Preço do milho cai, Brasil exporta menos e fará estoques 14/08/2008
- Roberto Samora - Reuters
Os preços do milho no Brasil caíram cerca de 30 por cento em algumas praças nos últimos 30 dias, mas o produto brasileiro continua sem competitividade no mercado internacional, o que indica que o país não conseguirá repetir as exportações de mais de 10 milhões de toneladas realizadas em 2007, disseram corretores.
Com uma safra recorde e o mercado interno acima da paridade de exportação, em meio a um câmbio pouco favorável para vendas externas, é bastante provável que os estoques brasileiros se elevem nos próximos meses, acumulando aquele cereal que poderia ser exportado, acrescentaram as fontes, destacando que isso tem pressionado os preços.
A colheita da primeira safra 2007/08 já foi encerrada, e a da segunda, conhecida como safrinha, está sendo finalizada, o que resultará em uma produção total do país de 58,4 milhões de toneladas --ante 51,3 milhões em 06/07--, para um consumo anual estimado pelo governo em 44,5 milhões de toneladas.
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¨Com certeza, vamos fechar o ano com grandes estoques. Não tem possibilidade de exportar no momento. O milho nos Estados Unidos e na Argentina está muito barato (em relação ao brasileiro). E o mercado interno (no Brasil) paga um preço melhor do que o mercado externo¨, disse um corretor do Paraná, Estado que costuma liderar os embarques do cereal brasileiro.
Segundo o corretor, que pediu para não ser identificado, o mercado interno no Paraná está cerca de 3 reais por saca de 60 kg acima da paridade de exportação, em meio a uma forte demanda da indústria brasileira de carnes neste ano.
¨Não deve mudar a tendência¨, disse ele, lembrando que os pequenos volumes embarcados recentemente foram negociados em uma outra conjuntura.
¨Contratos novos, faz tempo que eu não escuto falar¨, destacou a fonte, lembrando que o milho de Mato Grosso que seria destinado à exportação está indo para as indústrias de aves e suínos do Sul, onde ¨liquida melhor do que para exportação¨.
Entre janeiro e julho, a Secretaria de Comércio Exterior do Brasil registra exportações de 3,3 milhões de toneladas, cerca de 1 milhão a menos em relação ao volume exportado no mesmo período do ano passado. E, nas contas do corretor, 1,7 milhão do total exportado neste ano é milho da safra passada.
¨Pela condição de preços mundiais e com o câmbio de 1,60 reais, o Brasil não é competitivo para botar milho na exportação contra a paridade do mercado doméstico¨, confirmou um trader de uma multinacional, que também pediu anonimato.
Ele ponderou ainda que a oferta maior resultante da queda na exportação não deve ter grande impacto no mercado, uma vez que o país poderá armazenar tranquilamente o produto até, pelo menos, o início da colheita da próxima safra, em 2009.
¨Se passar com 10 milhões de toneladas de estoque de passagem, não acontece nada. Temos capacidade para guardar.¨
INCAPACIDADE LOGÍSTICA
Mesmo que as condições de mercado se alterem totalmente, permitindo exportações, o Brasil não terá capacidade logística de exportar o mesmo volume registrado no ano passado, observou um outro corretor.
¨Uma pessoa me fez uma conta que mostra que teríamos de embarcar até o final do ano um navio de 50 mil toneladas por dia, sem interrupção, para conseguir atingir as 11 milhões de toneladas da Conab. Isso é impossível¨, disse Rodrigo Zobaran, da corretora Pasturas, em São José do Rio Preto (SP).
Consultada, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda manteve a sua estimativa de exportação.
¨Precisamos criar fluxo exportador, num ritmo que, mesmo que não atinja as 10 ou 11 milhões de toneladas que a Conab prevê, se atingir 9 milhões, já fortaleceria os preços, e pelo menos entraria em equilíbrio com o custo de produção¨, disse.
Ele lembrou que seria importante os preços se recuperarem no segundo semestre para diminuir o risco de o produtor plantar menos milho na próxima safra.
Zobaran ressaltou que as cotações caíram mais de 30 por cento em Mato Grosso nos últimos 30 dias. Segundo o corretor, na praça de Campinas (SP), referência do mercado, o milho já caiu em 30 dias 24 por cento, para 23,50 reais a saca de 60 kg.