Argentina sofre com a pior seca em décadas 02/09/2008
- Max Seitz - BBC
A Argentina, um dos maiores produtores mundiais de grãos e carne, está sofrendo a pior seca em ao menos duas décadas, com perdas nas colheitas e no rebanho e poucas perspectivas de melhora imediata.
A seca afeta boa parte do país, mas principalmente uma faixa que vai do centro-oeste ao nordeste do território argentino, incluindo parte de Buenos Aires e de Santa Fé, duas importantes Províncias agropecuárias.
Nas áreas mais afetadas, o cenário é de vegetação escassa e amarelada, terra seca e vacas magras ou mortas.
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Segundo cálculos preliminares públicos e privados, as perdas com a seca já somam mais de US$ 500 milhões na agricultura e pecuária.
A falta de chuvas diminuiu dramaticamente a área de semeadura de milho e trigo, e reduziu em cerca de 700 mil o número de cabeças de gado, cujo alimento vegetal é escasso ou inexistente por conta da falta de água.
Os pecuaristas estão vendendo o gado rapidamente, antes que os animais morram. Isso implica não apenas na perda de fêmeas para reprodução, o que no futuro poderia ameaçar a produção de carne e leite, mas também diminui o preço do gado no mercado.
Os prejuízos se somam a outros de bilhões de dólares registrados na produção agropecuária durante o conflito entre o campo e o governo, entre março e junho.
Razões
Segundo o Serviço Meteorológico Nacional (SMN), a seca se deve à diminuição das chuvas desde 2007 como conseqüência de uma série de fatores climáticos.
O diretor de operações do SMN, Víctor Jorge Leis, explicou à BBC que uma das causas seria o fenômeno La Niña.
¨O que provoca o La Niña é um resfriamento abaixo da média da temperatura do mar na altura da Linha do Equador. A água, por sua vez, esfria o ar, que por estar cerca de dois graus Celsius abaixo da temperatura normal absorve menos vapor e provoca menos chuvas.¨
¨A isso se soma o fato de o inverno (no sul) ter sido mais seco do que de costume¨, disse Leis. ¨A situação tende a reverter-se, mas não de imediato¨.
Especialistas estão comparando esta seca à que afetou o país entre 1988/1989, mas algumas regiões registraram os níveis de chuva mais baixos das últimas cinco décadas.
¨Desolador¨
Em meio à seca, os agricultores descrevem um panorama ¨desolador¨, tanto do ponto de vista econômico como do ponto de vista ambiental.
Cristian Roca, produtor do sul da Província de Santa Fé, uma das mais afetadas do país, disse à BBC: ¨Aqui a última chuva mais ou menos normal caiu em janeiro. Depois, quase nada.¨
Segundo Roca, o pouco que foi semeado está sendo perdido, e a situação do gado é ¨terrível¨, porque as rações de pasto para alimentar os animais estão acabando.
A situação é ainda mais preocupante em Chaco, no nordeste da Argentina, a Província mais pobre do país e a mais afetada pela seca.
¨O vento está levantando a terra seca. Não podemos semear nada e já quase não temos pasto e água para os animais¨, disse à BBC Alicia Tomaszuk, agricultora da região.
Há pouco mais de uma semana o governo argentino declarou estado de emergência em cinco Províncias agropecuárias afetadas pela seca e anunciou ajuda financeira de quase US$ 4 milhões como paliativo.
Os representantes da Federação Agrária Argentina, que reúne pequenos e médios produtores, valorizaram a ajuda, mas reclamaram que, em alguns casos, ela está demorando, ou não chega.