Pode faltar carne na terra do baby beef 28/08/2008
- Ariel Palacios - O Estado de S.Paulo
A Argentina - terra do baby beef que ficou famosa como a grande exportadora de carne bovina ao longo dos séculos 19 e 20, poderá tornar-se daqui a poucos anos em um país importador do produto.
O alerta sobre essa insólita situação foi feito pela Associação Argentina de Consórcios Regionais de Experimentação Agrícola que considera que, se continuarem as polêmicas políticas atuais de restrição às exportações e de altos tributos para a produção agropecuária aplicadas pelo governo da presidente Cristina Kirchner, os produtores perderão o estímulo. Na seqüência, o estoque diminuirá, as exportações desaparecerão e, em 2012, segundo as estimativas, a Argentina terá de começar a importar carne para abastecer a população.
O cenário é inimaginável para o país que há 100 anos era o maior exportador de carne do mundo, e cujos habitantes são os maiores consumidores per capita do mundo do produto (69 quilos por pessoa anualmente). ¨Ainda existe tempo para evitar isso¨, diz o diretor da associação, Belisário Álvarez de Toledo.
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Segundo a Associação de Consórcios, o custo de produzir carne aumentou 50% desde 2006. Mas, por causa das pressões do governo, que força o congelamento, o preço do bezerro ainda é o mesmo.
Em 2003, o país contava com 53,9 milhões de cabeças de gado. Em 2007, havia aumentado apenas para 55,9 milhões de cabeças de gaso. Analistas do mercado sustentam que o crescimento se estagnou porque, desde 2006, cresceu o número de fêmeas que foram para o abatedouro.
O próprio abate registrou uma queda entre maio de 2007 e o mesmo mês deste ano, passando de 1,19 milhão de cabeças de gado para 1,09 milhão.
A produção de toneladas de carne (sem osso), entre maio do ano passado e o mesmo mês de 2008, caiu de 260 mil toneladas para 229 mil.
Para complicar, por causa da perda de lucratividade para os pecuaristas - e o simultâneo crescente interesse em usar as áreas de pastagens para o plantio da soja - o gado está sendo empurrado para áreas menos ¨nobres¨ do país. Com isso, nos últimos 14 anos, 3,5 milhões de cabeças foram transferidas da região dos Pampas (a área tradicional da criação de gado) para províncias do Norte do país, onde o calor e as pastagens proporcionam uma carne de inferior qualidade. Segundo Toledo, para cada 100 vacas transferidas para essas regiões, o nascimento de bezerros cai em 21%.
As vendas argentinas de carne ao exterior registraram uma queda de 17% em volume no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2007, segundo dados do Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentícia (Senasa).
Em 2005, antes das primeiras restrições impostas pelo governo, o país bateu seu próprio recorde em exportações, ao enviar ao exterior um total de 762 mil toneladas de carne. Mas, de lá para cá, as exportações despencaram.
O Uruguai, que conta com somente 2% do total do estoque de gado da Argentina, em 2007 ultrapassou o país no ranking de exportadores de carne. Entre 2005 e 2008, a Argentina despencou do terceiro posto de exportadores mundiais do produto para a sétima colocação.