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Morre Waldick Soriano aos 75 anos no Rio
04/09/2008 - Lauro Lisboa Garcia - O Estado de S.Paulo

Waldick Soriano, um dos maiores ídolos da canção romântica brasileira, morreu nesta quinta-feira, 4, no Rio, aos 75 anos, em conseqüência de câncer de próstata. O cantor e compositor descobriu ser portador da doença em 2006. No início deste mês, seu estado de saúde se agravou, com o câncer já atingindo outras partes do corpo, segundo os médicos. Autor de canções de enorme sucesso nacional a partir dos anos 70, como Paixão de um Homem, A Carta, Tortura de Amor, A Dama de Vermelho e Eu Não Sou Cachorro Não, Waldick recebeu recentemente uma terna homenagem em vida da atriz Patrícia Pillar, que dirigiu e escreveu o roteiro (em parceria com Fausto Nilo e Quito Ribeiro) do documentário Waldick - Sempre no Meu Coração.

Até agora só exibido em festivais, o filme compõe, junto com as canções, um retrato tocante e melancólico do cantor, que teve 14 mulheres ao longo da vida, mas diz que jamais encontrou a felicidade com nenhuma delas. Nos últimos anos, passou a morar sozinho, em Fortaleza, rejeitando o afeto das que se arrastavam de paixão por ele. Uma delas o definiu como ¨muito seco e indiferente consigo mesmo.¨ Em depoimento para o filme, lamentou: ¨Sou famoso, e daí? Me falta tanta coisa... Sei que não vou encontrar ninguém pra dizer: estou contigo.¨

Nascido em Caetité, no sertão da Bahia, Eurípedes Waldick Soriano trabalhou como lavrador, engraxate e garimpeiro antes de tentar a vida artística. ¨Saí de minha terra num caminhão de rapadura. Tinha meu sonho, mas não sabia onde ia parar.¨ Prometeu voltar só se ¨vencesse na vida¨.


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Quando chegou a São Paulo, aos 27 anos, já trazia na mala canções como Ninguém É de Ninguém, Quem És Tu? - sua primeira gravação e com a qual começou a ficar conhecido no início dos anos 60 -, e Tortura de Amor, cuja letra foi vetada pela censura em 1974. Algum gênio do regime militar achou que a referência à tortura era mensagem cifrada de subversivo. Uma vez liberada, a canção, um bolero composto em 1962, da melhor concepção de Waldick, tornou-se grande sucesso na voz do cantor. Depois ganhou releituras nas vozes de Nelson Gonçalves, Fagner, Fafá de Belém, Maria Creuza e o grupo português Clã, entre outros.

Com censura ou não, Waldick se tornou um fenômeno popular nos anos 70, com suas canções tocando nas rádios de todo o País. Até quem torcia o nariz para a música ¨cafona¨ se surpreendia assobiando alguma coisa dele, ou, mesmo que fosse em tom de zombaria, repetindo o bordão ¨eu não sou cachorro, não¨. ¨Antes diziam que era cafona, agora é brega¨, observou Waldick. ¨Eu prefiro dizer que sou romântico.¨ Sua figura inspirada no cowboy cinematográfico Durango Kid virou um clássico: óculos escuros e terno e chapéu pretos.

A saudade sempre serviu de inspiração para várias canções, segundo ele próprio dizia. ¨Toda minha música é alguma coisa de mim¨, comentou no filme de Patrícia Pillar. ¨Se não tenho motivo, não faço música. Às vezes a gente tem de fingir que é feliz. Isso dói, mas a gente acostuma.¨ Mulherengo, aventureiro, boêmio e beberrão, como definiu um velho amigo no documentário, Waldick sofreu com o que mais temia: a solidão.

Um episódio determinante para tanta dor-de-cotovelo, segundo algumas de suas mulheres, foi o fato de ser sido rejeitado pelos pais ainda menino. Seqüestrado pela mãe ainda menino, foi recuperado pelo pai que o entregou para ser criado por outra família. ¨Sei que não vou encontrar ninguém pra dizer: estou contigo. Refratário a relações fraternas - não se dava bem nem com o próprio filho - disse: ¨Meu amigo é meu travesseiro.¨

Em 2002 as atenções voltaram-se de novo para ele com o lançamento do livro Eu Não Sou Cachorro, Não - Música Popular Cafona e Ditadura Militar, do jornalista Paulo César Araújo, cujo título já é uma homenagem a ele. Neste excelente estudo sobre o tema, Waldick e seus similares e contemporâneos são tratados com a dignidade que até então não tinham por parte da elite cultural.

Com um pouco mais de verniz, Waldick também ganhou homenagem no CD coletivo Eu não Sou Cachorro Mesmo, de 2007. Dando tratamento ¨chique¨ ao brega, cantores e bandas da cena indie, como Fino Coletivo, Móveis Coloniais de Acaju, Clube do Balanço, Fernanda Takai, Lula Queiroga e Silvério Pessoa, recriaram sucessos dos anos 70. A faixa de abertura é o clássico Tortura de Amor.

  

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