados 30 mil frangos de corte, abatidos aos 44 dias. O galpão foi montado há seis meses e é o mais moderno do mercado, garante Klu. ¨Sua concepção permite manter a temperatura interior em 18 graus¨, diz.
As laterais da construção são fechadas com cortinas de lona plastificada com duas fases: prateada por fora e escura por dentro. Uma mureta de alvenaria e colunas de ferro dão a sustentação às paredes. A cobertura é de telha. No teto ficam micronebulizadores. Em uma das extremidades do aviário estão os exaustores, que são responsáveis pela troca do ar quente pelo ar frio.
Na outra extremidade fica a parede com tijolo vazado, que é umedecida antes de ligar os exaustores. O sistema é acionado automaticamente quando os sensores acusam o aumento da temperatura interior. O exaustor ¨puxa¨ para fora o ar quente. O custo de instalação de uma estrutura com 150 metros de comprimento por 14 metros de largura foi de R$ 250 mil. Um aviário comum com o mesmo tamanho e com o mínimo de equipamentos custaria em torno de R$ 150 mil, calcula o gerente.