Bolsa fecha em baixa de 6,74%; ações desabam mais de 15% 17/09/2008
- Epaminondas Neto - Folha Online
A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) já acumula perda de 17,55% no mês, com a sequência de quedas dos últimos dias. A quebra do Lehman Brothers, a compra do Merrill Lynch e os problemas da AIG reforçaram o nervosismo já latente dos investidores com os desdobramentos da crise dos créditos ¨subprimes¨. No sinal mais claro do aumento da aversão ao risco, a taxa de câmbio disparou e surpreendeu os profissionais de mercado ao atingir R$ 1,86 nesta quarta-feira.
O termômetro da Bolsa paulista, o Ibovespa, desvalorizou 6,74% e desceu para os 45.908 pontos. Trata-se da menor pontuação desde 2 de abril de 2007. Em 2008, a baixa acumulada chega a 28,1%. O giro financeiro foi alto, num indicação clara da ¨corrida¨ dos investidores para liquidar os papéis: R$ 7,45 bilhões, muito acima da média do mês (R$ 5,1 bilhões/dia) e do ano (R$ 5,90 bilhões/dia).
Entre as 66 ações que compõem o Ibovespa, nenhuma registrou valorização. No topo das perdas, a ação ordinária da Rossi Residencial desabou 16,62%; a ação preferencial da Brasil Telecomunicações retraiu 14,02%; enquanto a ação da Gol perdeu 13,09%.
PUBLICIDADE
No grupo das ¨blue-chips¨ (os papéis mais movimentados), a ação preferencial da Petrobras retrocedeu 4,05%; e a ação da Vale do Rio Doce sofreu baixa de 7,39%.
O dólar comercial foi cotado a R$ 1,868 na venda, em forte alta de 2,41%. A taxa de risco-país marca 371 pontos, número 9,11% mais alto que a pontuação anterior. ¨Está todo mundo esperando para ver até onde esse preço vai. O exportador, que deveria estar no mercado agora, está de fora. E pelo lado do importador, pelo menos entre aqueles que não se protegeram, também se espera o preço voltar¨, comentou Vanderlei Muniz, da corretora de câmbio Onnix.
O anúncio do empréstimo de US$ 85 bilhões à seguradora AIG animou inicialmente os mercados, favorecendo as Bolsas asiáticas e ajudando na abertura das Bolsas européias. Logo, no entanto, prevaleceu o medo da próxima ¨bola da vez¨ -- a incerteza sobre qual será a próxima instituição financeira a quebrar.
As principais Bolsas européias e americanas amargaram perdas no fechamento, a exemplo de Londres (declínio de 2,25%), Paris (baixa de 2,26%) e Frankfurt (queda de 1,74%). Nos EUA, a mundialmente influente Bolsa de Nova York despencou 4,06%, um declínio visto muito poucas vezes em Wall Street.
¨Não há razão para se pensar que o pior já passou, como os 18 mais recentes meses têm mostrado. Mas há um alívio inegável. E expectativa de mais movimentações no sistema bancário dos EUA, Japão e Europa¨, avaliou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, numa análise inicial dos eventos.
¨É difícil avaliar os movimentos de curtíssimo prazo, mas eu acredito que a Bolsa ainda não chegou ao fundo do poço. Provavelmente, a Bovespa ainda ter alguns momentos eventuais de repique, mas tendência é de baixa nas próximas semanas¨, comenta Marcelo Ribeiro, analista da Pentágono Asset Management.
Ribeiro lembra a forte ligação da Bolsa brasileira com o segmento de commodities (matérias-primas), cujos preços passam por um forte correção após os picos históricos no primeiro semestre. ¨A bolha das commodities estourou. Dessa forma, os preços de todos os ativos que estavam correlacionados com essa bolha tendem a voltar para os patamares de médio prazo¨, afirma. ¨O petróleo, o cobre e o níquel ainda podem cair mais¨, acrescenta.
Lehman, AIG e a ¨bola da vez¨
Os grandes investidores globais já estavam bastante sensíveis a risco nas últimas semanas, mas essa aversão ganhou novos patamares com a quebra do Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos dos EUA. O desastre do Lehman acentuou a expectativa pela próxima ¨bola da vez¨. Nesse sentido, a seguradora AIG passou o ocupar a posição central entre as preocupações do setor financeiro.
A iniciativa de socorro do Federal Reserve (Fed, banco central americano) teve o efeito de propiciar algum alívio ao mercado financeiro, mas ao mesmo tempo, também despertou temores de que mais episódios como os do banco Lehman ainda possam ocorrer.
O mercado tem uma lista de motivos para temer o pior. Em pouco mais de uma semana, o governo dos EUA também preparou uma ajuda de até US$ 200 bilhões para as gigantes hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, e o Merrill Lynch, outro importante banco de investimentos, foi vendido ao Bank of America, por US$ 50 bilhões. Na Europa, o banco britânico de hipotecas HBOS enfrenta a possibilidade de quebra.
Toda essa crise eleva a níveis altíssimos o temor sobre a falta de liquidez no mercado, ou seja, falta de dinheiro para emprestar, o que leva a menos dinheiro em circulação.
Sobre isso, o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou hoje que o governo pode adotar medidas para estimular o crédito para investimento caso haja um agravamento da crise financeira nos EUA que prejudique a captação empresas brasileiras.
Hoje, também afetou o ânimo do investidor nos EUA a queda de mais de 6% na atividade de construção residencial de julho para agosto, dado recebido como sinal de que não há solução à vista para os problemas econômicos do país. Entre agosto deste ano e o mesmo mês do ano passado, a queda supera os 33%.